VENDER O PEIXE CULTURAL

A fase do amadorismo passou e está mais que evidente que a propaganda continua sendo a alma do negócio. E por que não aplicá-la também no âmbito cultural? Esta que é uma atividade das mais antigas e que por séculos foi usada por profetas, apóstolos e evangelistas para difundir conceitos e religiões, continua sendo a forma mais eficaz de vender o peixe, ou seja, passar uma idéia adiante, vender um produto ou serviço.

No caso da cultura, seria literalmente convencer o grande público a consumir um produto cultural, seja por estratégias de publicidade ou propaganda. Talvez ainda não seja totalmente clara a compreensão e distinção entre as duas. A publicidade, do latim publicus e do verbo publicare, é a difusão maciça em favor de hábitos de consumo, de tornar público assuntos de interesse de governos e da sociedade. É, no sentido figurado, a fábrica de sonhos que seduz o consumidor. Já a propaganda, do verbo latino propagare, se aplica mais à difusão de idéias – políticas e religiosas, por exemplo. Na política, ela é determinante nas campanhas eleitorais.

Voltemos à nossa cultura. É importante entender como funciona e de que forma a publicidade e a propaganda podem vender o “peixe cultural”. A propaganda cultural pode, por exemplo, incentivar a visita aos museus, aos monumentos históricos, ao teatro e aos concertos de música. Esta é, inclusive, uma responsabilidade dos veículos de comunicação e uma das principais dificuldades dos produtores culturais, a de massificar novas idéias e produtos. Por outro lado, o caminho competitivo de se agregar a marca de um produto a uma idéia de relevância cultural vem sendo substituído pelo trabalho de movimentos culturais, que seduzem o público e envolvem naturalmente produtos e serviços, fazendo assim um caminho inverso.

Um movimento cultural consegue engajar pessoas em torno de uma idéia mobilizadora, capaz de promover mudanças de comportamentos na sociedade. Daí a importância de se fortalecer grupos, movimentos e Conselhos culturais – ferramentas importantes de planejamento e propagação de idéias. Estas mudanças devem acontecer não de forma imperativa e capitalista, mas reforçando nossos valores culturais através de boas estratégias de propaganda e publicidade. O bom discurso também é a alma deste negócio. O peixe já temos, resta-nos vendê-lo.

Cláudia Sabadini
Enviado por Cláudia Sabadini em 20/01/2009
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