O Sexo está na Cabeça
 
            O título não embute nenhum trocadilho malicioso, embora o leitor acostumado a algumas de nossas crônicas bem-humoradas venha logo começando a rir. Tire, portanto, o gracejo do pensamento. Conversava com uma colega de trabalho a respeito das inclinações sexuais que crianças e adolescentes manifestam e que pendem para o lado oposto do sexo que lhes marcou, por nascença, o corpo físico.
            Devo esclarecer que sou daqueles que acredita que o Ser Humano nasceu, em essência etérea ou espiritual, antes da formação do corpo, e que carrega no íntimo traços de personalidade que vêm de outras existências, sendo muitas dessas transcorridas em dimensões com as quais nem sonhamos. Assim, acumulei provas infinitas, durante minha curta existência, que atestam a força desta tese. Digo que é uma tese, pois não tenho prova cabal e definitiva de tal assertiva, que possa ser demonstrada diante dos olhos do leitor e martelada em sua consciência de forma sólida como o cravar de um prego rompendo-lhe os ossos do crânio. A descoberta dessas verdades é uma jornada que o leitor deverá percorrer e que se mostrará repleta de êxito, caso consiga despir-se de preconceitos e busque uma reflexão isenta de dogmas religiosos culturalmente impostos.
            Desde que se aceite a existência e a preexistência de uma alma, muito anterior à formação do atual corpo físico, o leitor poderá compreender e confrontar pessoalmente a coerência do pensamento em questão.
           Discutíamos que alguns meninos pendem a brincar de bonecas, enquanto meninas despertam desejo de jogar futebol, de participar de lutas e rejeitam as sutilezas do universo feminino típico. Logo vem alguém desejando mudar a ¨natureza¨ afirmando:
            - Tem-se que consertar desde cedo para que o pior não aconteça.
            A opção por adotar-se uma sexualidade não natural é ainda vista como um câncer, como uma doença a ser rapidamente extirpada, como se o contágio fosse abalar de modo firme a vida da pessoa traçando um caminho infeliz.
            Certo é que a criança, através da família e da sociedade, vai aprendendo, de modo nem sempre lúcido, a delimitar-se no mundo e passa a compreender as diferenças entre os sexos e passa a afirmar-se ou não no campo sexual coerente ao corpo físico no qual se investe. Ficamos felizes quando descobrimos que nosso filho é homem (com ¨H¨) e nossa filha é uma mulher exuberante na feminilidade. Louvamos nesse momento a Deus e agradecemos por nos livrar do ¨pior¨. Esquecemo-nos que essa atitude embute um preconceito explícito que não fazemos a mínima questão de esconder.
            A ilusão nos faz crer que devemos nos aprisionar e seguir o ¨roteiro do destino¨, vivendo de acordo com a sexualidade que nos foi imposta pela natureza. Creio que desvios e abusos sexuais de qualquer tipo devam ser evitados, pois conduzem o indivíduo a perder o verdadeiro referencial da vida que é caminhar para a perfeição, conforme asseverou o Cristo.
            E como lidar com aqueles que nitidamente optam por negar a natureza e viver uma sexualidade antagônica ao que lhe foi imposto?
            Não sou perito no assunto, mas creio que a palavra ¨aceitação¨ é um bom guia para lidar com qualquer pessoa que carregue uma eventual diferença que a nossa ignorância não compreende.
            Aceitando a preexistência da alma, saberemos que um Ser carregando predominantemente na sua psique atributos masculinos, terá uma existência conflituosa ao nascer em um organismo feminino, procurando viver de acordo com os padrões sociais vigentes, mas carregando no íntimo uma inclinação irresistível. O mesmo se dá com o Ser Feminino ao ver-se enclausurado em veículo masculino.
            E por que Deus permite às criaturas tal ordem de acontecimentos? Seria uma punição? Pelo contrário, pode ser até mesmo um prêmio. Adotando-se a ótica que todos devemos evoluir para a perfeição, a existência corporal em um organismo contrário à nossa íntima inclinação sexual, é um mecanismo que permite ao homem aprender coisas que somente as mulheres sabem e às mulheres aprenderem como funciona o universo masculino.
            No entanto, devemos observar que tal dispositivo somente será adotado em casos extremos, pois a sabedoria pode ser conquistada através do entendimento, estando o Ser disposto a compreender e a aceitar o mecanismo de vida e as condições do sexo oposto.
            O instrumento pode, em muitos casos, realmente servir de punição, quando o Homem ou Mulher, dentro da ótica espiritual, houver abusado em alguma existência anterior, da sua condição e assim ver-se vítima de mecanismos que ele mesmo provocou. Veja que não se trata de punição em si, no campo que entendemos, mas de um mecanismo educativo que acentua e acelera o aprendizado. Nossos deslizes e faltas exigem reparação conforme Decreto Universal do qual não se pode furtar. Podemos, então, consertar o mal com a prática infinita do bem, aceitando as condições que a natureza nos impôs, pois é o caminho evolutivo que precisamos trilhar para alcançar a plenitude.
            Mesmo que sinta que o veículo físico não é o que atente para as suas necessidades íntimas, aceitar a condição e procurar viver de acordo com a oportunidade que a experiência oferece, poderá livrar o indivíduo de conflitos que poderiam infelicitá-lo.
            A sabedoria ensina que amar ao próximo é uma matriz que conduz ao sucesso no campo dos relacionamentos. Simplesmente amemos aos nossos irmãos que manifestam inclinações que não compreendemos, pois sabemos que se encontram no curso de um difícil aprendizado que a nossa mão amiga poderá ajudar a enfrentar sem maiores julgamentos. Quanto aos irmãos envolvidos em tal processo, exercitar a tônica do perdão em relação a uma sociedade doentia e perturbada, tão carente de maiores elucidações de cunho espiritual, é uma ótica redentora que poderá auxiliar no transcurso de mais uma valorosa e útil existência. Que em paz caminhemos todos juntos...