MÃE QUE É MÃE...

Gosto de homenagens em vida.

A todos fazem bem as expansões de afeto, o saber o quanto são queridos, e o tanto que é válida a sua presença no mundo, e como são apreciadas as suas realizações.

Homenagens em vida – simples, descomplicadas, sinceras – surtem o mesmo efeito do abraço estreito entre amigos e amados. Irradiam a mesma intensidade de calor humano, de amor, de consolidação dos laços afetivos. As homenagens em vida.

Homenagens em vida, e mais: não apenas àqueles a quem interessa a política de boa vizinhança, seja em ambiente profissional ou social. Não apenas àqueles que se destacam por seus títulos eméritos, reconhecidos de maneira sutil ou ostensiva por parte da sociedade que nos cerca. Não apenas aos artistas favoritos, por quem muitas vezes gastamos dinheiro e um tempo precioso - freqüentemente sacrificado com aqueles que nos dizem mais de perto às nossas realidades - para que possamos usufruir um pouco de vida cultural, de lazer, na duração fugaz de uma hora em companhia destes nossos ídolos do mundo das artes – que por sinal amo, entendam bem...

Mas gosto de homenagens aos nossos queridos ídolos anônimos do conhecimento das populações. À filhinha alegre e amada que sapateia de alegria quando me vê, e não se cansa de repetir: “Mamãe, eu te amo!” – a mais pura, sincera, excelsa declaração de amor sobre a face da Terra!

Ao rapazinho de treze anos cujos olhos brilham, ao ver-me de volta do trabalho, no final do dia – eu bem percebo na harmonia gostosa com que, conversando, retornamos juntos para casa.

Ao meu marido que, infalivelmente, deixa lá, sobre a mesa da sala, os “três pirulitos de coração” exigidos pela nossa filha, antes de viajar de volta para o seu serviço no interior de São Paulo.

Às amizades que batizo como meus “irmãos de espírito”, tamanha a afinidade entre nós, a intensidade da ‘linguagem sem palavras’.

Ao meu pai, que catava comigo conchinhas na praia, quando estas ainda existiam, antes da época de poluição ambiental crônica que purgamos.

E à minha mãe...

Minha querida mãe que, aos sessenta e oito anos, após toda a dignidade do seu árduo percurso de vida, antes de tudo e sempre nunca deixou de ser mãe... “A mãe!” Mãe com ‘m’ maiúsculo, como reza o dito popular. Mãe cujos afagos não se manifestam mais como os arrulhos da época tenra da infância, nem com o fiel canto da Ave Maria de Schubert, toda noite, ao me acomodar para dormir - mas nos olhos rasos de lágrimas a custo contidas, durante os meus momentos de crise da fase adulta; no empenho usualmente sacrificado com que se dedica incansavelmente, até hoje, em me auxiliar nas turbulências cotidianas da vida; nas brincadeiras, e na intencional conversa amena, naqueles meus instantes de preocupação, cuja intenção clara é refrescar as minhas idéias e amenizar as minhas ansiedades; no reconforto daquela sabedoria infalível aplicada em momentos-chave, que afiança sempre, embora com palavras diferentes para cada caso: “Isso também passará! O tempo dá um jeito em tudo!” Em suma, em cada atitude de mãe que diz a palavra certa para cada lance da vida de seus filhos, inspirada unicamente no tipo de amor mais sublime, materializado nestes gestos grandiosos, mas mimetizados na aparente simplicidade da função materna, quase desapercebida de muitos nestes nossos tempos em que os artifícios, até mesmo das emoções, ocuparam o lugar dos valores genuínos – dos sentimentos reais e mais nobres do espírito.

Vai esta homenagem neste 'dia das mães' – porque mãe que é mãe, é mãe em todos os dias - não apenas no convencionado ‘Dia das Mães’.

A esta Mãe que ‘é’ Mãe – a você, minha mãe...

Com amor,

Christina Nunes
Enviado por Christina Nunes em 22/02/2006
Código do texto: T114896
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2006. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.