O Resgate das Árvores

É por isso que eu amo Deus. Uma amiga querida me disse que gosta de tudo o que escrevo, mas que gosta menos dos textos evangélicos. Fui tentada a lhe dizer que eu nunca escrevi textos evangélicos. Escrevo a minha vida com Deus, e essa vida tem um enredo que anuncia o Evangelho. Viu como é diferente, amada? E não tenho como me furtar a isso. Quer ver? Assunta só o que aconteceu comigo hoje, pela manhã.

Postei aqui o meu primeiro texto e fui para a academia. Já disse a vocês que tenho o privilégio de ter uma academia na frente de casa? Pois é, tenho. Enquanto estava lá, fiz uma comunicação relâmpago com Deus. Disse a Ele que me perdoasse por não ter tido tempo de orar e ler formalmente a sua Palavra, mas que acreditava que, mesmo assim, Ele ainda poderia me usar, nesta manhã, para ser um instrumento dEle na terra. E fiquei esperando. Porque quando a gente ora, Deus responde.

De repente, do nada, resolvi encerrar os meus exercícios e voltar para casa, mais cedo. Fui tomada por um sentimento de urgência e obedeci.

Na frente de casa, do outro lado da rua, a surpresa: um homem com uma moto-serra, pronto para derrubar duas árvores de 20 anos de idade. Árvores que foram plantadas pelo meu marido, que arborizou todo o nosso quarteirão, num tempo em que não se tinha consciência ambiental. Será que agora se tem?

A primeira reação foi achar que a árvore, embora tão linda estivesse doente. Não estava. O homem da moto serra me explicou candidamente que as árvores seriam sacrificadas porque as folhas sujavam muito a piscina da casa. Fui tomada por uma sensação de incredulidade perplexa, mas me recuperei rapidamente. Precisava agir. Não pensei na vizinha.

Penso agora, com certa angústia: Vizinha amada, perdoe-me. Ache-me excêntrica, louca, perturbada, brinde-me com qualquer sentimento, menos com a mágoa. Temos uma relação tão pacífica e você sempre me foi solidária nas horas amargas. Mas entre você, um filho, um neto, qualquer outra pessoa que tivesse a intenção de derrubar as árvores do planeta terra por um motivo vil, eu ficaria do lado das árvores e do planeta terra. Eu ficaria do lado de tudo que tem vida e sofre nas mãos dos seres chamados inteligentes, seja ele bicho ou árvore.

Minha reação foi muito rápida. Trêmula, como se a vida da árvore me fosse minha própria vida, eu disse para o homem da moto serra: ainda que seja preciso subir no último galho dessa árvore, ela não será sacrificada. Então, ele me apontou uma arvorezinha mirrada que havia sido plantada para substituir a outra, conforme a legislação. Não aceitei. Muitos verões terão que vir para que aquela arvorezinha possa fazer a sombra que a outra nos faz. A vida que ela nos traz. O oxigênio que ela nos devolve. O sonho que ela alimenta.

Agi rapidamente: liguei para o departamento municipal do meio ambiente - que funciona!- e o João Paulo veio rapidamente. João Paulo, meu filho, muito obrigada! Vi logo que você, com seus olhos verdes tão profundos, tinha tudo a ver com o verde clorofila da vida. Obrigada pelo pronto atendimento como autoridade, e como ser humano sensível que você é.

Depois disso, fiquei assim como estou agora: emocionada com as minhas árvores. São minhas! Triste com a humanidade: É minha também. Preocupada com as possíveis sequelas que possam restar no campo tão minado das relações humanas: que remédio?

Assumo a minha culpa por ser assim tão socialmente equivocada, no terreno puramente pragmático das relações sociais. Assumo a minha culpa por existir dessa maneira exótica, protegendo bichos, abraçando árvores, rolando de cada declive e me levantando, sempre um pouco envergonhada, sempre mais solitária, cada vez mais excluida, portadora da síndrome dos atos apaixonados, num mundo sem grandes paixões.