OS BORDÉIS NA VIDA E NAS ARTES

Já não existe bordéis como antigamente? Os saudosistas afirmam que não. Eram luxuosos, acolhedores, dirigidos por madames afáveis e maternais, muitas delas devoradoras da fortuna dos freqüentadores.

Os bordéis eram uma espécie de prolongamento do lar, onde gravitavam pais de famílias, boêmios, poétas, artistas, escritores, políticos e tantos outros.

O bordel tradicional, com mulheres sentadas na sala, à espera do freguês, vigiadas pelo olho clínico da cafetina é coisa rara. A liberação sexual da mulher impôs o declínio destes templos do sexo. Em seu lugar surgiram os motéis, as casas de massagem e alguns hotéis de alta rotatividade.

Na Paris dos séculos XVII, XVIII e XIX, tornaram-se famosas as "sacerdotisas de vênus". Algumas, graças ao seu ofício, entraram para a história como a polêmica La Paris, cuja casa era frequentada por Voltaire. Outras lembradas ainda hoje foram La Montigny, La Macè, La Goudan chamada de La petite contesse (condessinha) que deixaria para a história uma correspondência escandalosa sobre os importantes e famosos da velha Paris. Outras, também muito famosas, eram a La Catiche e La Drepont.

No Brasil, guardadas as devidas proporções, também tivemos as nossas "sacerdotisas de Vênus" que faziam parte do harém voluptoso da Pensão Richard, célebre bordel localizado na Rua Senador Dantas, que tinha categoria de nobreza, devido à alta tarifa que cobrava. Também conhecidas e confortáveis eram as casas da Tina Tati, na Rua Augusto Severo, a da Jaenne na Rua Silveira martins e Ermelinda da Rua Carlos de Carvalho.

Na Rua Mena Barreto existia a casa da famosa Madame France cujo elenco de lindas mulheres tinha a belíssima Pierrô que teve misterioso desaparecimento nunca desvendado. Havia tambem a Janinne da Rua Cândido Mendes, a Dulce da esquina da Silva Jardim com Rua da Lapa, a Elisa na Ladeira da Glória n.5 que mais tarde transferiu-se para a Rua Bento Lisboa.

As casas da Rua Alice são mais recentes e, até bem pouco tempo ainda teimavam em funcionar nos moldes dos anos dourados dos bordéis.

Muitas Madames e Cortesãs fizeram fortunas que ainda hoje são desfrutadas por seus herdeiros.

No dicionário erótico de Pierre Guiraud há 70 verbetes para designar o termo bordel e 398 para prostituta. No Brasil a variedade também é grande: Bordel, protíbulo, convertilho, alcouve, serralho, pensão, ren-dez-vouz, puteiro.

Por mais estranho que possa parecer, os bordéis eram lugares considerados de muito respeito. Freqüentados por importantes chefes de família que faziam do seu local preferido uma espécie de prolongamento do lar burguês. Ali estes senhores iam encontrar-se com as respeitosas sartreanas, sem infringir a lei e a moral dos bons costumes da conservadora época.

Não é de se estranhar que os bordéis tenham servido de inspiração para escritores, poetas e artistas que os frequentavam.

Alguns pintores, desenhistas e caricaturistas reproduziram muitas cenas da vida do bordel. Os mais conhecidos são, sem dúvida, Toulouse Lautrec e Degas. Temos também o Constantin Guys, chamado por Baudelaire de "o pintor da vida moderna". Picasso usou o tema numa de suas obras mais famosas, as "Demoiselles d'Avignon", que já foi reproduzida milhares de vezes. Um dos mais fascinados pelo assunto foi o pintor Pascin e Picart Le Doux que pintava também os pobres meritrícios dos portos.

Toulose Lautrec e Degas pareciam divertir-se com a forma de viver de suas modelos, bem como a vida e atitude canália dos seus fregueses.

O tema seduziu muitos escritores e poetas. Benjamim Constallat focalizou o tema em seu romance "Depois da Meia Noite". Também o escritor acadêmico Orígenes Lessa com "A Noite sem Homem", cuja trama se passa num lupanar à beira da estrada, conhecido como Quilô (quilômetro seis). O romance "Dona Anja" de Josué Guimarães, onde o autor descreve uma famosa personagem que após árdega vivência matrimonial, ao enviuvar transforma sua casa num prostíbulo frequentado pelo prefeito, vereadores, professores, delegado e muitas outras autoridades acima de qualquer suspeita. Os romances, cujo tema era muito escandaloso para a época, ruborizavam a face dos mais putianos.

Atualmente, apesar de condenada pela religião e perseguida pelos governos, a venda de sexo é uma atividade com enorme capacidade de sobrevivência. Alguns países tentam reprimir, mas a tendência é legalizar a prostituição. Na Alemanha, Austrália e Nova Zelândia ja foi legalizada. Nestes países bordéis tem de ter licença para funcionar como outro comércio qualquer. A idade mínima exigida é de 18 anos. Na Holanda e na Austrália só é permitida fora de áreas residenciais.

No Brasil, como sempre, impera a hipocrisia. No Rio de Janeiro muitos apartamentos, principalmente no centro da cidade e em Copacabana, são utilizados para encontros chamados clandestinos. O princípio é sempre o mesmo: A dona do imóvel (cafetina) recruta as "meninas" e divulga seu trabalho em anúncios de jornais. As mais organizadas tem até book e agentes que procuram os interessados. Hoje a internete é o grande instrumento para a busca de clientes. Muitas possuem ótimos sites com fotos em várias posições e até descrição das especialidades de cada "menina".

A falta de lagalização dificulta o controle do Estado e isto traz insegurança e muito sofrimento tanto para as profissionais do sexo como para jóvens sonhadoras e indefesas. Muitas garotas lindas migram do interior do Brasil para as grandes cidades em busca de um espaço no mercado de publicidade, desfiles, teatro, cinema e, pela falta de dinheiro para se manterem, acabam vítimas das tais agenciadoras ou das casas de massagens. É um problema social, cultural e de saúde que precisa de uma urgente solução.

Nicéas Romeo Zanchett

http://www.artmajeur.com/niceasromeozanchett -website oficial.

Romeo
Enviado por Romeo em 04/08/2008
Reeditado em 05/08/2008
Código do texto: T1112799