À espera da próxima bolha especulativa

À espera da próxima bolha especulativa

Félix Maier

O jornalista Mair Pena Neto faz uma embrulhada dos diabos, confundindo a "mão invisível" de que falava o liberal clássico Adam Smith em seu livro A Riqueza das Nações com a "mão invisível" dos gatunos da ciranda financeira internacional que assaltaram os bolsos de milhões de pessoas (Cfr. texto em http://nogueirajr.blogspot.com/2008/10/mo-invisvel-mendiga.html).

E o que vem a ser essa tal "mão invisível"? Diz Mário Persona no artigo "A mão invisível" (Cfr. http://www.economiabr.net/colunas/persona/persona-a_mao_invisivel.html):

"Em 1776 Adam Smith entregou, de mão beijada, a explicação para o equilíbrio aparente de uma economia descentralizada. Segundo ele, não é pela benevolência do açougueiro, do cervejeiro ou do padeiro que nos é garantido o jantar, mas pelo egoísmo deles, ao agirem em benefício próprio. Na contabilidade final e geral, embora busquem seu próprio bem, cada um é levado, por uma `mão invisível`, a promover um fim que não fazia parte de seus intentos."

O liberalismo clássico nunca condenou o Estado, como quer fazer crer Pena Neto, pois sempre pregou um Estado enxuto, atinente às suas funções peculiares, quais sejam: Educação, Saúde e Segurança. Mas também fiscalizador da atividade econômica, para evitar abusos de empresários, bancos e empresas financeiras. Enfim, um Estado descentralizado administrativamente e centralizado apenas nas questões atinentes às leis gerais da política e da economia, para preservar os direitos e deveres de cada cidadão, e também para que as unidades da Federação não entrem em choque umas contra as outras - como já pregava Tocqueville em sua obra-prima A Democracia na América. A iniciativa privada deve ficar primordialmente nas mãos dos empresários, não do Estado, para que as empresas se tornem mais lucrativas e menos sujeitas à corrupção. Além desse princípio da livre iniciativa, o liberalismo clássico prega, ainda, a liberdade de opinião, a liberdade religiosa, o respeito à propriedade privada e o culto às leis. Todos os países que adotaram tais princípios estão entre os mais ricos do mundo. Aqueles que preferiram a tutela absoluta do Leviatã estatal estão capengando há séculos, como é o caso do Brasil e de muitos "emergentes", além dos casos clássicos de Cuba e Coréia do Norte na atualidade, e da União Soviética no passado.

Atualmente, acusam-se os governos Reagan e Thatcher de terem desregularizado demasiadamente a economia, concorrendo para a crise global da atualidade. Não sei até onde isso é verdade ou mentira, porque a especulação imobiliária, tanto nos EUA, quanto na Grã-Bretanha, além da alavancagem exagerada dos bancos americanos e seus infindáveis derivativos, todos esses problemas começaram muito depois de Reagan e Thatcher terem abandonado seus empregos. Grosso modo, seria culpar Adam Smith e o livre empreendedorismo da "mão invisível" pelo caos ora visto em todo o mundo, o que é um absurdo.

Os culpados da atual crise não são apenas os gerentes de bancos e os operadores da pirâmide financeira, como quer Pena Neto, mas todos os clientes envolvidos na maracutaia, que viram nestas operações duvidosas a chance de ganhar dinheiro fácil. Quando a bolha piramidal estourou, viram que não tinham o patrimônio previsto, com a desvalorização dos imóveis e dos papéis, que estão cada dia mais podres. Ao fim da crise, ter-se-á o real valor da economia mundial, não esses números estratosféricos de trilhões e trilhões de dólares que só têm sentido nos vaporosos balanços virtuais, não na realidade - a tal "economia real".

Depois desse tsunâmi global, as coisas vão se acalmar e teremos a oportunidade de ficar aguardando a próxima bolha especulativa. Recentemente, tivemos a "bolha da internet". E qual será essa nova bolha que está para vir? A venda de emissão de carbono em troca do plantio de uma árvore? Até imagino os jornais do futuro: "Investidores estão revoltados com a especulação carbono-árvore, que deixou milhões de pessoas com papéis podres nas mãos depois de terem plantado bilhões, trilhões de árvores na Amazônia e no Cerrado"...

Voltando à crise atual: está certo Pena Neto, ao afirmar que, devido à ganância de muita gente, o mundo inteiro irá pagar uma conta pesada - como sempre acontece nesses casos.

Mas, afinal, quando ocorrerá a próxima bolha? Façam suas apostas no mercado futuro das árvores...