Quem Conhece Rosa Montero?

 

      Conheci Rosa Montero em 2006, na livraria da minha amiga Nely. Estava lá, como sempre faço, conversando e folheando os livros quando me deparei com a História do Rei Transparente nas mãos. Como quem não quer nada e não querendo mesmo já que achei ser um livro infantil, comecei a ler o primeiro parágrafo: Sou mulher e escrevo. Sou plebéia e sei ler. Nasci serva e sou livre. Fiz coisas maravilhosas em minha vida. Durante algum tempo a vida foi um milagre. Depois a escuridão voltou. O impacto foi tão grande que fechei o livro imediatamente e sem mesmo perguntar o preço disse: vou levar, anota aí na minha conta. Nem mesmo deixei que embrulhassem, corri para casa e comecei a ler sofregamente. Foi um dos melhores livros que já li. Inesquecível. Desde então Rosa Montero entrou em minha vida e não quer mais sair. Nem eu quero que saia.

      Nascida em Madri em 1951, estudou Filosofia, participou de grupos de teatro de vanguarda e escreveu para os principais jornais espanhóis. Hoje é colunista exclusiva de El País.Publicou seu primeiro livro em 1979 e já recebeu uma infinidade de prêmios.

      Pouco depois, ainda na livraria da Nely, avistei de longe um livro que me chamou a atenção: em tons pálidos a capa mostrava um grupo de crianças assentadas e uma de pé, uma menininha de rosa choque. Ao prestar mais atenção vi que a exceção da menininha de rosa e de um adulto de pé, junto a eles, todos eram anões. Só então vi o título do livro: A louca da casa, Rosa Montero. Meu coração acelerou como se eu estivesse revendo alguém muito importante em minha vida. A rotina tinha continuidade: peguei o livro, disse anota aí Nely e fui correndo para casa.

      Inspirada em uma frase de Santa Teresa de Jesus, “a imaginação é a louca da casa”, Rosa escreveu um livro que até hoje não descobri se é um romance, um ensaio ou uma autobiografia. Só sei que é fascinante, daqueles que lemos sem parar. E quando acabamos temos aquela sensação de perda ou de quero mais. Vejam como ela começa: Estou acostumada a organizar as lembranças da minha vida em torno de um rol de namorados e de livros. Os diversos relacionamentos que tive e as obras que publiquei são as referências que marcam a minha memória, transformando o ruído informe do tempo em uma coisa ordenada. Não dava para deixar de ler.

     Ainda em 2006 comprei PAIXÕES onde ela reuniu algumas histórias reais de apaixonados que passaram para a História: o leque é variado e os casais nem sempre do sexo oposto. A paixão não escolhe o sexo para tomar conta da vida. Os textos, publicados na edição dominical do El País depois foram reunidos neste livro. A própria autora adverte que os textos não são trabalhos frios e acadêmicos, embora documentados. Com sua sensibilidade, mas sem deixar de lado a seriedade, Rosa solta a louca da casa e a atrai como parceira.

      Ano passado comprei A filha do Canibal. Vejam como ela começa. (já devem ter percebido que sou viciada em primeiros parágrafos.São eles que me vendem os livros). A maior revelação que eu tive em minha vida começou pela contemplação da porta de vaivém de um mictório. Já observei que a realidade tende a se manifestar desse jeito, insensata, inconcebível e paradoxal, de modo que, com frequência, do grosseiro nasce o sublime, do horror, a beleza; e do transcendental, a mais completa idiotice.

     Há poucos dias, comprei HISTÓRIAS  DE MULHERES. Por ele quebrei uma promessa feita a São Sovina: eu não compraria nenhum livro este ano, me obrigando a ler os já adquiridos. Não resisti. Ainda estou lendo e tão fascinada que certamente dedicarei um texto inteiro a ele.