o duplo apostolado de paulo

PALAVRAS DE VIDA

Pr. Serafim Isidoro.

O DUPLO APOSTOLADO DE PAULO

(Texto I)

Apostolo, palavra greco-koinê da Nova Aliança, significa enviado. Apostelô é o verbo enviar. Apostolo, usado como adjetivo qualificativo indica um cargo, uma missão que na teologia apostólica só seria usado quando o indivíduo tivesse o privilégio de ter visto o Senhor Jesus. No desenvolvimento do ministério terrestre do Senhor, doze homens, judeus, foram escolhidos, após exaustiva noite de oração, ao descer do monte, quando Jesus chamou-os pelos respectivos nomes e lhes deu este honroso, mas difícil título.

Já era do boulê (plano) de Deus, que um destes apóstolos tivesse a desventura de trair o Mestre com um beijo. Lá pelos idos mil anos antes de Cristo, o salmista profeta cantava o fato daquele que lança com o Senhor a mão no prato, mas que levanta contra Ele o seu calcanhar - expressão judaica para significar traição, acusação. Essa pleiade de homens, por Deus escolhidos, conviveriam três anos e meio com Jesus, acompanhando-O nas jornadas da proclamação do reino de Deus aos judeus, na cura dos mais diversos enfermos, na libertação dos oprimidos de espíritos malignos e até, na ressurreição de mortos.

Tais homens renunciaram a tudo, fazendo de suas vidas a prioridade de estar com o Senhor. Atrás ficaram os afazeres dos seus ofícios, de suas famílias, dos seus negócios. Na realidade, eles perderam as suas vidas próprias num período indefinido que acabou sendo do resto de suas vidas. O preço do apostolado foi muito alto. Porém, alto também é o privilégio, pois o livro Apocalípse afirma a posição deles na vida futura - os doze apóstolos - como privilegiados, honrados perante o Cordeiro de Deus. Par a par com representantes das doze tribos de Israel, os doze apóstolos terão exacerbado destaque na glória que há de vir. Só eles. Ninguém mais gozará desta honra.

Estes apóstolos, como discípulos, receberam ordens e mandamentos especiais do Mestre, que exigiu que no desempenho de suas ações proclamatórias do reino de Deus, não levassem bolsas, nem alforge, nem duas túnicas, nem sandálias. Que vendessem e dessem aos pobres os seus bens, despojando-se de tudo o que é lícito para outras pessoas que não os enviados. Mais tarde Ele lhes explicaria que cheios do Espírito Santo que haveriam de receber, seriam feitos mártires do cristianismo. Morreriam assassinados como coroa da missão que receberam. De acordo com a tradição, nenhum deles morreu de morte natural. O apostolado começou com a renúncia própria e terminou com a morte por suplício. Estes são os apóstolos do Cordeiro.

Com a infeliz traição de Judas Iscariótes, o número dos apóstolos baixou para onze, o que procuraram resolver substituindo o lugar de Judas por lançamento de sortes sobre um discípulo chamado Matias, do qual nenhuma menção encontramos mais nos MSs. da Nova Aliança. Os méritos de tal escolha, não nos compete discutir, mas relatos posteriores nos levam à conclusão de que o lugar número doze dos apóstolos, na realidade, não foi preenchido naquela ocasião.

Passaram-se aproximadamente dois anos - plano de Deus - até a conversão de Saulo de Tarso. Então o décimo segundo apóstolo chegou. E chegou com poder e autoridade, esse Paulo. Declara ter visto o Senhor, ouvido a Sua voz, recebido as ordens Dele para o resto da vida deste que seria o porta-voz das revelações de Deus que estiveram escondidas durante séculos, aguardando o dia, o momento, a época da Igreja.

Quão insondáveis são os caminhos de Deus!...

