Análise: Os parceiros do Rio Bonito, de Antonio Cândido

CÂNDIDO, Antonio. Os parceiros do Rio Bonito. 2001 –

9ª edição, Editora 34, São Paulo. 372p

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O livro de Antônio Candido, Os parceiros do Rio Bonito, busca traçar o perfil do caipira paulista. Nos seis primeiros capítulos o autor descreve etapa por etapa da vida do habitante da zona rural da antiga cidade de Rio Bonito, atual Bofete, interior paulista.

No começo do livro o autor explica o método de análise dos meios de vida destes moradores em que busca conhecer os meios de vida num agrupamento de caipiras, como se ligam a vida social, as formas de organização e as de ajuste ao meio. Ele traz o ângulo de visão do antropólogo e outras mais próprias do sociólogo, isto é, busca a integração entre as duas ciências sociais.

Com isso ele tenta reconstituir as condições da vida caipira tradicional, por meio de documentos do século XVIII, questionar como era o “tempo dos antigos” e obter coincidências para assegurar a validade da reconstituição.

O método está focado na localização do aspecto da vida social considerando como um tema sociológico e problema social. E isso foi feito por meio de estudo localizado e específico, buscando relações entre os agrupamentos de parceiros até a formação de comunidades. No livro é traçado uma evolução social do caipira.

No capítulo 1, Rusticidade e economia fechada, Cândido busca traçar até que ponto pode se enquadrar nas situações sócio-culturais mínimas, que possa ser estudado, para compreender o significado das atuais condições de vida do caipira paulista por meio do histórico do objeto de estudo.

O caipira, os bandeirantes e os índios produziam as próprias roupas, de maneira rústica, em que era colhido o algodão e fiado em casa, no caso do caipira, plantavam para sobrevive, no caso do índio e os bandeirantes eram desbravadores, aventureiros, lutavam em busca da sobrevivência. Nessa época a ortografia era instável, não tinha uma grafia padronizada.

Saint-Hilaire descreve que na sociedade caipira não apenas permanecia de traços, mas retorno, perda de formas mais ricas de sociabilidade e cultura, por parte dos que se incorporavam, por meio de grupos mais civilizados.

No segundo capítulo, Alimentação e recursos alimentares, que com o aprendizado e o estabelecimento de sistemas de plantações, aconteceu que com o mínimo de alimento adquirido para garantir a sobrevivência e a manutenção da organização social do grupo. Isso porque em 1704 um procurador da Câmara de São Paulo, defendia que o feijão era o alimento mais vital que sustentava os povos

O paulista também se ajustou as técnicas de alimentação de índio, que permitiu ter mais conhecimento sobre como dominar as formas de plantação e colheita de forma que sustente o sistema ecológico, com isso resultando em domínio no plantio dos alimentos da terra.

Assim, o livro aponta que o feijão, o milho e a mandioca se tornaram essenciais para a alimentação do caipira. Já o sal foi um fator de sociabilidade intergrupal, levando os indivíduos e agrupamentos a se relacionarem com os centros de população. A mandioca trouxe a tecnologia vinculada a cultura aborígenes, convergindo para materiais como as peneiras, os pilões de mão e de pé, moinhos d´água, fornos de barro e as fôrmas de várias espécies.

Na cidade de Bofete as relações de vizinhança constituem na família e o povoado, por meio de uma estrutura intermediária, onde é definida a vida do caipira em que são configuradas as relações básicas. E a partir deste agrupamento com famílias e o povoado podem ser definidos o conceito de bairro, isto é, o local onde o caipira vive. Porque é daí que acontecem as práticas de auxílio mútuo e pelas atividades lúdico-religiosas.

O autor busca destacar o sentimento de localidade e cooperação que existe nos moradores em que a formação não depende da posição geográfica, mas também da relação entre as pessoas.

“… ’O que é bairro?’ – perguntei certa vez a um velho caipira, cuja resposta pronta exime numa frase o que se vem expondo aqui: - ‘Bairro é uma naçãozinha’ – Entenda-se: a porção de terra a que os moradores têm consciência de pertencer formando uma certa unidade diferente das outras.” (página 84)

O quarto capítulo, As formas de solidariedade, Antonio Cândido apresenta que os caipiras são unidos, como o caso de uma senhora que teve a casa construída com o auxílio de outros moradores. Sem interesse comercial ou econômico, apenas por espírito de união. Eles trabalham no espírito de mutirão, trabalho coletivo.

E isso não se limitava ao caso de construção de casa, estava também ligado a atividades trabalhistas como se um dos vizinhos estava muito atarefado, o outro indivíduo oferecia ajuda, sem interesse algum.

Além disso, a vida lúdico-religiosa estava concentrada muito além do âmbito da família em que a religiosidade é um elemento essencial para manter a sociabilidade entre família e povoado, e é claro, as festas religiosas para a solidariedade na participação nas rezas caseiras para o cumprimento de promessas.

Com o crescimento da população há o aumento da densidade demográfica, porém, mesmo que tenha alguns indivíduos que aparentemente tenha o isolamento da sociedade, apenas estão afastadas. Pois o indivíduo “isolado” mantém contato com quem passa pelo lugar que ele mora, porque ali torna-se o caminho de muitos viajantes ou andarilhos.

A economia fechada acaba com a ascendência do fazendeiro, ou o pequeno agricultor, que abastados podem contratar aqueles que não têm como crescer economicamente se submete àqueles que têm domínio econômico e o sistema de cooperação vicinal é abandonado.

O Jeca Tatu, de Monteiro Lobato, é destacado na evolução e involução do caipira, em que o caipira deixa seus costumes e torna-se um capitalista rico, que domina os menos favorecidos. Pois a personagem se ajusta economicamente e socialmente, definhando a forma original do caipira simples e sociável.

No capitulo 6, o autor traça um perfil da região estudada, que não conseguiu se desenvolver por causa de regiões maiores e mais ricas. Isso se dá porque as regiões do entorno resolveram abandonar a forma arcaica de vivência e parte para o desenvolvimento da agricultura, criação de trabalho, evolução tecnológica, já a região estudada em questão pára no tempo. Fica preso no passado e com isso, vai perdendo habitantes e ficando mais pobre.

O autor percebe que com a forma caipira de ser, a cidade não cresceu e as outras cidades que abriram mão da forma caipira de viver crescem socialmente, organizacional e economicamente.

Cido Coelho
Enviado por Cido Coelho em 28/10/2008
Código do texto: T1252752
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