HISTÓRIA: A Ciência dos Humanos

Qual a importância do pensar histórico na formação de crianças e jovens?

É a partir do pensar histórico, que as crianças e jovens terão a possibilidade de compreender melhor, e mais amplamente os fatos e o processo que os antecederam. É o pensar histórico que ajudará a desenvolver a reflexão histórica no aluno, e esta, por sua vez, ajudará o estudando a compreender melhor a realidade em que estão inseridos, ele e a sua comunidade, realidade esta, que pode ter a sua origem e as suas raizes no passado remoto ou num passado mais recente e mais próximo de cada um de nós.

É através do pensar histórico que se irá desenvolver a reflexão crítica do aluno, e ele por sua vez, passará a ter uma visão de conjunto e não uma visão fragmentada dos fatos.

O passado por si só não faz sentido para o aluno, nem o presente pelo presente. Nenhum faz sentido sem o outro. Vistos em separados, nem o presente nem o passado, poderá contribuir para desenvolver a reflexão crítica do aluno, mas, os dois juntos, vinculados a um de um eixo temático que pode ser um acontecimento presente é que farão sentido nas aulas de História para o estudando.

A história é uma ponte, e por ela, transitamos de um lado para outro, viajamos no tempo, para tentar compreender com mais clareza o que aconteceu e o que acontece ainda hoje. Através da reflexão histórica, pensamos e repensamos a nossa realidade, construímos e reconstruímos nossos conceitos, lemos e relemos a nossa realidade e tudo isso fazemos a partir de registros deixados pelos homens, é através da leitura e releitura desses documentos que iremos entender melhor os nossos por quês: Por que somos assim? Por que pensarmos assim? Por que crermos assim? Por que agimos assim? Todas as nossas decisões ou indecisões são influenciadas pelo conhecimento que temos ou não da nossa história. Só a partir do conhecimento de História é que nos tornaremos sujeitos ativos, construtores comprometidos com os problemas sociais e políticos que nos envolvem, seremos sujeitos do nosso próprio tempo, cidadãos conscientes e participativos se conhecermos realmente a História sem escamotear a realidade e sem fantasiar as coisas . O pensar histórico além de restabelecer a memória individual e coletiva, faz também com que os jovens e as crianças cresçam espiritualmente como cidadãos.

Como o professor concebe o conhecimento histórico?

O conhecimento histórico, como a própria palavra diz, é aquele que é construído e produzido historicamente pelo homem, e, que está registrado ou não em documentos. Pode ser construído através dos vestígios, dos testemunhos, e nisso, se inclui também o imaginário coletivo, os mitos, os ritos e as lendas. A história documental e processual, a história testemunhal e a que se encontram nos livros é que nos serve de base para que se construa o conhecimento histórico.

Qual a importância do conhecimento histórico na vida concreta?

“Infeliz o povo que precisa de heróis”, essa é uma frase de Bertolt Brecht, ela nos leva a refletir sobre a questão acima. O conhecimento histórico concebido como um conjunto nos ajudará a desmistificar os fatos e a desmitificar (quebrar os mitos) que protegem como uma película a figura dos nossos “ heróis” e os eternizam em nossas mentes como se fossem deuses, nos ajuda a entender as justificativas ideológicas que servem, em sua maioria, para a defesa do “status quo”. O conhecimento histórico é importante porque nos ajudará a quebrar e a visão eurocêntrica que está impregnada na maneira de pensar da nossa sociedade. Só o conhecimento histórico pode ajudar a romper com o véu que paira sobre a visão subalterna do nosso povo, e dos nossos jovens. A falta do conhecimento histórico faz com que a alienação dos nossos jovens e crianças vá se perpetuando de geração a geração sem que se note grandes mudanças na sociedade. Como afirma Vavy Pacheco Borges, no seu livro “O que é História”, 15ª edição p.53, “Isso leva a uma atitude passiva, à uma conformação”, porém, como afirma a própria autora, o conhecimento histórico tem uma finalidade, um objetivo primordial: “A finalidade última do conhecimento histórico é, portanto, propiciar o desenvolvimento das forças transformadoras da história, ajudá-las a se tornarem mais conscientes de si mesmas”. Daí se pode concluir que o conhecimento histórico é fundamental para garantir ao estudando os fundamentos para que possa se tornar um cidadão autônomo, capaz de corresponder em sua essência ao conceito de PENSAR e EXISTIR, e esse pensar e existir, é no sentido de que o cidadão se faça existir de fato, se faça perceber ao público que o cerca na sociedade, no trabalho, na escola e onde quer que esteja. É o conhecimento histórico que nos tornam conscientes ao ponto de poder exclamar: “Penso, logo existo”!

