ENSINO DE LÍNGUAS

O texto é a base da reflexão e prática docente em todas a instâncias e circunstâncias. É lamentável, entretanto, que apesar de tantos estudos sobre a importância da utilização dos textos, o processo ensino-aprendizagem continue no Quinhentismo, catequizando e colonizando alunos para a “salvação” e “redenção” pela adoração estúpida às regras gramaticais.

Convido-os, entretanto, a focarem a atenção no conceito superficial de texto corrente em todos os níveis da educação. Em detrimento da existência de inúmeras teorias sobre a noção de texto, estudantes e professores continuam percebendo e trabalhando equivocadamente o ensino-aprendizagem da língua portuguesa e, seguindo com a língua estrangeira pelo mesmo caminho. Parece até que o mundo é habitado apenas por pessoas que ouvem, falam, leem, veem e escrevem.

Assim que pronuncia a milagrosa palavra texto, o professor abre a pasta e puxa uma folha de papel, o aluno abre o caderno ou procura a apostila, o livro.

Abandona-se a visão macro, o geral. Esquece-se a oralidade, a conversa informal, a musicalidade, o filme, a novela, o comercial, a careta, o desenho, o vestuário, a Libras e o Braille. A palavra texto passa a ser, então, encarada no cotidiano escolar à semelhança de um signo lingüístico portador de apenas um significado.

Ainda perguntaríamos se o olfato e o paladar não contam nos textos, na comunicação? Pensem um pouco sobre os comerciais e quando, quanto, como e porque influenciam tanto as pessoas.

Em entrevista à Revista Nova Escola (2008), o psicólogo suíço Bernard Schneuwly, considerado um dos mais importantes estudiosos da oralidade, afirmou que é papel da escola “ensinar o aluno a utilizar a linguagem oral nas diversas situações comunicativas, especialmente nas mais formais”, a exemplo dos gêneros seminário, entrevistas, debates, exposições, diálogos com autoridades e dramatizações.

Citando ainda a mesa revista (2008), na seção Sala de aula/Língua portuguesa e sobre o tema A fala que se ensina, encontra-se a seguinte afirmação:

“Ainda que a exposição oral seja mais comum nas séries finais do Ensino Fundamental, ela pode ter lugar desde os primeiros anos”

A história do ensino de língua estrangeira, por sua vez, se movimenta no Brasil desde o início do século XVI até alcançar os Parâmetros Curriculares Nacionais que sugerem procedimentos pedagógicos adequados às transformações sociais e culturais do mundo contemporâneo.

O pensamento moderno sobre o ensino de línguas estrangeiras é baseado na teoria sociointeracionista, do psicólogo Lev Vigotsky. Essa concepção critica as abordagens e métodos que valorizam apenas as questões relativas à cognição e a comportamentos (aquisição de hábitos lingüísticos), desconsiderando o contexto social, a interação e a mediação, que pode ser feita com internet, livros, revistas, DVDs e CDs, unindo audição, visão, fala, leitura, escrita e recursos da tecnologia moderna.

Declaramos a nossa rejeição ao ensino puramente gramatical, da regra pela regra. Mas, não esquecidos de que, geralmente, qualquer um que afirme tal coisa é mal entendido e mal interpretado. A propósito, aproveito pra lançar algumas perguntas:

A que se atribui o fracasso escolar em todos os níveis quanto ao desempenho auditivo, oral; de leitura e escrita da língua portuguesa _ extensivo ao processo ensino-aprendizagem de línguas estrangeiras? Por que se ensina tanto e se aprende tão pouco? Por que alguns sabem de cor algumas regras gramaticais e não conseguem escrever uma só página? Por que a redação é o bicho-papão de qualquer concurso? Por que formandos nas universidades têm tantos problemas com a produção do Trabalho de Conclusão de Curso e a sua apresentação perante uma banca examinadora? Quantas pessoas você conhece que interpretam e produzem textos falados ou escritos em língua estrangeira? Você consideraria isto possível se até na língua nativa não se está conseguindo?Você refletiu sobre a sua escolha por um curso de Letras com língua estrangeira?