QUANDO A MÁQUINA FALHA.

QUANDO A MÁQUINA FALHA.

Ana Maria Ribas Bernardelli.

Escrevo sob emoção, e uma certa urgência. Tenho amigos que estão doentes, gravemente doentes. Alguns, em estágio inicial, outros em estágio intermediário, e outros em estado grave. Amigos com os quais convivo e outros, mais distantes, que acompanho, mesmo de longe. Aqui e ali, as pessoas são acometidas por enfermidades sérias que podem lhes custar a vida. Faz parte da natureza humana que a máquina possa apresentar falhas, e essas falhas requerem ajustes e adaptações. Todos os doentes, sem exceção, precisam do acompanhamento de profissionais especializados e normalmente, tão logo recebem a notícia, é isso o que fazem. Fazem o que devem fazer: procurar ajuda médica.

Mas há alguns cuidados que não dependem do médico, mas de cada paciente. Coisas que devem ser feitas com a mesma fidelidade com que se segue a prescrição do medicamento, as sessões de quimioterapia, as hemodiálises.

O diagnóstico de uma doença, qualquer que seja ela, crônica ou aguda, grave ou menos grave, desde que não seja congênita, mas adquirida, merece de nós uma reflexão paralela.

Em algum lugar do tempo, o corpo emitiu sinais que não ouvimos. Mas passado é passado. E essa reflexão é urgente porque é para hoje, é para agora, e terá reflexos no futuro imediato.

A primeira reflexão deve ser sobre a alimentação. Não importa o que se comeu no passado, e nem mesmo o sabor que se aprendeu a gostar. Daqui para frente é preciso renunciar aos sabores adquiridos e aprender a alimentar-se não somente com as papilas gustativas, mas com a inteligência. Será preciso dizer: dane-se sabor, eu preciso comer todos os tons de verde, de laranja, de amarelo, de vermelho, de branco, e de roxo. Alimentos naturais e livres de conservantes. Daqueles que jogamos dentro de uma centrífuga potente, misturamos tudo e engolimos como um elixir de vida. Será preciso dizer: meu corpo necessita de grãos integrais, e não desvitalizados. De pão preto, e não de pão branco; de arroz escuro, e não de arroz branquinho.

É hora de ler livros que tratem sobre o assunto. E levá-los a sério porque, se até aqui essa história de comida natural nos pareceu coisa da turma do verde, é bom conferir se os conceitos que aprendemos, seguindo o fluxo da multidão, não nos fizeram enfermar.

E para conferir, é só olhar em volta: O mundo está doente: há uma população obesa, e boa parte dela já deve estar com gordura infiltrada nos órgãos mais importantes do corpo. Tudo por culpa de uma alimentação equivocada e um estilo de vida sedentário. Uma coisa puxa a outra. Como diz a nossa Bíblia: "um abismo chama outro abismo." Sempre. Portanto, não é hora de brincar. É hora de investigar. O médico faz a parte dele, você tem que fazer a sua.

Não adianta muito correr todas os sites da internet, atrás de assuntos científicos sobre o tema. Cientista é o seu médico. Mas adianta muito, aprender como viver uma vida livre de conservantes químicos e outros venenos mais: adoçantes, refrigerantes, carnes vermelhas, embutidos, açúcar, gorduras animais, gorduras trans, frituras. Todas essas coisas precisam ser diminuidas ao mínimo possível, enquanto se tem saúde, e completamente abolidas quando se a perdeu.

Você precisa ingerir alimentos que o ajudem a combater a doença, a reencontrar o equilíbrio entre a acidez e a alcalinidade que existe no sangue, e que são determinadas por aquilo que se come. Quase tudo o que é gostoso é alimento ácido, já vou adiantando. E as doenças só prosperam em meios ácidos. Essa informação nem todo médico tem, ocupados que estão em combater doenças já instaladas. Sem contar que a medicina natural não conta com a simpatia dos tais que, muito provavelmente, se forem questionadados sobre o assunto responderão: "mal não vai fazer." Mas eu lhes afirmo por experiência própria: "bem lhes fará."

Sobre isso, você pode pesquisar na internet: "alimentos ácidos e alimentos alcalinos". Aprender o que isso significa, aprender a distinguir uns dos outros, e dessa forma obter ânimo para colocar em prática uma alimentação saudável. Que vai ajudar a combater a doença, quando instalada, e a evitá-la antes que se instale.

