Ressaca Moral

A bebida que dificilmente é consumida de forma solitária e isolada, pode ser responsável por uma quantidade enorme de prejuízos dentro de uma instituição familiar e para o próprio consumidor, o que até pode ser compreensível chegando a justificar algumas atitudes se estas comprovadamente, se deram pela fraqueza e incapacidade de se vencer o vício.

Além do fator saúde a bebida ingerida sem moderação e frequentemente tem o poder de transformar o perfeito em calamitoso, ou vice-versa.

A embriaguez, ou uma quantidade relativamente alta de álcool no organismo, pode provocar entre tantas:- a empolgação, ou seja, a pessoa acaba prometendo coisas que não tem a menor vontade de cumprir, a violência (que é um dos fatores que mais se desenvolve), a falta de pudor, a perda financeira, o descompromisso com o cotidiano, a mentira, o esquecimento, a prevaricação, o desafeto, enfim...

-Mas até quando a outra parte conseguirá superar sofrimentos gerados pela bebida, com a certeza de que seu (sua) parceiro (a) não aceita se submeter a um tratamento, não quer se ajudar e pouco se importa com o mal que esta provocando a tantos?

-E quem pode garantir que a bebida, não passou a ser usada apenas como uma justificativa?

Dentro de qualquer relacionamento enraizado, há determinados parceiros, que acabam se sujeitando a viver no “deixando rolar, pra ver o que acontece”.

Fortalecendo e alimentando a esperança de que o amor que um dia os uniu, uma vez estraçalhado, ainda pode ser resgatado vindo a dar certo é possível, no entanto, voltar a ser o que era, sem que pra isso se mude posturas, é missão quase impossível.

Portanto, aqueles totalmente acostumados, ou dependentes da pessoa escolhida para construir um futuro, que nem de longe pensam num rompimento, mesmo que temporariamente, tornando apenas para um o relacionamento seguro, pode estar protelando dentro de uma problemática, mais um outro problema.

Por mais que se tente arrumar elementos que possam justificar atitudes, quando uma das partes confessa que traiu porque se apaixonou por outra pessoa, há a necessidade de repensar urgente esta união.

A complicação aumenta, se a outra parte, provou o amor extra, através de cartas, telefonemas, planos às escuras/ sujeitando sua (seu) parceira (o) do lar a humilhações, ofensas, acusações, destrato, agressões verbais, dificuldades financeiras.

Evidente o é que a relação se esmigalhou, não pra se enganar por muito tempo, nem cabe “fazer de conta”.

Por mais que decididamente, confessou o fim da relação extraconjugal, o fato de ter traído, levado adiante esta traição, sonhado com um futuro e trilhado para conquistá-lo, já basta!

Numa situação assim, recomeçar a força pode ser apenas mais uma maneira de se flagelar, pois é quase que impossível resgatar o que virou apenas migalhas, uma vez que esta claro que o amor lá atrás já se acabou.

Promessas de recomeço, são palavras, e podem permanecer, sendo apenas palavras, porque o coração uma vez ocupado por outra (o), pouco provável terá espaço para quem já não desperta emoção.

A verdade é que dificilmente quem traiu de forma tranqüila e consciente, tem aptidão para voltar a ofertar àquela (e) que um dia construiu uma estória uma vida o mesmo sentimento. Lembrando sempre que a busca fora, ocorreu dentro de um relacionamento alicerçado, no entanto trocado, assim sendo destruído, massacrado, desmerecido e finalizado por uma aventura.

Difícil pra qualquer ser humano, esquecer o tamanho do estrago quando chega a tão sérias conseqüências...

Até que ponto, alguém consegue friamente dormir e acordar na incerteza de que tem ao lado alguém que sofre e vive de sonhos e saudades de outra (o)?

Não que isso seja julgar, nem que a parte errante não mereça uma chance, mas sim porque uma vez quebrado o pacto, a fidelidade, o carinho e o respeito, prevalecerá à dúvida. Inútil afirmar que se apagam mágoas facilmente, principalmente quando se sabe que a pessoa que se ama, lutou para nutrir apenas “aquele laço” extraconjugal...

Ninguém fica inerte, quando descobre ou lembra que o casamento foi tratado com descaso, sem cuidados, sem pesos nem medidas. E num fim ou em um recomeço esse sentimento, raramente é compartilhado.

O sentimento uma vez renegado, substituído de forma insana, irracional, sem a preocupação de pelo menos conhecer o dia a dia, da (o) outra (o), para ter a certeza de que valeria a pena, destruindo a comunhão é algo que não se supera de um dia para o outro, e às vezes, jamais se superará.

Não há amor tão incondicional que permita novamente mentiras e traições. Talvez esteja aí o ponto X, porque sempre haverá duvidas, e até que se prove de fato o contrário...

A auto-estima de quem sofreu a traição, já foi destruída e isso é fato! Sumir temporariamente sem dar explicações, pensando em depois retornar, pode vir a ser uma porta aberta para o sofrimento continuado.

Voltar atrás apenas por acomodação ou se esquivar por uns dias, apenas para dar tempo ao tempo, não resolve problema algum. O tempo pode ser um bom remédio, mais remédio sem tratamento, não tem eficácia... Não se pode esquecer que cartas precisam estar à mesa, que a parte contrária precisa saber o tamanho do estrago e a quantidade de sangue da ferida.

Afinal, onde fica a responsabilidade de cada personagem dessa história? -Sim! -Porque valeu apenas dor, sofrimento e destruição para só uma das partes... -Qual dos amores foi ou é o amor verdadeiro? -Quem esta sendo mais traído nestas alturas, porque mentir pra si próprio para contornar uma situação que nem mal resolvida foi, é trair a si próprio (a).

Usar uma dependência como o consumo de álcool, pra justificar traição e erros é desculpa que não mais convence, pois com o mínimo de discernimento, se consegue detectar dependente e farrista; manter-se em alerta, sempre em atenção é uma opção.

Uma mesma desculpa, não pode servir de prerrogativa para explicar que era latente a necessidade apenas do (a) traidor (a) de sonhar e pelo menos um pouquinho “viver a vida”. Responsabilizar uma bebedeira e usá-la como argumento pra justificar os excessos calamitosos cometidos, pode até ser uma verdade, desde que seja apenas um deslize.

Viver de incertezas e mágoas, sendo cômodo e interessante apenas para uma da partes é concordar em infligir e malbaratar à própria existência. Tentar resgatar o que não quer ser resgatado, violando princípios, alimentando mentiras é se lançar à sorte. Se for assim, por que prolongar uma relação desconfiantemente insegura de sentimentos externos?

Sejamos francos, a mentira de dose em dose, pode ser um veneno pior que a bebida de gole em gole e, assim sendo, não há futuro. Quando inexiste a consciência de que a mentira também é uma forma de traição e a traição, seja ela qual for é corrosiva, deve existir a necessidade e a clareza de provocar neste "mal feitor", no mínimo:- a ressaca moral. Será que vale a pena apostar novamente nessa relação?

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