Paulo recomenda-se a si mesmo. Arroga para si o título Apóstolo. "Apostolo de Jesus Cristo, segundo o mandado de Deus". A autoridade de Paulo é tão grande, que não pôde ser contestada por nenhum dos demais apóstolos. Tiago, Irmão do Senhor, discípulo e não apóstolo, fez parte da administração Pedro, Tiago e João. Parece ter tomado o lugar do seu homônimo a quem Herodes matara. Pois esse Tiago passa a apoiar Paulo. Pedro o reconhece. A Igreja o recebe. Paulo, apóstolo, autenticamente reconhecido. Mestre Paulo; (Doutor Paulo); Apóstolo Paulo. Ele faz parte do que poderíamos denominar Colégio Apostólico; Apóstolos Originais; Primeiros Apóstolos; Apóstolos de Jesus.

Mas na Igreja em Antioquia, aparecem mais apóstolos do que aqueles doze, dos quais Paulo agora fazia parte. Barnabé é um destacado judeu, companheiro de Paulo desde a conversão deste, e recebe a denominação Apóstolo. Enviado. O Espírito Santo separa a Paulo e a Barnabé para "a obra a que os tenho chamado". E foram enviados pela Igreja, com imposição de mãos dos Anciãos - Presbíteros - Velhos. Observe-se que O Espírito Santo chama; a Igreja envia. Torna-os Apóstolos - enviados.

Tal acontecimento é do capítulo treze do livro Atos, lá pelo ano quarenta e cinco depois de Cristo, alguns dez anos após o Pentecoste. Parece iniciar-se uma fase diferente na história da Igreja, que ao que julgamos, era até então de predominância judaica. Com exceções da obra de Filipe em Samaria e da conversão do centurião Cornélio, uma Igreja que começara com três mil convertidos em um só dia, pertencia ao ministério de Pedro, o apóstolo da circuncisão. Ainda eram apesar de crentes em Jesus, cumpridores da Lei Mosaica. - At. 21.20.

O fato da Igreja apostolar, enviar, aqueles a quem o Espírito Santo chamara, eleva Paulo a uma dupla missão, a um duplo título, a um duplo apostolado. Ele é apóstolo de Jesus Cristo, por mandado de Deus, mas é também, apóstolo da Igreja de Antioquia. O entendimento de tal duplo apostolado só nos é possível quando exegeticamente estudamos o Livro de Deus.

O termo greco-koinê apóstolos tem, nos escritos da Nova Aliança, duas conotações: como adjetivo qualificativo indica o título, o ofício, a função, o cargo apóstolo, que é privilégio somente dos doze escolhidos de Jesus, número fechado no plano de Deus. Sai Judas, entra Paulo.

O mesmo termo traduzido apóstolo, usado como verbo - apostelô - significa enviar, comissionar, credenciar para uma missão fora da porta. Barnabé não é contado entre os doze apóstolos originais. Mas é apóstolo da Igreja (ou, pela Igreja). Quando Paulo se refere a ter enviado Tíquico a Éfeso, usa o termo apesteila (apostelô)-II Tm. 4.12.

No desenrolar do desenvolvimento da Igreja através dos séculos, muitos têm recebido uma chamada, um chamamento divino ao ministério cristão e têm sido enviados, até, a nações longínquas. Mas a seara é grande e os ceifeiros sempre têm sido poucos. A cada geração há um novo apelo de Deus dizendo: "A quem enviaremos? quem haverá de ir por Nós?". Ao acompanhar estas nossas considerações ao apostolado, talvez o meu leitor sinta nelas como que mais do que os brados de Deus que já lhe foram dirigidos. Venha cerrar fileira nesta gloriosa missão de representar e anunciar um reino que não terá fim: o reino eterno de nosso Senhor Jesus, o Cristo.

Só Jesus.

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O Pr., Th. D., Honoris Teologia, Serafim Isidoro, oferece seus livros, apostilas e aulas de grego koinê. E-mail: serafimprdr@ig.com.br

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