Juízo Final e Juízo Afinal

Num feito inédito para a humanidade, o CERN - Conseil Européen pour la Recherche Nucléaire" (Conselho Europeu para Pesquisa Nuclear), uma entidade multinacional, inventora da internet e de um novo sistema 10 mil vezes mais rápido que ligações de banda larga, ainda por lançar, construiu, ao longo de 14 anos, em território fronteiriço, entre a Suiça e a França, um gigantesco acelerador nuclear de partículas, o LHC, sigla de Large Hadron Collider, o super ciclotrão, como é chamado, num túnel circular de 27 quilômetros de extensão e cem metros de profundidade, que custou nove bilhões de dólares. Este equipamento será mantido a uma temperatura de 271 graus Célsius, negativos, temperatura inferior ao do espaço sideral, consumindo, em cada hora, energia que daria para suprir a cidade de Curitiba. Foram gastos cabos de nióbio, bem mais finos que um fio de cabelo, que dariam para cobrir cinco vezes a distância da Terra ao Sol.

Até aí tudo bem. Mas os cientistas querem testar, na prática, o Big – Bang, explosão inicial que gerou todo o universo conhecido. Querem também descobrir a origem da massa das partículas elementares e identificar, dentre elas, a partícula bóson de Higgs, também chamada partícula de Deus.

A teoria do Big-Bang considera que no início o cosmos possuía uma temperatura infinita e matéria zero. Frações ínfimas de segundos depois, e numa temperatura absurdamente elevada, nasceram partículas no universo, formando uma concentração de matéria, altissimamente densa, do tamanho de uma laranja. Daí em diante, o universo continuou expandindo e, aos 280 milhões de anos de idade, formaram-se nuvens de poeira e estrelas, tendo os planetas, como a Terra, nascido aos 9 bilhões de anos. A presente idade em que nos encontramos é de 13,7 bilhões de anos, com uma temperatura cósmica de 271 graus Celsius negativos.

O Ciclotrão foi ativado no dia 10 de setembro de 2008 e, após dois meses, atingirá o seu ponto culminante, quando será produzido um choque de bilhões de prótons, em sentidos opostos, que atingirão uma velocidade muito próxima à da luz. Serão 600 milhões de colisões de partículas por segundo e espera-se comprovar a teoria do Big – Bang, com observação, inclusive, de uma quarta dimensão do espaço.

Uma silenciosa discussão foi estancada pelo tribunal do Havaí, que negou o pedido de dois cientistas, Walter Wagner e Luiz Sancho, que colocavam sob risco, ainda que mínimo, de se criar com o experimento, uma sequência de micro buracos negros que poderiam, não somente, sugar o planeta, como o sistema solar. Entretanto, baseados na teoria da radiação de Hawking, que nunca foi experimentada, e tendo em vista que nunca um buraco negro foi observado concretamente, os cientistas favoráveis defendem que um micro buraco negro não sobreviveria a um nanosegundo. Argumentam, também, que, se raios cósmicos já colidem com a Terra e com a Lua há milhões de anos, sem criarem buracos negros estáveis, não será o experimento que os criarão. Oficialmente, em publicação no seu site em 2007, os cientistas do CERN admitiram que modelos teóricos do funcionamento do LHC abrem possibilidade à geração de até um micro buraco negro evaporante, por segundo, de acordo com a radiação de Hawking. Daí, a pergunta: Mas se a teoria do Hawking nunca foi testada, qual a garantia da sua certeza?

Para o físico Sir Martin Rees, quando da criação, anteriormente, de um outro acelerador de partículas, muito menos potente, o RHIC, a possibilidade era de 1 em 15 milhões. Já o professor, Frank Close, concluiu que a criação de um stranglet, uma forma da matéria estranha, teria a mesma probabilidade de que alguém ganhasse na loteria 3 vezes seguidas, por 3 semanas consecutivas. Dificílimo, mas possível.

A minha particular desconfiança é de que os nossos cientistas estejam correndo contra o tempo, na tentativa de prevenirem, com o ganho do experimento, se exitoso, um inevitável desastre por vir, seja climatológico ou cósmico.

Será necessário, por parte dos cientistas, muito juízo afinal, sob riscos de depararmos com o Juízo Final, e ponto final.

De qualquer forma, até lá.

Di Amaral
Enviado por Di Amaral em 17/09/2008
Reeditado em 05/02/2009
Código do texto: T1181914
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