A TORCIDA DO MUNDO

Partamos de dois conceitos. Um agrupamento natural de homens, fixos em um território, ligados por tradições e lembranças, origens, língua, interesses e aspirações comuns, ou por qualquer outro motivo que os vincule entre si, organizados política e administrativamente de forma a constituírem pessoa jurídica de direito público reconhecida internacionalmente: eis uma Nação. A centralidade política e jurídica de uma nação, operada por um governo próprio munido de poderes de coerção para o fim de organizar e manter um protetorado da vida civil: eis um Estado.

Refletindo sobre esses conceitos, é de se deduzir que a nação, para se manter como tal, necessita do estado, e que o estado subsiste na dependência direta da nação. Dessa dedução, nasce uma outra: nação e estado são solidários, no sentido que a etimologia indica: ser solidário é pertencer a um conjunto in sólido, como se dizia em latim, isto é, “para o todo”.

Então, segue que o “agrupamento natural de homens (e mulheres e crianças)”, portanto, o Povo, que vem na frente e que é a nação, em última instância, contém o Estado, e, por isso, deveria controlá-lo; mas não controla. Não controlado, o estado faz o que quer. E faz errado, ou, pelo menos, errado em relação aos interesses da nação, mesmo em sendo ela a mais poderosa nação do mundo. Estado que não faz errado não faz crise. E é possível que um dos mais fortes motivos que levam a erros seja a Ostentação. Como qualquer droga, a ostentação seria porta de entrada para outras "drogas". Resulta daí que muita gente pode haver sentido na alma a dor que ela deixa. E que essa dor, de seu lado e não oriunda de ostentação própria, pode e deve insidiar-se na maioria das gentes. Talvez, “o mundo” haja torcido por Barack Obama por isso.

A biografia do moço tem uma faceta que a ostentação não inveja. Já ele, o moço, tem um lado com o qual ela, absolutamente, não combina: o lado da simplicidade. Segundo algumas inteligências agudas, uma virtude: que somente estaria ao alcance dos sábios.

Para Comte-Sponville, “a Simplicidade é a mais leve das virtudes, a mais transparente e a mais rara. É o contrário da literatura: é a vida sem frases e sem mentiras, sem exagero, sem grandiloqüência. É a vida insignificante, a verdadeira vida”. E que “o simples faz o que faz, como todos nós, mas não vê nisso matéria para discursos, para comentários, nem mesmo para reflexão”.

A simplicidade é, pois, aquilo que combina com a imensa maioria do povo, que não ostenta nem quer ostentação, mas emprego digno, salário digno, moradia digna. E tudo o mais lhe será acrescentado.

Ora, a Simplicidade parece haver estado ao alcance de Obama. E a torcida do mundo a seu favor e sua eleição naquela que é a mais poderosa nação do planeta devem representar um grito de alerta contra a ostentação e contra a opulência. E, de fé, na Sabedoria.

José Izidro Manoel

izidro.jim@hotmail.com