O PETRÓLEO É NOSSO! NÓS, QUEM?

Até há pouco tempo o Brasil festejava e trombeteava o bio combustível como alternativa menos poluidora, ecologicamente correta para substituir o petróleo “sujo”.

Ao vislumbrar a expectativa do petróleo no pré-sal, ele tornou-se limpo, num passe de mágica. Ninguém ainda sabe o tamanho das jazidas a 10.000 metros de profundidade; ninguém ainda sabe quanto vai custar a extração; ninguém ainda da tecnologia necessária e a que custo ela será disponibilizada. Em suma: ninguém tem certeza de nada. Ou como diriam alguns: Nunca se discutiu tanto com o que fazer com o dinheiro da venda de um produto que ainda não existe.

A experiência nos mostra que o petróleo é um concentrador de renda nos países onde ele é produzido. Não apenas concentra a renda, como concentra o poder. Mesmo as democracias mais estabilizadas não conseguem separar a ligação umbilical entre dinheiro e poder. Quem viaja pela Venezuela pode constatar isso no nosso país vizinho. Enquanto Chávez brinca de papai Noel com os petrodólares, o povo continua miserável. O petróleo é uma fábrica de ditaduras.

A própria Petrobrás é um modelo de concentração de renda. O volume de investimentos na área petrolífera não pode ser pulverizada entre os pobres. Mas o povo poderia ter participação maior nas riquezas do subsolo. Delfim Netto, o Czar da economia do “milagre brasileiro” dizia que o bolo tinha que se formar, para depois ser fatiado. Acontece que, aquele que determina o tamanho da fatia esquece quem está de fora. No caso, o povo brasileiro.

Quem, como eu, na época da implantação do programa pró-álcool, sonhava com o pequeno produtor rural produzindo o álcool carburante para eu consumo, ficou decepcionado com a esmagadora concentração promovida pela “nossa” Petrobrás. Em vez de estimular as micro usinas com treinamento de pessoal e financiamento de equipamentos nas áreas de produção, o governo resolveu entregar tudo na mão estatal. Com isso marginalizou o cortador de cana e o pequeno produtor rural.

O bio diesel está marchando para o mesmo caminho. Não serve de exemplo o fato de a “nossa” Petrobrás ter conseguido, durante mais de um ano, vender o litro de álcool à granel, na bomba, ao mesmo preço de um litro de óleo de soja embalado, rotulado, empacotado, transportado e repassado por várias mãos até chegar às prateleiras dos supermercados?

Não vamos nos iludir: o governo não abrirá mão de concentrar tudo, outra vez, nos cofres da Petrobrás. O petróleo e os combustíveis são uma grande fonte de impostos e de poder e nenhum mandatário resistirá a usá-la. Contudo, a matemática é exata e não admite dúvidas. Quando um produto fica concentrado na mão de alguns – mesmo que estes “alguns” sejam empresas estatais - haverá os excluídos na outra ponta.

Com a exploração do petróleo no pré-sal deverão ser gastos alguns bilhões de dólares. Se este dinheiro fosse investido em combustíveis limpos como a energia solar e a eólica, não teríamos um resultado muito mais promissor? O Canadá, onde o sol aparece quando quer e onde o verão dura um pouco mais que um dia, tem uma tecnologia muito avançada em energia solar.

O bio-gás, que pode ser produzido a partir das fezes animais e humanas, ficou no esquecimento.

Por que?

Porque existe a possibilidade de encontrarmos petróleo a 10.000 de profundidade. Com a benção da “nossa” Petrobrás ele será um petróleo limpo e poderemos esquecer as outras formas que fariam tão bem para a renda dos brasileiros.

Luiz Lauschner – escritor e empresário

www.luizlauschner.prosaeverso.net

Luiz Lauschner
Enviado por Luiz Lauschner em 21/09/2008
Reeditado em 21/09/2008
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