Uso de métodos e linguagens na formação dos conceitos históricos

Atualmente, o que está proposto é que o professor de História trabalhe com métodos diversificados, e também, procure fazer uso das novas e diversas linguagens como:

• A linguagem musical;

• A cinematográfica (através dos filmes históricos);

• A linguagem iconográfica, que correspondem ao uso de imagens, as charges e as fotografias e as gravuras.

• A linguagem da internet como ferramenta de pesquisa;

• Os textos e impressos nos livros didáticos e paradidáticos, os documentos;

• As matérias e artigos de jornais e revistas.

Enfim, todas as linguagens e tecnológicas devem estar à disposição durante as aulas.

E os métodos, quais são?

Também são diversos, tal como as linguagens. Eles estarão presentes na proposta do professor: são a aulas expositivas, a discussões coletivas, os seminários, as discussões de as análises de textos e filmes, os estudos dirigidos, a elaboração de relatórios e pesquisas bibliográficas e de campo, as entrevistas etc. são coisas que se farão presentes na medida do possível e conforme a realidade e a estrutura oferecida pela instituição escolar.

É preciso levar em conta que há uma pluralidade de fontes e de procedimentos metodológicos a nossa disposição e há um consenso fortemente estabelecido, sobre o entendimento de que estudos e pesquisas acerca do tempo presente estão fortemente embasados em memórias coletivas e individuais. Apesar as dificuldades e dos entraves que o professor enfrenta no acesso a essas coisas, cabe destacar que a multiplicidade de fontes, inerentes aos processos de construção de lembranças, podem subsidiar e embasar essas pesquisas. O mundo no qual vivemos produz em abundância diferentes documentos, que podem contribuir para o enriquecimento da produção de conhecimento histórico. São eles: iconografias, obras literárias, relatos orais e escritos, charges, filmes, documentários; suportes da informática, plantas, mapas, atas, programas de rádio, peças publicitárias, jornais, revistas, músicas, entre outros.

Nesse sentido, a história do tempo presente, considerando, inclusive, a interlocução fértil da história com outras áreas de conhecimento, pode incorporar, dentre outras, pesquisas referentes a: atuação de partidos políticos, manifestações de tolerância e de intolerância, memória coletiva de grupos sociais específicos, construção de identidades coletivas, propaganda e representações, construção de imaginários sociais, formas de organização e de militância de trabalhadores rurais e urbanos; participação de intelectuais na política; formas de expressão de atividades culturais; atuação da imprensa e conflitos de interesses, nem sempre explícitos, mas implícitos na mídia falada ou escrita, num documento histórico ou num quadro.

Qual a proposta do professor para que o aluno pense?

A priori o que se propõe é que se faça uma apresentação expositiva dos temas relevantes elencados na proposta da Secretaria de Educação. Em seguida, faz-se um questionamento diagnóstico para saber o que os alunos conhecem ou desconhecem os temas apresentados, em seguida, utiliza-se os recursos como: lousa, livro e giz para depois partir para outras propostas. Para 8ª série propõe-se trabalhar a República Brasileira e para 1ª série do ensino médio Pré-história e História.

Formação e história profissional

Como todo cidadão que descende de uma família pobre, cresci vendo meu pai se revezar na luta pela sobrevivência entre uma vida campesina e um pequeno estabelecimento comercial de onde tirava o sustento dos filhos. Depois de ver suas possibilidades de trabalho com a terra se esgotarem, meu pai migrou para São Paulo em 1978. Aos 15 anos, já na Grande São Paulo, onde continuei meus estudos. Foi uma batalha entre a vontade de vencer, o estudo e a necessidade de trabalhar, por fim, terminei o ensino fundamental e médio em 1990 e fui para a faculdade Tereza Martin, Freguesia do Ó, São Paulo, então me licenciei em Estudos Sociais e fiz complementação em História, na Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Bebedouro. Hoje sou professor titular de cargo, aprovado em dois concursos públicos na área de CHT– Ciências Humanas e Suas Tecnologias, o 1º concurso foi em 1998 e o 2º em 2000. Estou ministrando aulas de História há 17 anos na escola Estadual Moacir Thomaz da Silva onde também fui coordenador pedagógico por 5 anos, nesse período o projeto mais famoso desenvolvido por mim e os professores foi “Ação pela Paz” e o projeto “Dengue” que envolveu todos os alunos, todas as áreas e todos os professores. Isso garantiu à escola o 1º lugar com premiação no município e elogios à escola.

