PROVAS DA EXISTÊNCIA DE DEUS

“Somos algo e não tudo (...) incapazes de conhecer com segurança e de negar totalmente - Blaise Pascal”. Desde que o mundo é mundo e ao longo de toda história da humanidade, o homem sempre procurou refletir acerca do ser e de todas as coisas do universo. E nessa empreitada, a questão da existência de Deus ocupou lugar de destaque entre os pensadores. Neste sentido, muitos filósofos e teólogos dedicaram-se sobre esta causa. Assim, neste texto procuro tratar tal tema, em especial, sob o ponto de vista filosófico-teológico.

Segundo o filosófico Voltaire (1694-1778), “Se Deus não existisse seria preciso inventá-lo, porém a natureza proclama a sua existência”. Outro grande pensador, Platão (427-347 a.C.) sempre demonstrou que acreditava na existência vários deuses, mas também, na de um Ser Supremo único (que ora chama de Demiurgo, ora Fiturgo). “Criador e pai do universo”, artífice de toda sorte de objetos, a terra, o céu, os deuses e todos os astros do firmamento e tudo o que está debaixo da terra ele produz com o seu trabalho. Platão sugere que o lugar deste Deus é no mundo inteligível. Em sua obra inacabada, “Leis”, Platão condena severamente aqueles que duvidam da existência divina. Segundo ele, basta olhar em torno: “Terra e Sol, estrelas e universo, tudo isso nos remete a Deus”. Aristóteles (384-322 a.C.) preocupou-se em trabalhar ampla e sistematicamente a questão da existência Divina. No universo aristotélico, é Deus que mantém de pé todo o edifício. Segundo ele, “Deus é ato puro, único, inextenso, eterno, inteligente etc”. René Descartes (1596-1650), ao postular o seu método “o da dúvida”, no qual consistia em colocar todo o conhecimento adquirido em dúvida, inclusive a existência de Deus, ele mesmo ao utilizar o seu próprio método chegou à seguinte conclusão: “Penso, logo existo” – “Isso prova que eu existo, mas eu sou um homem mortal imperfeito e falho. No entanto, se eu fosse meu próprio criador, naturalmente teria me criado como um ser perfeito, e se eu não criei, então quem foi? Deus”. E ainda, prossegue ele: “Eu tenho uma concepção do que é a perfeição, embora eu não seja perfeito. Então, de onde vem essa ideia de perfeição? Não vem de mim, obviamente. Afinal, eu sou imperfeito e a perfeição não pode vir de algo tão imperfeito quanto eu. Então, deve haver um ser perfeito e ele é Deus”.

Entre os estudiosos de nosso século, há um consenso em aceitar Fílon (13 a.C. 40 d.C.), como o fundador da filosofia religiosa. Na síntese filoniana, “o universo apresenta uma estrutura piramidal, onde o vértice é ocupado por Deus e a base estende-se aos seres (perfeitos e imperfeitos). “Os mais perfeitos e menos numerosos encontram-se mais perto de Deus, ao passo que menos perfeitos e mais numerosos estão próximos da matéria”. Mas esta sua posição, alerta ele, não é definida; “ela tem a possibilidade de separar-se do mundo corpóreo e de subir até Deus”. Segundo Orígenes (185-254), “O mundo foi criado por Deus e ele é eterno. A Criação, desde a eternidade, é exigida pela imutabilidade de Deus”. Plotino (205-270 d.C.), fundador do neoplatonismo, argumenta que “Deus é único em si mesmo, totalmente distinto do mundo, e a sua natureza não pode ser expressa por ideias e conceitos humanos. A perfeição e transcendência de Deus são tais que torna impossível qualquer contato direto entre Ele e as criaturas”.

Santo Agostinho (354-430), ao ler Plotino, sentiu-se fascinado pelo seu ensinamento sobre a incorporeidade de Deus e a imortalidade da alma. Assim, de cético, tornou-se logo neoplatônico. Para Agostinho o ceticismo é falso porque as suas consequências no campo moral são desastrosas. Segundo ele, pode-se chegar a Deus mediante os indícios cosmológicos, por exemplo, através da ordem do universo e da contingência das coisas. Na mente humana estão presentes verdades eternas, absolutas, necessárias, que a mente, contingente e mutável, não pode produzir. Logo, existe Deus, razão suficiente destas verdades”.

