Um Big Brother no Espaço

Um Big Brother no Espaço

Fatima Dannemann

Não, a baiana Mara não chegou a ser unanimidade nem ter a maioria no final do Big Brother Brasil 6, reality show que a Globo exibiu desde janeiro encerrando no dia 28 de março. Ganhou porque a maioria dos votos acabou dividida entre dois finalistas considerados mais fortes, os paulistas Mariana e Rafael. Não, o público, dessa vez, não se impressionou com a coitadinha, sorteada ao acaso entre milhares de cartas, ex-bóia-fria, mãe de uma menina portadora de paralisia cerebral. Foram 47 por centro, contra 53 por cento que acabaram divididos entre Mari e Rafa, os namorados e queridinhos da vez. Rafa, ficou em terceiro, com quase 19 por cento, Mariana teve 34. Por conta disso, o discurso de Pedro Bial para a vencedora foi relativamente frio e, pior que isso, logo, logo a baiana sumiu dos programas globais para dar lugar ao outro herói do momento. Dessa vez, um herói de verdade.

Enquanto as portas da casa cenográfica do Big Brother, no Projac, Rio de Janeiro, onde os 14 participantes ficaram confinados desde janeiro, do outro lado do mundo, no Cazaquistão, um outro brasileiro se preparava para um confinamento mais curto, mas muito mais radical. O Major Aviador Marcos César Pontes acabou roubando a cena não só na Globo, mas em todo o noticiário (incluindo-se a mídia eletrônica) ao se tornar o primeiro brasileiro a fazer um vôo espacial e passar um par de dias numa estação espacial. Mais radical que a aventura de Mara. Mais perigosa, também. E para o governo que, a essa altura do campeonato, se pega a qualquer pequeno ou grande detalhe para que o público esqueça os escândalos, a roubalheira e reeleja as mesmas pessoas de 2002, um prato cheio.

Marcos virou herói nacional sem precisar dar nenhum telefonema, nem usar doença de nenhum dos familiares para angariar simpatia, e muito menos precisar de uma eleição cujos resultados ficam sempre relegados a percentuais que ninguém sabe de onde partiram (internet, mensagens de texto pelo celular ou telefonema, como no BBB). Herói por persistência e merecimento. Não esteve na mira de CPI, não precisou de marqueteiros com contas suspeitas, nem valeriodutos, o que conseguiu – ir para o espaço, seu velho sonho desde criança – foi obtido por esforço, trabalho, treinamento, capacidade, persistência e outras qualidades e requisitos que muita gente nem se lembra mais, mas existem e é tudo o que fica.

E uma viagem ao espaço está longe de ser uma brincadeira como chegaram a sugerir os risonhos apresentadores e repórteres do Fantástico que até tentaram transformar a expedição em algo parecido com um carnaval. Entre as 438 pessoas que já estiveram fora dos limites da atmosfera terrestre desde a primeira viagem, em 1957, 21 morreram. Marcos foi ao espaço entre outras coisas para fazer experiências científicas. Coisa bem diferente da turma do Big Brother que responderam a apenas um testezinho de conhecimentos gerais com perguntas de múltipla escolha na ultima prova do líder, e participaram de outras bobagens como escorregar na lama, dar banho em um participante pouco asseado e dizer seus “brothers” preferidos no confessionário.

Em três meses, os participantes do BBB viveram mordomias até então nunca sonhadas, a “pobrezinha” de Porto Seguro encheu os bolsos, os “traidores” foram punidos e os preferidos de Pedro Bial (que nunca escondeu sua simpatia por Rafael) ficaram com prêmios de consolação. O confinamento de Marcos Pontes termina no dia sete quando inicia sua viagem de volta a terra. Pode ser que depois dele mais brasileiros participem de viagens extraplanetárias. Mas, Marcos já fez sua parte. Foi o primeiro. Venceu provas muito mais duras do que as de Mara e ganharam todos os brasileiros com seu exemplo. Marcos César Pontes, major aviador, não precisou de telefonemas, sorteios, nem paredão. E venceu.

Maria de Fatima Dannemann
Enviado por Maria de Fatima Dannemann em 15/04/2006
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