Ações e projetos para o futuro

Em breve estarei me transferindo para uma escola no interior de São Paulo, pretendo lecionar para os cortadores de cana e para os filhos desses trabalhadores rurais, talvez darão maior valor ao ensino e aos professores. Lecionar na periferia da Grande São Paulo está se tornando uma empreitada quase impossível devido a falta de respeito. Projeto para o futuro: fazer mestrado na área de História ou História da Educação, lecionar numa faculdade e escrever um livro.

Visão acerca da História, da educação e da escola

“A História humana não se desenrola apenas nos campos de batalha e nos Gabinetes presidenciais. Ela se desenrola também nos quintais entre plantas e galinhas, nas ruas de subúrbios, nas casas de jogos, nos prostíbulos, nos colégios, nas usinas, nos namoros de esquina”. (Ferreira Gullar)

A História é a matéria mais fantástica que se pode estudar. Porém, por muito tempo se prevaleceu um tipo de ensino positivista onde o professor transmitia uma visão fragmentada e alienadora dos fatos estudados, não havia uma preocupação em desenvolver a criticidade do aluno e os conteúdos eram preestabelecidos sem abrir espaços para o questionamento. O “ensino empacotado”, pronto e acabado era despejado na cabeça do aluno que funcionava como um mero receptor ou depósito de um conhecimento embasado no método da repetição, da decoreba sem aguçar a curiosidade. Os fatos eram sempre apresentados desvinculados do processo e estudava-se o passado pelo passado. O aluno não compreendia o presente e continuava cheio de interrogações jamais respondidas. Transmitia-se uma “verdade absoluta” dos fatos, no entanto, o conhecimento histórico não pode e nem deve ser construído sob as bases duvidosas das “verdades absolutas”, pois na História todas as verdades são RELATIVAS e passíveis de serem questionadas. Tudo muda, e essa é a uma visão dialética que precisa ser cada vez mais valorizada pelos professores, a História é um conjunto e todos os fatos acontecem dentro de um contexto, todos os temas se enquadram dentro de uma conjuntura que não se pode ser ignorada nas abordagens históricas. A História não é LINEAR e a visão QUADRIPARTITE torna-se questionável do ponto de vista crítico, pois dá a impressão que a História dá pulos: a História caminha! A História é ELÍPTICA, ou seja, o professor deve concebê-la numa visão em forma de ASPIRAL, ela é CIRCULAR e DIALÉTICA, cheia de autos e baixos, cheia de conflitos e contradições. Como dizia Marx, “A História, é a história da luta de classes”. Portanto, não são os heróis que constroem sozinhos a História, mas, o fazer histórico acontece entre as categorias de bases da sociedade, ela é feita de acontecimentos que ocorrem dentro de um tempo histórico e de um espaço que não podem ser ignorados nesse ensino. O tempo histórico se relaciona com os fatos que são intencionalmente provocados pelos homens, e essa intencionalidade se revela à medida que se percebe os diversos tipos de interesses presentes nos acontecimentos que podem contribuir para uma mudança significativa ou podem ainda representar uma permanência das estruturas antigas da sociedade. Para se certificar do que estou falando, basta analizar o que Leonardo Boff fala a respeito da abolição da escravidão em 1888. Veja:

“Hoje eles perfazem cerca de 60 milhões de habitantes, os brasileiros afro-descendentes. Ao serem libertos, foram jogados da senzala diretamente à favela, sem terem recebido um pedaço de terra, um instrumento de trabalho ou qualquer outra compensação. Foi uma perversidade cujas conseqüências pesam enormemente sobre a população negra e pobre do Brasil até os dias de hoje, na forma como habitam, na saúde, na educação, no cultivo das artes e ofícios”. (BOFF- Folha Dirigida. Especial dia do Professor- Edição 2001)

A abolição foi um exemplo de mudança e permanência. Mudança em que sentido? Ora, no sentido de ter acabado com o pior abuso da humanidade, no entanto, se percebe ainda os traços de permanência daquilo que ficou desse processo mal feito. Por que foi um processo mal feito? Veja só, os negros só foram libertados por imposição e pela pressão da Inglaterra que precisava de uma nova mão-de-obra para a indústria emergente, no entanto, ao assinar a Lei Áurea, nem a princesa Isabel, nem o imperador D. Pedro II garantiram o direito à cidadania aos negros. Eles foram jogados para os morros!