São Tomás de Aquino (1226-1274), com um golpe de mestre acaba de vez com a polêmica quanto à existência de Deus, ele dividiu a metafísica em duas partes: a do ser em geral e a do Ser Pleno, que é Deus. Segundo ele, nesta distinção, o único ser pleno, no qual o ser e a essência se identificam é Deus. Para Tomás de Aquino, “Deus é ato puro e não há o que se realizar ou se atualizar em Deus, pois ele é completo”. Um importantíssimo aspecto da filosofia tomista são as provas da existência de Deus. Em sua célebre obra, a Suma Teologia, São Tomás de Aquino propõe cinco provas da existência de Deus, a saber:

1. o primeiro motor – tudo aquilo que se move é movido por outro ser. Por sua vez, este outro ser, para se mover, necessita também que seja movido por outro ser. E assim sucessivamente. Se não houver um primeiro ser movente, cairíamos num processo indefinido. Logo, concluiu Aquino, é necessário que haja um primeiro ser movente que não seja movido por nenhum outro. E este Ser é Deus.

2. a causa eficiente – todas as coisas existentes no mundo não possuem em si próprias a causa eficiente de suas existências. No entanto, são considerados efeitos de alguma causa. Logo, é necessário admitir a existência de uma primeira causa eficiente, responsável pela sucessão de efeitos. E essa causa primeira é Deus.

3. ser necessário e ser contingente – Aquino afirma que todo ser contingente, do mesmo modo que existe, pode deixar de existir. Ora, se todas as coisas que existem podem deixar de ser, então, alguma vez, nada existiu. Mas, se assim fosse, também agora nada existiria, pois algo só começa a existir em função de algo que já existia. Assim, admite-se, então, que há um ser que sempre existiu, um ser absolutamente necessário, que não tenha fora de si a causa da sua existência, mas, ao contrário, que seja a causa da necessidade de todos os seres contingentes. Esse Ser necessário é Deus.

4. os graus de perfeição – em relação à qualidade de todas as coisas existentes, pode-se afirmar a existência de diferentes graus de perfeição. Ora, se uma coisa possui “mais” ou “menos” determinada qualidade positiva, isso supõe que deve existir um ser com o máximo dessa qualidade, no nível da perfeição. Portanto, o Ser máximo e pleno em perfeição é Deus.

5. a finalidade do ser – todas as coisas brutas, sem inteligência própria, existem na natureza cumprindo uma função qualquer, um objetivo, uma finalidade. Admite-se, então, que existe algum ser inteligente que dirige todas as coisas da natureza para que cumpra seus objetivos. Esse Ser é Deus.

Partindo-se deste princípio, pode-se aplicar o método metafísico de São Tomás de Aquino em qualquer situação que nos cercam neste universo. Portanto, como forma demonstrativa será aplicada na busca pela “prova dos noves” da existência Divina, tomando-se como base a análise do fenômeno da criação do universo:

1. Cientificamente é comprovado que a terra existe há cerca de 4,5 bilhões de anos. Isto significa dizer que antes desta data, “nada existia”. Aplicando-se a lei tomista do primeiro motor, conclui-se que a terra para existir, foi movida por outro ser. Ou seja, houve um primeiro ser movente responsável pelo “pontapé inicial” da existência de todas as coisas. Logo, este primeiro ser movente responsável pela criação da terra e que não precisou ser movido por nenhum outro. É Deus.

2. A causa eficiente, ora, o mundo em si não possui a causa eficiente de sua própria existência. Portanto, deve ser considerado como efeito de alguma causa. Logo, admiti-se que exista uma primeira causa eficiente, responsável pela execução deste efeito (fenômeno). E essa causa primeira é Deus.

3. Em relação à tese do ser necessário e ser contingente de Aquino pode-se afirmar que a terra é um ser contingente, do mesmo modo que ela existe, pode deixar de existir. Ora, se todas as coisas que existem podem deixar de ser, admiti-se, então, que há um ser absoluto que sempre existiu, e que não tem fora de si a causa da sua existência, o qual é responsável pela determinação do existir e do não - existir. Esse Ser necessário é Deus.

4. É sabido de todas as coisas existentes na terra não possuem o mesmo grau de perfeição, uma vez que neste mundo existem diferentes graus de perfeição. Ora, se uma coisa possui “mais” ou “menos” determinada qualidade, isso prova que exista um ser com a máxima perfeição possível. Portanto, este Ser máximo e pleno em perfeição é Deus.

