A EMIGRAÇÃO PORTUGUESA E A IMPORTÂNCIA DE UMA COMUNICAÇÃO SOCIAL EFICIENTE

A EMIGRAÇÃO PORTUGUESA E A IMPORTÂNCIA DE UMA COMUNICAÇÃO SOCIAL EFICIENTE

Ao nos determos sobre a importância das comunidades portuguesas existentes no estrangeiro, certamente que acabamos por nos surpreender pelo facto de estarmos tão mal informados quanto à sua dimensão, quanto às suas actividades e quanto ao nível de desenvolvimento que as mesmas conseguiam alcançar, sendo exemplos de patriotismo surpreendente, apesar desse inestimável valor ser desconhecido da maioria dos portugueses, ao mesmo tempo que se verifica que os governos não têm sabido reconhecer, através de medidas adequadas, esse enorme património cívico, cultural, linguístico e económico, desperdiçando-se uma potencialidade que poderia alterar de forma significativa a nossa forma de estar no mundo.

Somos, segundo dados hipotéticos (visto que os números oficiais quanto ao quantitativo da nossa emigração não são confiáveis), cerca de 4.500.000 cidadãos, espalhados por todos os continentes, carentes de um reconhecimento adequado da nossa importância, necessitando, para tanto, de passarmos a dispor de uma maior atenção e espaço na imprensa portuguesa, permitindo, ao povo português, um acesso às nossas iniciativas e acções comunitárias, às nossas actividades económicas, culturais e filantrópicas e ao conhecimento do nosso civismo, bem como de uma comunicação social a partir dessas mesmas comunidades, ajudando na formação de uma nova e desejada imagem do que é o emigrante português, bem diferenciada daquela que o povo português se acostumou a conhecer.

Precisamos que os nossos jornais diários e semanários passem a abordar com mais interesse tais temas, abstendo-se de somente falarem da nossa emigração quanto acontece uma desgraça, como um assassinato, uma enchente ou qualquer outro acidente de grandes proporções, reportando-se também às actividades cívico-culturais e empreendimentos associativos e empresariais que emanam dessas mesmas comunidades. Precisamos de informações televisivas com imagens e notícias geradas nos próprios núcleos de emigração portuguesa. Precisamos que as revistas informativas e especializadas, bem como as emissoras de rádio, passem a descobrir a diáspora, reconhecendo que um terço da nossa população vive no estrangeiro e, portanto, merece e carece de um espaço maior na informação social.

Entendemos, também, que as nossas comunidades precisam estar mais e melhores informadas sobre o que se passa em Portugal, como forma de se sentirem mais próximas da pátria e de seus interesses. No momento, tal função vem sendo desempenhada, a partir de Portugal, basicamente pelos semanários O Emigrante/Mundo Português e O Lusitano, pela revista Portugal, pela RDP-Internacional, pela RTP-Internacional e pela SIC-Internacional, além da importante participação sectorial da imprensa regional, que atinge, de forma particular, várias parcelas da nossa emigração. No entanto, é fundamental que tal função seja também desenvolvida pelos inúmeros jornais e revistas editados nas próprias comunidades, pelos programas radiofónicos diários ou semanários, por programas de televisão de qualidade, enfim, por meios que façam chegar as informações sobre Portugal e sobre os portugueses a esses irmãos que carecem mais do que os que vivem em território português dessas informações. Para isso é fundamental o estabelecimento de uma política voltada para o alcance desses objectivos, na qual estejam inseridos apoios ao desempenho dessa funções, a facilitação aos meios de informação e eliminadas algumas das sérias dificuldades encontradas para o seu funcionamento, que vem sendo possível através do esforço pessoal de seus responsáveis, do seu patriotismo e até da sua "carolice".

Precisamos ampliar esse campo informativo disponibilizado às nossas comunidades, que não pode ficar dependente do apoio de alguns poucos emigrantes que ainda acreditam na sua actuação ou no seu aperfeiçoamento, dando-lhe a dimensão que merece e necessita possuir.

Faço votos de que as novas orientações postas em prática pelo Governo sejam um marco de uma nova política para a comunicação social das comunidades portuguesas emigrantes e que nos tragam os fluidos positivos necessários para orientar, de forma positiva, todos aqueles que detém responsabilidades no processo de disseminação das informações para os nossos emigrantes.

EDUARDO NEVES MOREIRA

Ex-Deputado pela Emigração na Assembleia da República

Presidente do Elos Clube do Rio de Janeiro

Vice-Presidente da Academia Luso-Brasileira de Letras

Eduardo Neves Moreira
Enviado por Eduardo Neves Moreira em 07/02/2006
Código do texto: T109085