O que mudou? Mudou foi aquele regime de escravidão. O que permaneceu? Permaneceu aquela estrutura escravista, a estrutura econômica, a estrutura fundiária, a visão religiosa católica e protestante tão recheada de preconceitos. Os ritos africanos no Brasil ainda são vistos como coisas do mau, a Umbanda, a Quimbanda e o Candomblé são alvos de perseguição. Até na música e os ritmos afros sofreram preconceitos, o samba por exemplo.

“Considerado um dos traços mais fortes de nossa identidade cultural, o samba foi perseguido pela polícia no início do século passado. Mas conquistou a classe média, tornou-se um símbolo da nacionalidade e até hoje mobiliza multidões com seu ritmo cadenciado”.( Jornal da Comunidade Edição nº 1017, de 24 à 30.05.2008)

Não mudou o tratamento que se oferece aos trabalhadores que ainda tem uma carga horária trabalhista puxada entre 8 a 12 horas por dia, sem contra mais as horas extras, não mudou a maneira etnocêntrica de olhar o outro, enfim, a visão política e o modo de conduzir o país não mudaram muito. A História é uma disciplina que propicia fazer esse tipo de discussão e análise com os alunos, por isso que defendo a tese de que a história enquanto construção coletiva constitui o meio para ampliar a nossa maneira de enxergar as coisas. Como afirma Ferreira Gullar, “A História humana não se desenrola apenas nos campos de batalha e nos Gabinetes presidenciais. Ela se desenrola também nos quintais entre plantas e galinhas, nas ruas de subúrbios, nas casas de jogos, nos prostíbulos, nos colégios, nas usinas, nos namoros de esquina. Assim, podemos compreender que o fato histórico e à produção do próprio conhecimento histórico, é correto afirmar é algo dinâmico e que acontece no dia-dia. O fato histórico não tem que ser, necessariamente, um grande acontecimento; ele também se faz no cotidiano das pessoas e nos lugares mais simples.

Uma concepção de Educação.

Pra começar a falar sobre a minha concepção de educação, quero iniciar com uma pergunta feita pela Folha Dirigida a Leonardo Boff:

“Qual o papel da educação no processo de libertação dos povos oprimidos?”

Segundo Michael Hammer, educação é aquilo que resta quando nos esquecemos tudo o que nos foi ensinado. Obviamente que o que resta é o que de fato se aprende. Mas para isso a educação tem que ter significado para quem aprende. Educação é muito mais que aprender, é aquilo que se leva para sempre da escola, é um conceito abrangente que começa em casa e continua na escola e atravessa a uma vida inteira, ou seja, estamos sempre sendo educados e reeducados, a vida toda. De acordo com o dicionário educar origina-se do latim EDUCARE e o sentido dessa palavra está relacionado com: desenvolver as faculdades físicas, intelectuais e morais. Dar educação, instruir, doutrinar, domesticar, aclimatar, adquirir dotes intelectuais, instruir-se. Todos esses significados estão presentes na origem do temo EDUCAR, no entanto, não se pode conceber essa tarefa tão importante como algo domesticador do ser humano. A educação deve ser politizadora, formadora de opinião e deve ser crítica. Ela não deve estar a serviço do “status quó”, mas do cidadão. A educação tem uma função e um papel a cumprir.

“O papel da educação é fundamental na gestação do homem e da mulher novos, capazes de gerar estruturas e hábitos não opressivos e inauguradores de relações onde não seja tão difícil o amor social e a convivência fraterna. Se não conseguirmos gestar pessoas liberadas, não se alcançará nunca a libertação ansiada. A educação libertadora quer criar operadores de crítica e de transformação da realidade e não agentes reprodutores do sistema imperante. Não visa a criar consumidores dos bens culturais dados, mas cidadãos livres e criativos, plasmadores de seu próprio destino”. (BOFF — Folha Dirigida. Especial do dia do Professor. Edição 2001)

A educação deve ser para toda vida, deve abrir o caminho para que o indivíduo próprio se liberte daquilo que o oprime.

Como fazer isso?

Como fazer que o oprimido se faça sujeito de sua própria libertação, e como ele, com seus grupos, pode elaborar um projeto alternativo, no qual se superem as relações desiguais entre as pessoas, os gêneros e na sociedade?

