IMPONDO LIMITES

Há poucos dias, na companhia de minha mulher, dei carona ao meu enteado que ia a uma festa de formatura. Pouco antes de ele descer, ouvi as recomendações maternas:

— Lembre-se, se for tomar alguma bebida alcoólica, tome cuidado em não cometer abusos. Outras festas virão.

Tão logo o jovem desceu, reiniciei meu caminho pensando na sensatez de minha mulher. Com poucas palavras, ela passou ao filho os devidos cuidados com uma droga lícita, bem aceita e que tem seu uso normalmente estimulado em qualquer evento social. Outra coisa importante, o alerta óbvio de que muitas e muitas outras festas acontecerão, mas que muitas vezes passa despercebido na voluptuosidade juvenil do aqui e agora.

Não é desconhecido que, inicialmente, a droga proporciona prazer à maioria dos seus usuários. O usuário busca e se preocupa naquele momento só com o prazer imediato. Ele desconhece, mas pode ter nascido com um organismo predisposto à dependência química, porém essa predisposição não aparecerá gravada em sua testa. Assim, ele usa a droga e deixa o rio seguir seu curso. Ele se sente o “Cara”. Os outros são caretas, babacas etc. Passados alguns meses de uso para uns, anos para outros — o imprevisível acontece. Surge de forma repentina e inexorável a chamada dependência química. A partir daí, o uso inevitável é imperioso e, desgraçadamente, um paliativo para o individuo tentar a conviver com: paranóia, depressão, ansiedade, fissura, autocrítica, compulsão obsessiva — transtornos mentais — alguns irreversíveis.

Portanto, na mesma proporção do prazer inicial, a droga trará, indubitavelmente, o desprazer intenso no decorrer do uso. O período de duração do prazer e o início das primeiras tentativas de largar da droga é individualizado. Cada caso será um caso. As chances do sucesso estarão, preferencialmente, nas mentes que foram menos agredidas pelo uso abusivo da química.

É impossível, hoje, acreditar que alguém está ou estará imune do uso indevido e/ou nocivo das drogas. Daí a importância da Prevenção Primária. Eliminar ou retardar o uso de drogas é o primeiro procedimento preventivo. Uma criança de oito anos, em plena formação, usando drogas terá, obviamente, um prejuízo futuro, muito maior do que um adolescente que experimenta a droga aos dezessete anos. A prevenção desejável, em minha opinião, deve acontecer no ventre da gestante. A mãe grávida pode ser a primeira passadora de drogas ao próprio filho (cigarro, álcool, cocaína, auto-medicação etc), através do sangue, pelo cordão umbilical.

Algumas vezes apresenta-se a necessidade de termos que mudar o trajeto do rio.

Vez por outra, tenho que dizer aos meus filhos que o som que eles estão ouvindo pode não ser do agrado do vizinho que mora no meio da outra quadra. Portanto, que eles abaixem o som... Que na hora de arrumarem um bom emprego, ter que tirar o excesso de piercings e/ou tatuagens, não deve ser tarefa agradável.

A aspiração, hoje, de ser tão moderninho quanto o filho, faz de muitos pais, no amanhã, uns frustrados na missão paterna que pretenderam exercer. Assim, antes da previsível separação, o duelo entre pai e mãe será inevitável. Um, com certeza, estará querendo culpar cada vez mais o outro pela má formação do filho(a) deseducado.

Quando falo sobre o uso indevido de drogas, procuro afastar qualquer ingerência da chamada Pedagogia do Terror, mas a lembrança que tenho agora do livro/filme “O Médico e o Monstro” não é mera coincidência. Por algum tempo, fui responsável por internamentos de dependentes químicos em um Centro de Tratamento. Ao ouvir as histórias de muitos pais, sobre roubos de folhas de cheques, de jóias e outros bens dentro de casa - mesmo com dor no coração —, eu os alertava que se o filho(a) estivesse usando drogas, eles, ao dormir, deveriam manter as portas dos seus quartos trancadas, e que nunca descartassem a possibilidade de chamar a polícia se necessário fosse.

Aquele ser lindíssimo que vimos nascer e crescer, para quem demos amor e carinho, quando sob o efeito de drogas simplesmente não existe. Seu estado de consciência estará totalmente alterado. Em síndrome de abstinência ou sem conquistar o efeito desejado pela quantidade usada, o indivíduo se tornará um monstro que vai exigir de forma patológica cada vez mais a sua droga de preferência. Não importa o preço que tenha de pagar.

Acredito muito na imposição de limites — sempre —, a começar na mais tenra idade!

Quando vemos por aí o descaso de pais com seus “anjinhos” berrando, fazendo as insuportáveis birras e manhas, não carecemos nem de bola de cristal para saber que tipo de adolescente será aquela pobre criança. Ouço muitos adultos agradecer aos seus atentos pais os tapinhas na bunda que levaram na hora certa.

A pandemia das drogas não é um problema social sério. É SERÍSSIMO!!!

Qualquer pesquisa confiável vai apontar que crianças com pouca idade já estão tendo suas primeiras experiências com drogas.

Se não for imposto limites dentro de casa para os filhos, a vida lá fora vai fazer isto através do traficante ou da polícia. Se você não tem tempo para conversar ou levar seu filho para uma festa, abra o jogo com ele, converse sobre isso com ele. Peça a compreensão e a ajuda dele. Num lar harmônico, as sugestões, as trocas, a abertura de corações deve ser uma via de mão dupla. Afinal, todos nós somos apenas passageiros aprendizes dessa grande nave chamada VIDA. Porém, se a barra pesar demais, lembremo-nos de nosso COMANDANTE que está sempre onipresente. É só recorrer a Ele depois que fizermos nossa parte e as coisas se ajeitarão. Hoje e sempre!

Luiz Celso de Matos
Enviado por Luiz Celso de Matos em 19/09/2008
Código do texto: T1186682