A segunda reflexão é sobre o estilo de vida. Os animais quando ficam doentes, baixam a cauda, e procuram, quietamente, um lugar para descansar. Eles não latem suas "latitudes" de falsa alegria: eles são autênticos. Estão doentes e assumem a doença. E em assumindo a doença, estão nos dizendo: eu quero me curar. Se você oferecer carne a um cachorro doente, ele não aceitará. E nem precisa ser doença grave. Uma gastrenterite já o faz dispensar a carne e preferir grama. Sim, o cão quando doente, faz jejum de coisas boas, mas come grama. A grama contém os sais minerais que ele precisa para repor o equilíbrio e se manter minimamente alimentado até que o corpo se restabeleça.

Mas não quero que ninguém saia por aí comendo grama. A inspiração que busco no cão é o repouso. Repouso em tempo de doença é prioridade. Admitir que se está doente, vem antes de escolher repousar. Há pessoas que quando recebem um diagnóstico desses, por um mecanismo de fuga, voltam a trabalhar em dobro. Na saida do hospital já anunciam o quanto estão bem, e quão breve devem retomar as suas atividades. Tancredo Neves foi assim, Mário Covas foi assim, nosso vice-presidente é assim, alguns de meus amigos são assim. Muitos de nós somos assim. Enfiamos a cabeça no trabalho para tentar esquecer o inesquecível.

Eu ouso dizer, embaixo do sangue de Jesus, que não deveria ser assim. Deveríamos ter a sabedoria dos cães e dos gatos, que baixam a cauda e procuram a solidão tão necessária. Solidão não é isolamento, é recolhimento. É escolher ter ao lado de si apenas as pessoas do círculo familiar e pessoal. É desacelerar. É dar um tempo. Dar um tempo para que o corpo e a mente, em uníssono, alcancem a harmonia tão necessária. É pensar antes em si do que nos outros, para depois pensar nos outros antes que em si.

Esse é o momento de priorizar a própria vida. Dane-se o resto do mundo. O resto do mundo vai continuar, se você deixar de existir. Mas se continuar existindo, que seja com uma consciência mais ampliada. E com mais amor pelo tabernáculo terrestre que Deus lhe deu.

A terceira reflexão é de ordem espiritual. Não basta entregar a causa ao médico, por mais gabaritado que ele seja. Não basta mudar radicalmente a alimentação. Não basta priorizar a própria vida. É preciso aprender o que é vida.

Vida não é um estado de consciência que lhe coloca na posição de poder agir e reagir com o mundo à sua volta. O contrário desse tipo de vida é morte física. Vida não é apenas isso. Vida é aquela que se obtém quando se recebe o Senhor Jesus para dentro de si. O contrário dessa vida é morte espiritual. Essa é a vida inerente, uma vida que não depende da vida biológica, e que nos transporta do reino das trevas para o reino da luz. A vida inerente vence a morte para sempre. O equivalente a essa vida é ressurreição. O poder de ressurreição que há nessa vida começa a valer por aqui mesmo e também pode trazer cura para um corpo doente. Ou não. A prioridade de Deus é sempre a vida inerente e não a vida biológica.

No livro de Isaias no capítulo 38, ficou registrado para nosso ensino e meditação, a história do rei Ezequias. Ezequias estava doente, e orou ao Senhor Deus, com o rosto voltado para a parede. Ele não apenas orou, ele suplicou e implorou, para que Deus lhe concedesse mais alguns anos de vida. E Deus lhe concedeu mais 15 anos.Parece pouco? Não, para quem já tinha a sentença de morte iminente.

Essa sentença temos todos. Um dia de cada vez, é a nossa eterna medida de vida.

Ezequias voltou o rosto para a parede e orou. Para onde os homens enfermos têm voltado os seus rostos, depois que cumprem todo o seu périplo aos consultórios médicos profissionais? Para o Palácio do Governo? Para as agendas públicas? Para os encontros de negócios? Para as fazendas de gado? Para os cursos de especializações? Até quando? Até que não haja mais jeito?

Quando não houver mais jeito, talvez se lembrem desse último jeito. Um jeito simples e tão acessível: virar o rosto para a parede e orar como Ezequias orou.

Talvez Deus atenda. Ou não. Deus é soberano. Mas o último recurso não deveria ser Deus. Deus, deveria ser o primeiro recurso, tanto na saúde, quanto na doença. Para Ezequias, ele foi o último recurso, e ainda assim, Deus o curou.

Temos Deus, temos a parede, temos a fé. Deus repartiu com cada um de nós uma medida de fé: um grão de mostarda serve. Não precisamos ir a Jerusalém, em busca da muralha do templo: a parede do nosso quarto é boa o suficiente. Não precisamos buscar a Deus no céu, ou no abismo: Sua presença enche a terra e está em todo lugar!

O que nos falta?