Aids desafia saúde africana

Governos e ONG’s do mundo inteiro continuam promovendo  eventos para arrecadarem fundos ao tratamento e à busca de uma possível cura para a Aids. Paralelamente, órgãos de saúde tentam chamar a atenção dos jovens para os perigos reais desta doença e conscientizá-los de que, em caso de relação sexual, a única proteção contra o vírus mortal é o preservativo.

A Aids alastra-se,de forma desenfreada, por todos os continentes e há quem diga que, dentro de 10 anos, haverá um caso por família, o que, a princípio, poderia ser considerada uma epidemia.

A cura da Sida - como a Aids é conhecida nos meios acadêmicos latino-americanos, é aguardada para a nova década, mas há cientistas reticentes quanto à presente informação, por considerá-la uma utopia social, com base na esperança,  não na realidade. Enquanto rivalidades originam-se na célula-mãe da comunidade científica, continentes, como o africano, vêem-se à mercê do caos, com número de infectados maior do que os governos podem tratar.

Em Moçambique, um dos países africanos mais pobres do mundo, não há médicos, enfermeiros e remédios, em números suficientes, para tratarem os soropositivos. A verba destinada pelo governo local a esta finalidade perde-se, em grande parte, no meio do caminho, em corrupções escandalosas. Por causa disso, idéias propagadas por pajés, os líderes espirituais das tribos africanas, tomam corpo e sinalizam à comunidade internacional, sem qualquer maquiagem, os motivos que fizeram da África milenar, o continente mais devastado pelo HIV no mundo.

Para se ter uma idéia, como denunciou há um mês o Jornal da Globo, pajés propalam que a cura da Aids consiste da realização do ato sexual do infectado com uma virgem. Isso mesmo! Ao transar com uma virgem, o aidético, segundo alas da crença africana, estará curado.

O procedimento é cercado de dogmas espiritualistas, que reverenciam a iniciativa como se a mesma fosse válida. E o mais estranho é que os países desenvolvidos, diante de propostas absurdas como esta, que instigam a previsível catástrofe do novo milênio - a contaminação total ou quase total da África, nada fazem... Preferem manter os discursos teóricos e solidários a investirem o dinheiro que acumulam - às custas da exploração alheia - em programas educativos e de tratamento, realmente eficazes, capazes de frear a contaminação e permitir um último suspiro de dignidade aos soropositivos.

E o que mais causa estranheza é a passividade da ONU - Organização das Nações Unidas ante ao pesadelo vivido pelas famílias do continente "negro"...

Ao invés dos países ficarem apenas debatendo a manutenção da invasão ao Iraque ou a outros países árabes, deveriam estar a postos, prontos para enfrentarem os respectivos problemas, com a coragem e a vontade que o caso requer, afinal, a vida humana é o bem de maior preciosidade e todos os sacrifícios são necessários para preservá-la...