Primeiro, é preciso acabar com essa concepção paternalista que se encontra impregnada na educação de que o aluno deve receber tudo de mão-beijada. Precisa parar de passar a mão na cabeça do aluno e tomar uma postura mais rígida que exija dele maior esforço para passar de ano e mais disciplina para que possa aprender com seriedade e compromisso. É o que falta nas escolas que aderiram o laissez-faire, onde o aluno pode tudo e o professor não pode nada. A instituição escolar precisa mudar e a concepção de educação também. Acredito que é o que Paulo freire quis dizer abaixo, veja:

“Uma educação de qualidade não vive apenas de generosidade e criatividade de seus operadores. Ela precisa de uma infra-estrutura adequada que desonera os educadores de demasiadas preocupações com a sobrevivência e lhes forneça os instrumentos para realizar a obra educativa. Educar, já se disse, não é encher uma vasilha vazia, mas acender uma luz nas mentes dos educandos. Honrar essa missão implica que se mantenha um nível digno de salários e que haja investimentos fortes nos processos educativos. Sem a educação nenhum povo deu o salto de qualidade rumo a sua autonomia e ao pleno desenvolvimento.” (BOFF — Folha Dirigida)

Paulo Freire, autor da Pedagogia do Oprimido e da Educação como Prática de Liberdade, apresenta a sua concepção de educação como um meio para que o indivíduo alcance a sua liberdade, como um meio que leve o indivíduo a se livrar as algemas ideológicas capitalistas que o prendem ao sistema e o torna refém dele. Isso lembra o Mito da Caverna de Platão que apresenta um grupo de cavernosos, homens acorrentados que vivem a contemplar sobras daquilo que é real no fundo obscuro da caverna. Eles acreditavam em tudo aquilo que o líder lhes dizia e nas sombras projetadas na parede da caverna, até que um dos cavernosos se libertou e fugiu. Lá fora ele se deparou com a realidade e depois voltou à caverna para contar as novidades, mas os cavernosos quiseram matá-lo e o chamaram de impostor. O papel da educação é ajudar a romper com as correntes que prendem mãos e pés dos oprimidos pelo sistema, no entanto, para realizar esse papel libertador como sonhou Paulo Freire não é fácil, muitos entraves se colocam à frente dos que acreditam nessa possibilidade, talvez por isso que Mário Covas teve a infeliz idéia de reduzir as aulas de História de 4 para 2 na sua gestão. A

A educação deve ser libertadora, não paternalista!

Escola: o que é?

A escola é uma das instituições mais antigas. No grego significa “scholé”, que significa lugar do ócio. Na Grécia Antiga, as pessoas que dispunham de condições sócio-econômicas e tempo livre, nela se reuniam para pensar e refletir. A escola não foi feita para o pobre, mas para as elites privilegiadas. Mesmo no Brasil a escola era destinada aos filhos dos nobres, era uma escola elitista e elitizadora. Na Idade Média a escola era um lugar para preparar as pessoas para exercer o sacerdócio, os jesuítas no Brasil implantaram as primeiras escolas também com o mesmo objetivo, era um ensino propedêutico, ou seja, que visava preparar o indivíduo para passar num vestibular, essa era a função da escola tradicional e tecnicista. Em 1932 houve um movimento chamado “os pioneiros da educação” que apresentaram uma proposta diferente para que se pudesse existir uma escola lúdica, mais democrática e laica, nos anos 70 a concepção de se construir uma escola democrática e para todos foi reforçada e houve diversas manifestações em função desse ideal, nos anos 90 começou-se a disseminar no Brasil a idéia de uma educação e uma escola inclusiva. Paulo freire já definiu o modelo de escola que acredito ser a ideal, e essa definição veio em resposta a entrevista que deu à Folha Dirigida:

“O que é fundamental existir na escola para que, ao sair dela, o aluno leve consigo seu certificado de cidadania. De qual instrumento a escola deve dispor para formar cidadãos conscientes de seus valores sociais, morais, culturais, éticos e étnicos?”

Boff respondeu: “A melhor formação para a cidadania é aquela em que o estudante seja confrontado com as realidades nuas e cruas à sua volta. A realidade complexa e, não raro contraditória, obriga a pensar. O estudante interage com ela, aprende a identificar as causas dos problemas sociais, identifica valores vividos pela população e, no diálogo, busca alterntivas viáveis. Esse processo de ligação escola-comunidade significa uma verdadeira escola de democracia participativa. Ele forja os cidadãos adequados a essa forma de relacionamento, considerado como o melhor excogitado pela filosofia política.” (BOFF- Folha Dirigida)

É isso que se espera da escola, que ela forme o aluno, que ela seja democrática, integradora e que o conhecimento nela produzido ultrapasse os seus limites e atinja a comunidade. Escola é um lócus privilegiado da produção cultural!