Nosso pior estereótipo

É preciso que se diga a verdade: o brasileiro, no geral, tem má fama no exterior. É certo que somos a terra do samba, da bossa nova, do futebol, do carnaval, das belas praias... Muitos estrangeiros vieram e continuam vindo ao Brasil por conta destas e de outras propagandas positivas. No entanto, lá fora o nosso estereótipo também está fortemente ligado à corrupção, à malandragem e à violência.

Como aqueles pais que detestam que falem mal de seus filhos, ainda que eles façam por merecer, a maioria dos brasileiros detesta que vejam o país sob o seu pior prisma. O que este grupo não pensa é que estamos colhendo apenas o que historicamente nós mesmos plantamos. Neste caso o ônus é coletivo mesmo, já que a podridão provocada por uma fatia serve para contaminar todo o bolo.

O que dizer, por exemplo, da iniciativa da Agência Federal de Comércio Exterior da Alemanha, que em dezembro do ano passado lançou um guia para executivos que vão morar no Brasil? O órgão, de credibilidade naquele país, denominou esta publicação de “Segurança no Brasil” (na internet virou um texto resumido intitulado “Como sobreviver no Brasil”).

O tal guia, de 140 páginas, oferece várias dicas para os executivos alemães no quesito “cuidado com a violência cotidiana do Brasil”. Em meio às advertências, há as sugestões para que eles vistam roupas simples e evitem reações bruscas durante um assalto. Sugere ainda que eles não carreguem laptops na rua e que não permitam que desconhecidos entrem em suas casas.

Pode parecer ofensivo para as inúmeras pessoas de bem desta belíssima nação. Mas ninguém poderá dizer que se tratam de recomendações descabidas e meramente preconceituosas. Nas ruas das nossas cidades (grandes, médias e pequenas) há muitos perigos bem reais. Ladrões, golpistas e motoristas inconseqüentes são apenas os mais óbvios.

As propagandas negativas enfocando a nossa pátria amada chegam a ser oficializadas por entidades do calibre da ONU (Organização das Nações Unidas). Em fevereiro último este organismo de inquestionável credibilidade internacional publicou um documento afirmando que o Brasil é um país corrupto, violento e racista. Foram destacados problemas como desigualdade social, tortura e impunidade, principalmente no sistema judiciário.

O documento faz parte de um balanço geral da situação do país quanto aos direitos humanos, a partir de dados colhidos desde 2001 em relatórios feitos pela própria ONU, por entidades ligadas às Nações Unidas e pelo próprio governo brasileiro. Ele será levado à plenária da entidade, marcada para o mês que vem.

O episódio de março deste ano, em que estudantes brasileiros de pós-graduação foram barrados na Espanha, revela o peso do estereótipo tupiniquim negativo. Não só isso, é óbvio, uma vez que a Espanha e quase todos os demais países da União Européia estão apertando o cerco contra a imigração ilegal oriunda de países do chamado terceiro mundo. Pesa, no entanto, o fato de ter aumentado o número de problemas envolvendo nossos compatriotas em situação irregular e de haver um comprovado tráfico de mulheres brasileiras destinadas ao mercado da prostituição.

Como nunca fui adepto de ufanismos e corporativismos, penso que melhor seria darmos a mão à palmatória nas culpas que precisamos realmente expurgar. O que for mentira ou propaganda deliberadamente negativa de estrangeiros contra nosso país, que saibamos encontrar os melhores caminhos para nos defendermos na teoria e na prática.

Roberto Darte
Enviado por Roberto Darte em 05/09/2008
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