Natal, de fato!

Uma peça indiana torna-se a nova sensação do mundo “fashion”. Uma jóia com adesivo para ser colada entre as sobrancelhas e acima dos olhos, preenchendo aquele espaço um tanto nu do rosto. Há quem prefira no colo, acima do busto, ou em qualquer parte visível do corpo. Contrário aos brincos e aos “piercings” usados nas narinas ou no umbigo, aflora a sensualidade morena oriental e, aos poucos, vai invadindo o mercado global.

O ser humano traz no subconsciente o processo de constante evolução e diversificação, fato que gera fantasias em forma de adereços, alterando o produto original, conferindo-lhe um clima de novo, mesmo se tratando de algo do corriqueiro dia-a-dia. São combinações até simples, mas que alteram o visual excitando o prazer para o seu aproveitamento. Tudo gira em torno da satisfação pessoal e as fantasias são inúmeras. O objetivo é camuflar a realidade medrosa em que vivem e, nesse contexto, enaltecer o que o tempo se encarrega de destruir.

Para melhor exemplificar, tomemos uma casa construída para moradia: Sua função é proteger quem nela habite das intempéries. No entanto, a decoração, o projeto arquitetônico, os móveis e as cortinas elevam a satisfação do usuário. O que dizer, por exemplo, da água pura que sendo inodora, insípida e incolor, satisfaz qualquer sedento? Já uma vez servida em copos apropriados, não só sacia a sede, como é degustada...

Nas relações íntimas; o ato sexual, algo comum entre as pessoas, vem envolto por tabus, timidez ou orgia causada por padrões sociais. A insegurança e o “stress” diário fazem com que os “manos” busquem nos “baseados” a coragem. Os privilegiados não abrem mão dos trajes de noite, dos ambientes confortáveis, do champanhe ao gelo à meia luz. Mas, depois da dança, do entrelaçar dos corpos mesclando águas-de-cheiro que aliviam os odores corpóreos; quando, numa cama redonda, com espelho no teto, faz-se à conclusão de tantas alegorias, vêem-se corpos despidos e desprotegidos; numa busca, quase inconsciente, de seu verdadeiro ser.

Final de ano, ápice das fantasias! Como não poderia ser diferente, o Natal não é exceção à regra estando infestado por adereços. À primeira vista, vemos o Natal comercial: “Papais Noéis” em cada loja, cheques pré-datados, cartões de créditos, promoções exorbitantes com produtos de baixa qualidade abarcando todo o décimo terceiro salário, alimentando os juros altos, a Cpmf...

Temos, também, o Natal extravagante onde a “galera toma todas” e sai vomitando pelos cantos, entre quebra-quebras, produzindo estilhaços de vidro pelas ruas; sanitários públicos danificados, pessoas urinando em ambientes particulares, dormindo em sarjetas...

Não poderia faltar o “Natal das Farturas”. Nele, as campanhas e bingos arrecadam alimentos e brinquedos para serem distribuídos aos menos favorecidos, engodo para disfarçar a entrada de um ano recessivo.

Por fim, o Natal luminoso: presépios , preces, cultos e novenas. Todos saúdam o recém-nascido, humilde, mas com grande ideal; tão grande que o transformou no mais importante Ser da história. Vêem-se, também, muitas luzes nas casas; as quais, além de enfeitar, revivem aquela criança, cheia de sonhos, que a vida moderna sepulta em nós. E, para o Aniversariante, razão de toda empolgação, muitos pedidos e nenhum parabéns...