OS PROBLEMAS DOS MORTAIS ATINGEM O OLIMPO

Prenderam um juiz por beber depois das 23 horas. Aliás, nem deram tempo para comprovar se ele tinha bebido ou não. Prenderam-no porque estava num bar depois das 23 horas. Se estivesse bebendo ou não, não faria a menor diferença. Afinal, nunca foi crime beber. O crime consiste em estar em local público, sem segurança interna e sem estacionamento depois das 23 horas, onde rola algum som sem isolamento acústico.

Sem querer minimizar o constrangimento do dr Bismark, devemos dizer que tratamento semelhante é dispensado semanalmente a empresários da noite. Muitos deles presos pelo crime de trabalharem depois das 23 horas. Por quererem atender seus clientes no horário em que estes querem ser atendidos. Em Manaus, graças a uma lei mal copiada e pior regulamentada isto se tornou crime. A função da polícia está desvirtuada graças à paranóia de alguns que vêem na atividade lúdica com bebida uma coisa demoníaca. Passaram anos prendendo e atropelando os direitos das mães e pais de família que são os doutores das almas em seus estabelecimentos. Agora prenderam um doutor da lei.

Este que vos escreve já publicou outros 20 artigos alertando que aconteceria exatamente isso, uma vez que a lei é discriminatória. Lamentável é o fato da polícia prender um juiz em seu lazer, quando deveria estar caçando marginais, mas não poderia dar outra coisa. Uma lei que estimula a truculência policial, que atrapalha o turismo, que já desempregou mais de seis mil pessoas e que não mostrou queda na violência nem deveria ter chegado a nossa cidade. Foi copiada num CtrlC, CtrlV pelo vereador Leonel Feitoza num arroubo de demagogia quando queria caçar os votos dos evangélicos. Conseguiu: está ai, reeleito e pronto para assestar sua caneta e eliminar mais empregos.

Agora que o problema dos mortais chegou ao Olimpo, talvez as autoridades acordem e concentrem suas atividades para onde devem ser concentradas: a prevenção e a contenção da violência.

O setor de bares e restaurantes é o que mais emprega no Brasil. Em Manaus o número de pessoas ocupadas com esta atividade é maior que o do PIM. Contudo muitos dos donos de estabelecimentos ainda se curva ante à corrupção policial e às exigências estapafúrdias que surgem a cada dia, como se sua atividade fosse criminosa. Quando estão tentando cumprir normas novas vêem seu estabelecimento invadido por um contingente de policiais armados. Sem querer ver um único documento do estabelecimento, simplesmente lacram as portas impedindo uma atividade legal e causando constrangimento a todos os freqüentadores. Por serem gente de pouca influência não conseguem chamar a atenção para este crime, como o fez o Juiz Bismark Gonçalves.

Esperemos que com este puxão de orelhas as autoridades responsáveis pela segurança pública assestem suas catapultas contra os verdadeiros bandidos e deixem de discriminar empresários apenas porque tiveram a coragem de se estabelecer em lugares onde o poder público não costuma chegar.

Este colunista ainda sonha com o momento em que autoridades e donos de estabelecimentos andem de mãos dadas para impedir o caos. Se continuasse a fúria lacradora, em pouco tempo veríamos lacrados os bares da calçada da Suframa, das praças do Dom Pedro e Tocantins, da Praça do Caranguejo no Eldorado entre tantas outras. As pessoas voltariam a beber dentro de seus carros, em qualquer rua, em qualquer lugar e perturbariam os vizinhos além de se tornarem vítimas de traficantes e assaltantes.

Às vezes se torna necessário que a lama dos mortais respingue nas vestes dos deuses do Olimpo para que estes acordem para a realidade.

Luiz Lauschner – Escritor e empresário

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Luiz Lauschner
Enviado por Luiz Lauschner em 24/11/2008
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