5. Tudo que existe neste mundo tem uma finalidade de ser, mesmo as mais brutas e menos inteligentes. Pois se existem na natureza é porque cumprem uma função qualquer, um objetivo, uma finalidade. Então, é admissível que existe algum ser inteligente que dirige todas as coisas da natureza para que elas cumpram os seus objetivos. Esse Ser é Deus.

Cabe ressaltar que é impossível comprovar Deus cientificamente, pois a ciência trata de objetos naturais observáveis, como “Deus não é natural”. Logo, Ele não é objeto de estudo da ciência. A crença de que algo só é válido se for comprovado cientificamente é um mito criado e cultivado pelo senso comum das pessoas. Ressalta-se também que a ciência não é o único meio possível de se chegar ao conhecimento e à verdade. Nesse sentido, a filosofia e a religião também trilham esses caminhos. Ciência, Filosofia e Religião, juntas, são meios possíveis de se alcançar um determinado conhecimento através de seus próprios métodos, a experiência, a razão e a fé, respectivamente. Dessa maneira, uma não exclui a outra, pelo contrário, as três juntas se completam na incessante busca pelo conhecimento e da verdade em si.

Portando, retomando a filosofia/teologia de São Tomás de Aquino, muitas outras provas podem ser obtidas pela aplicação do método tomista. Pois, tudo aquilo que o homem não consegue explicar é porque tal explicação está em Deus. Porém, mesmos com tantas obviedades acerca da existência de Deus, é lamentável e penoso saber que muitas pessoas, não pelas suas próprias convicções, mas pelas convicções forjadas pelo mal, preferem largar as mãos divinas para segurarem as garras de seus “ídolos mortais”, tais como: Faeurbac, Marx, Darwin, Comte, Freud, Nietzsche, Napoleão, Hitler, dentre outros. Aliás, o senhor NIETZSCHE com o seu nefasto e insano pensamento, tentando construir um lendário e utópico super-homem, prestou um grande desserviço à humanidade ao servir de instrumento para discursos ateístas e de inspiração para o nazismo que culminou com o maior genocídio da história da humanidade.

Todos estes “pseudos-intelectuais”, não tiveram outra saída a não ser negar Deus e bombardear todas as religiões, em especial a Cristã, em prol de seus caprichos, de suas ideologias, de suas rebeldias e de suas prepotências, dissimuladas por meio de suas obras e de supostas teses, impregnadas de muitas inverdades, blasfêmias, injúrias, calúnias, ofensas, falsidades, invenções etc, utilizando-se de argumentos chulos e de conclusões equivocadas, tidas como verdades incontestes, como se eles fossem a origem de toda a verdade. Mas a realidade é outra, toda essa incredulidade generalizada tem como objetivo principal corromper os fiéis e contaminar a humanidade. Infelizmente esses forjadores são os responsáveis pelo ateísmo generalizado que assola o nosso planeta. Por isso não é difícil de encontrar muitas famílias vivendo como se Deus não existisse, como se nós não fôssemos criaturas divinas, totalmente a mercê do acaso. Essas pobres criaturas, contaminadas pelo vírus da ideologia alheia, passam a adorar os “falsos deuses” em detrimento do único, verdadeiro e absoluto Deus. Mal sabem os incrédulos que só o fato de não aceitar a existência de Deus, implicitamente, eles já estão admitindo a possibilidade desta existência, uma vez que ninguém nega aquilo que não existe. Ora, se depois de toda essa caminhada da humanidade até aqui; não existisse um DEUS, ONIPOTENTE, ONISCIENTE e ONIPRESENTE, aí Voltaire tinha razão “seria preciso inventá-lo”. No entanto, não se faz necessário não, “a própria natureza proclama que ELE existe”. Enfim, é como concluiu Pascal: “Somos algo e não tudo (...) incapazes de conhecer com segurança e de negar totalmente”. Quer queira quer não, independentemente da vontade do homem, DEUS EXISTE REALMENTE; mas NÃO em CARNE e OSSO. “QUEM TIVER CAPACIDADE DE COMPREENDER, QUE COMPREENDA”.

BIBLIOGRAFIA:

Cotrim, Gilberto. Fundamentos da Filosofia – Histórias e Grandes Temas. Saraiva. 15ª ed. São Paulo, 2000.

Mondin, Battista. Curso de Filosofia – Vol. 1. Os Filósofos do Ocidente. Paullus. 13ª ed. São Paulo, 2005.