OS INVISIVEISVer a imagem no tamanho original.
“SER ignorado é a pior sensação da vida”(Fernando B.Costa)
O autor desta frase lapidar escreveu  uma tese de mestrado na USP ,que trata da “invisibilidade social”.
O rapaz,psicólogo social,queria provar que,a sociedade nunca leva em conta os indivíduos,apenas a função social;ou,seja,o lugar que cada um de nós ocupa na sociedade.Quem não está bem posicionado neste microcosmo,vira mera sombra,neste universo burguês e cruel.
Para provar(e comprovar)sua tese,Fernando vestiu o uniforme e trabalhou como gari durante 8 anos-isso mesmo,eu disse 8 anos-varrendo ruas na Universidade de S.Paulo.Então pode comprovar como seres humildes,que exercem trabalhos braçais, não são vistos nem enxergados pelas camadas mais bem situadas socialmente.
Trabalhando apenas meio-periodo e,sem ganhar o salário de $400.00 reais,como os seus colegas de profissão,ele começou a valorizar um mero Bom-Dia,que ,muitas vezes,representava uma forma de inclusão,um sinal de que se estava vivo,um sopro de bondade.Tratados apenas como objetos,essas pessoas,tão necessárias para o bom andamento da sociedade,(imagine uma cidade grande,onde não há ninguém para recolher o lixo)vivem como sombras.O autor diz,que,de uniforme,cruzou inúmeras vezes nos corredores com colegas e professores e,NÃO FOI RECONHECIDO;esbarravam nele,e,sequer pediam desculpas,como se tivessem esbarrado num container de lixo ou num poste.Colegas que o abraçavam e seguravam no seu braço,professores que lhes davam tapinhas nas costas,passavam por ele como se nunca o tivessem visto.”-Ás vezes,se um professor se aproximava,eu parava de varrer,esperando que trocassemos uma palavrinha que fosse,”diz ele,mas,que nada;passavam por mim sem me reconhecer.
Chegando em casa o rapaz chorava.Jamais esquecerá essa experiência.Curou-se para sempre desta terrível doença burguesa,esta cegueira social que aniquila os menos favorecidos.Afinal,eles são tão necessários!Disse certa vez ao meu neto que,em vez de erguermos estatuas para políticos corruptos ou heróis que destroem,como certos generais,porque não homenagearmos com a posteridade os bombeiros,os garis,os enfermeiros,os carteirosos porteiros de edifícios,que afinal,são os “quebra-galho” de todos os moradores,o entregador de gás,todo este pequeno universo que nos cerca,prestando serviços inestimáveis e são tão esquecidos e humilhados.
Faço a minha parte;jamais lhes nego um sorridente bom-dia,aos garis daqui da rua,pergunto-lhes sobre a família,ouço suas queixas,chamo-lhes pelo nome,até lhes trago um cafezinho,nos dias frios.Eles fazem parte do meu universo;aplainam o meu caminho,são criaturas como eu.Menos complicadas,talvez.Como reza o verso de Paul Élouard:
Para os humildes
A ventura,é quase nada;
Um sorriso,um pôr do sol
Uma alvorada.
E,muitas vezes,um sorridente bom-dia!
Miriam de Sales Oliveira
Enviado por Miriam de Sales Oliveira em 10/12/2008
Código do texto: T1327897
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.