MITOS E VERDADES

MITOS E VERDADES

O povo do interior tem muito o que contar para quem nasceu em grandes capitais, principalmente se as coisas aconteceram quando criança. Daí, a fantasia aumenta. Os sonhos são maiores que a realidade.

Um rosto no porão: Você já pegou um caco de espelho refletindo a luz do sol na sombra de um porão? Pois faça isso e desvendará, no escuro, todos os tipos de abantesmas possíveis.

Certa ocasião tive a oportunidade de iluminar a viga de madeira do porão de um casarão que estava cheia de “orelhas de pau”. Esses fungos formados pela umidade, sugerem, no reflexo do espelho, imagens dantescas, como rostos de todas as formas imagináveis.

Desenho nas nuvens: Quando o céu estiver carregado de nuvens e o tempo estiver para relâmpagos, pare um pouco no parapeito de sua janela. Observe atentamente os contornos das nuvens que se alteram de acordo com a erosão do vento.

Nelas você verá rostos deformados, animais e outros desenhos exagerados, conforme a sua imaginação.

Viajando com as estrelas: À noite, observe calmamente o céu estrelado. Conseguirá descobrir o brilho, as cores, a pulsatividade e a viagem de uma delas tal qual um cometa.

Quando isto acontecer, não conte a ninguém. Faça um pedido particular. Dizem que dá certo desde que não prejudique o próximo ...

Fogo-fátuo: Observei, também, no interior, o já falado fogo-fátuo, uma bola acesa que fica volitando no ar nas noites sem brisa. Dizem ser a inflamação de gases expelidos pelo fósforo dos ossos de pessoas e de animais enterrados.

O fantástico de tudo isto é a beleza visual. Ora desce rasteiramente, ora sobe rapidamente até à copa de uma árvore e de repente se apaga pelo próprio consumo de sua combustão.

Pés nas brasas: Na noite de São João fiz uma experiência fantástica com meus colegas de infância. Não sei se hoje seriamos capazes de repeti-la.

Quando deu meia-noite, espalhamos as brasas da fogueira, concentramo-nos com muita fé, dizendo três vezes:

“Viva meu senhor São João”

“Viva meu senhor São João”

“Viva meu senhor São João”

Depois, pisamos descalços sobre as brasas ardentes.

A única sensação que tivemos foi a de estar pisando em pedras pontiagudas...

Coisas da fé... experimente, mas lembre-se... com muita fé!

Bibelôs, Espíritos e Pêndulos: Dizem também que os bibelôs de elefantes de porcelana devem ficar de costas para as janelas da rua para atrair riquezas; que o “Buda”, filósofo oriental só atrai felicidade para dentro de casa se sua estatueta for presenteada.

Fiz experiências positivas com o copo de cristal deslizando sobre o alfabeto onde são codificadas as respostas dadas pela “interferência” de espíritos comunicantes.

Temos também o adestramento do Pêndulo, uma esfera de madeira suspensa num cordel fino de pescaria. Através de seus movimentos rotativos ora para a esquerda, ora para a direita, ou seja: negativo (não) ou positivo (sim), ele chega até a localizar objetos perdidos.

Morcegos e Sacis: Sabe como se caça Morcegos? Muito simples: Pegue uma vara de bambu fina e tamanho médio. Vá para o quintal em noite clara e agite-a de tal maneira até provocar um zumbido. Os lendários animais serão atraídos pelo som levando uma chibatada até caírem desacordados.

Sabe como se caça Sacis ? Bom... isto já é bem mais complicado levando-se em conta que o assobio do perneta pode ser fatal para os nossos tímpanos...

Misticismo e Materialidade: Toquei nestes assuntos para desligar o leitor, um pouquinho, em leves pinceladas, da vida sedentária de hoje. É bom ser uma espécie místico-materialista. Afinal, os animais que ainda se classificam como seres movidos pelo instinto, desenvolvem fenômenos extrasensoriais em grande escala enquanto que nós, chamados homens racionais, intuitivos, vivemos a maior parte do tempo afundados nos precipícios de uma efêmera materialidade.

É preciso abrir os olhos para “extrapolar” nossos horizontes. Buscar, nas aventurazinhas e nos sonhos, a concretização das nossas realidades.

Tempo perdido ?

Não !

A felicidade é como um punhado de doces. Se demorarmos a abocanhá-lo as formigas e outros insetos daninhos serão os únicos a provar desse néctar.

Voltarei com outras tesezinhas...

Do Livro "Travessias" de Júlio Sampietro

Júlio Sampietro
Enviado por Júlio Sampietro em 09/02/2006
Código do texto: T109808