O deficiente mental me revela minha própria pobreza

O deficiente mental me revela minha própria pobreza

"O pobre, o deficiente mental me revela minha própria pobreza, e, quando descubro minha pobreza, tenho mais necessidade de Deus". Assim considera Jean Vanier, fundador das comunidades da Arca, que ofereceu um retiro sobre como viver a diferença em um mundo plural no fim de semana passado no seminário da localidade de Vic (Espanha).

Sobre as comunidades que fundou no ano 1964 e que atualmente oferecem a pessoas com problemas psíquicos mais de 100 lares com oficinas de trabalho, espalhadas em 30 países de todo o mundo, onde se compartilham vida e atividades, Vanier explicou que "ao iniciá-las, queria mostrar aos pobres o quão importante eram, isso vivendo com eles".

"Então descobri que aquilo era um caminho do Evangelho porque o pobre nos faz viver na verdade — explicou: todos somos pobres e condenados à morte; todos somos frágeis, todos queremos demonstrar que somos melhores que os demais; desta maneira, sempre estamos fugindo do mais importante de nós e verdadeiramente não sabemos quem somos".

"As pessoas com deficiência mental me mostram qual é minha deficiência — continuou. Sua violência revela minha violência; começamos a descobrir a verdade de nosso interior e então começamos a descobrir também a verdade de Deus".

"A pessoa deficiente que acolhe sua deficiência mostra-me a dificuldade que tenho para acolher minhas próprias debilidades, de maneira parecida às pessoas que vão morrer e que, quando acolhem a morte, revelam nos que cuidam delas seu medo de morrer", prosseguiu.

"Por isso, a Arca é um caminho para Deus — acrescentou Vanier. Um caminho de pobres, porque para acolher Jesus há que ser pobres; Ele mesmo, que é a beleza do Verbo de Deus, é um grande pobre, mas um grande pobre que acolhe a força de Deus; não há cristianismo se não descobrimos nossa pobreza".

A solidariedade e o sentido de culpabilidade

"A coleta de uma quantidade tão grande de dinheiro para as vítimas do tsunami nos mostra muitas coisas sobre a solidariedade, sobre a capacidade de compaixão do coração humano, mas também sobre a culpabilidade", assinalou Vanier.

"Como vivemos tão bem e temos tantas coisas, não podemos ver na televisão pessoas que perderam tudo —explicou. No ser humano existe um desejo de ajudar, que também se mostra para com as pessoas deficientes, mas que por sua vez se choca com o desejo de querer desvencilhar-se desta pessoa diferente".

"É inegável que a pessoa diferente nos desgosta — continuou, referendo-se mais concretamente aos deficientes — e muitos enfrentam estas pessoas internando-as em instituições ou matando-as antes de nascer".

Para romper as discriminações ante as pessoas deficientes, o fundador das comunidades da Arca propõe "encontrar-se verdadeiramente com elas" e descobrir o que nos revelam sobre nós e a presença de Deus nelas.

Ante a enfermidade e a morte, Vanier aconselha não passar demasiado tempo perguntando-se por elas ou com disputas teológicas, mas passar mais tempo acolhendo e ajudando: "O importante não é perguntar-nos o porquê do sofrimento, mas pôr-nos em caminho para aliviá-lo — assinalou. O importante não é perguntar-nos o porquê da morte, mas pôr-nos em caminho para acompanhar as pessoas a fenecer".

Fonte: ZENIT.org

santidadesh
Enviado por santidadesh em 21/03/2006
Código do texto: T126459