Dossiê esportivo

Numa atitude no mínimo mesquinha, a atual diretoria do clube Flamengo (RJ) resolveu compor um dossiê mostrando “erros” do árbitro que conduziu o jogo de futebol no dia 23/11/2008 em Minas, onde o clube carioca foi vencido por 3x2. Na verdade, tal atitude serve como “cortina de fumaça” para iludir os decepcionados torcedores pela falta de competência em obter vitórias em jogos anteriores em seus próprios domínios. Se tal tivesse acontecido, certamente estaria pelo menos uns 5 pontos na frente do virtual campeão São Paulo.

Se a moda do dossiê pegar, times como Vasco (RJ), Fluminense (RJ), Botafogo (RJ), Atlético (MG) e tantos outros, poderão compor grossos compêndios sobre partidas onde foram visivelmente prejudicados e cuja polêmica (constante) já foi abandonada pela imprensa ávida por vender manchetes que desviam a atenção dos leitores dos problemas sociais que afetam a qualidade de vida das populações.

Além do mais, um dossiê deste tipo não deve incomodar a FIFA, pois ao longo dos anos temos visto cada barbaridade nas arbitragens européias e nem por isto foi montado um arquivo para acabar com a carreira dos árbitros. Na copa de 1966, Portugal foi prejudicado. A Inglaterra ganhou de presente um gol (e o título) contra a Alemanha numa bola que bateu no travessão e tocou o campo a mais de 80 cm da linha da meta. Na copa de 1986, a Argentina teve um gol de mão de Maradona validado contra a Inglaterra e por aí vai. Se citarmos os enganos acumulados nos últimos 50 anos, produziremos um livro cujas páginas empilhadas atingirão a Lua!

Partimos do princípio que os árbitros são honestos em seu julgamento. Eventualmente a cada 1000 partidas pode acontecer de um deles receber uma pressão para não “prejudicar” o time que deve vencer para atender interesses políticos. O fato básico, na minha visão, é que o futebol atual está mais dinâmico e veloz e um árbitro com mais de 40 anos não tem capacidade para estar 100% do tempo perto da bola, sem obstáculos no seu campo de visão e com o raciocínio pleno para decidir em 1/10 s sobre um lance truncado. Tais polêmicas poderiam ser reduzidas se a experiência realizada em São Paulo há mais de 5 anos tivesse sido aprovada: um juiz em cada metade do campo. O Futsal que tem uma quadra bem menor utiliza tal expediente, provando que o modelo é viável.

Portanto, a atitude do clube citado no início desta narrativa apenas demonstra a intenção de camuflar seus enganos. E deve tomar cuidado para que sua idéia não detone por parte da pessoa que pode ser prejudicada, a intenção de criar um dossiê para reabrir aquele antigo caso das “papeletas amarelas” da década de 90, fato que foi prontamente abafado pela força política dos que não se sentem à vontade para expor as feridas no sentido sanar os males com remédios amargos, mas eficientes.

Por isto o Brasil está numa situação curiosa: tem o maior celeiro de craques da pelota, mas os perde para o rico mercado europeu e asiático, pois não temos capacidade financeira para mantê-los em nossas fronteiras. Conseqüência da desconfiança que os prováveis patrocinadores alimentam sobre dirigentes esportivos que desperdiçam os recursos arrecadados em seus clubes em projetos sem transparência.

Da mesma forma que os dirigentes políticos desperdiçam nossos impostos.

Se desejar saber mais, solicite meu texto “Tem capim na pizza” que escrevi em 1997, foi publicado em 2001 pela Tribuna da Imprensa (RJ) em 2001 e continua bem atual.

Haroldo P. Barboza – Vila Isabel / RJ – Matemático, Recreador e Poeta.

Autor do livro: Brinque e cresça feliz!

Haroldo
Enviado por Haroldo em 27/11/2008
Código do texto: T1306473