Precisa-se de um fusca

É fácil encontrar nos classificados diários de um jornal, muitos carros à venda. Difícil localizar um anúncio de quem deseja comprar alguma coisa. E até hoje não li quem quisesse expor sua vontade em adquirir algum bem num artigo. Eis que neste anseio altivo na busca por um automóvel, exponho a tantos quantos possam ler, o por quê disso e seus reais motivos.

Primeiro: sendo o fusquinha um automóvel barato, fácil de usar e sem enigmas para concertar quando quebra, nada melhor para quem tem pouquíssimo dinheiro. Tal carro também encanta o coração de qualquer filósofo: com suas curvas marcantes em toda fuselagem, com seus pára-choques também encurvados, faróis redondos e quebra-ventos hoje completamente em desuso; com seus barulho de motor possante, sem falar na buzina “paquera”, tudo concorre para uma análise metafísica de suas partes.

As curvas podem lembrar nossa existência ‘elíptica’, os faróis, remontam a figura geométrica mais perfeita (o círculo; falamos de ‘história cíclica’)... e assim poderia prosseguir à análise. Como se não bastasse o ardor filosófico do Fusca, faz jus a sua “pacatamorosidade”. Arriscado ele passar de 100 km/h e quando chega a 60 km/h parece que vai voar devido à roquidam das suas rotações cilíndricas. Isso é uma canção de ninar para um fã volkswagenriano (podia até receber um descontinho extra do fabricante, caso o carro ainda fosse fabricado).

Um Fusca é isso e muito mais para quem o ama ou apenas necessite de um. De fato, o custo dele para este anunciante é o que pesa mais na balança ao ter que adquirir um automóvel. Mas por que ter a necessidade de tal bem? Do primeiro ponto dos motivos, passo para o segundo, das justificativas.

Bem, seu futuro dono pretende morar em uma zona rural de uma pequena cidade do interior de Alagoas, ainda muito carente de transporte. As pessoas dessa comunidade chamada Catita, para se ter uma idéia, só vão à cidade aos sábados, na boleia de caminhão e ficam na cidade até às 9 horas quando o caminhão retorna à comunidade. Até os monges se arriscam na boleia. Útil é um automóvel com carroça para levar os produtos do Catita para vender na cidade, trazer a feira de alimentos comprados, conduzir doentes ou está preparado para qualquer eventualidade. Ainda ajudaria no transporte de materiais recicláveis selecionado no lixão pelos “moradores” de tal lugar, os quais sobrevivem com uma ninharia paga pelos atravessadores; e seria de grande valia para transportar à mudança do bendito cristão (eu mesmo) que vai deixar duas lindas cidades (Natal e Mossoró) para se refugiar num pequeno paraíso monástico.

Por tudo isso, PRECISA-SE de um fusquinha. Se fosse doado, e saibam que é por uma nobre causa, melhor! Complicado? Ao menos um desconto já seria bastante gratificante; caso não haja sequer algum generoso abatimento, que esteja bem conservado e demore ainda muito tempo para bater o motor. Que Deus abençoe ao coração bondoso capaz de aceitar essa proposta.

E para quem tem dúvidas se estou dizendo a verdade, é só mandar um e-mail para: mgalvus@bol.com.br. Vale salientar que seu carro será muito bem tratado e contará sete vezes ao dia com as orações dos monges da Comunidade do Catita. Assim seja!