"Caminho das Índias" é clone de "O Clone"

Que Caminho das Índias é um clone de O Clone, novela da própria Glória Perez, ninguém dúvida, mas se utilizar de parte de uma trilha sonora de outra novela, isso já é demais. Pois é o que está acontecendo. Lembram-se de Alma, de Zélia Duncan, tema da personagem Clarice (Cissa Guimarães)? Ela está novamente no ar, desta vez, para retratar as belas imagens indianas. Isso causa revolta, até porque, a Globo, além de iniciar uma novela com temática parecida à de outra já veiculada, também demonstra não possuir mais uma equipe de trilhas à altura do que pedem as tramas inéditas. Onde está Manoel Martins, o novo responsável pelos folhetins da Vênus Platinada, que ainda não percebeu esta gafe? Uma pergunta que os curiosos de plantão já propagam aos quatro ventos: a mesma trilha faria sucesso com outro par romântico? Jade (Giovanna Antonelli) e Lucas (Murilo Benício) são tão semelhantes assim a Maya (Juliana Paes) e Bahuan (Márcio Garcia)?

Tudo bem que a novela tenha belas fotografias, cenários luxuosos, atores renomados que realmente "vivam" as histórias excêntricas do núcleo indiano, entretanto, torna-se cansativo ouvir a mesma música em duas novelas distintas. É como se você tomasse um pouco do mesmo remédio e o gosto fosse diferente! Além disso, há também o enredo que envolve as protagonistas... Em muito lembra o de Jade e Lucas. Prova de que O Clone, exibida há sete anos, ainda não desapareceu da imaginação popular, apego este que estimulou a Globo a refazer o mesmo conto de fadas, com as mesmas personagens (Latiffa, Zoraide, Said...), alterando-se apenas os nomes e o cenário-mor.

Com exceção da abertura, que, diga-se de passagem, é uma das mais contagiantes de todos os tempos (por que não colocaram o Hans Donner para escolher a trilha sonora da novela?), o resto é mais do mesmo. Veja um exemplo: Chiara, de Vera Fischer, é a mesma Yvete, de O Clone, com os mesmos trejeitos, sotaque e o romance espetaculoso de outrora, alterando-se apenas o endereço para a correspondência. Se em O Clone, ela costurava as duas tramas da novela, unindo Rio e Marrocos, culturas brasileira e marroquina, nesta sua função será intermediar o amor vivido pelo indiano Raj (Rodrigo Lombardi) e a brasileira Duda (Tânia Khalill). Qual a diferença? Talvez o envelhecimento facial da atriz!

Apesar de todo este elenco de comparações inquietantes, Glória é competente no que faz e sabe bem disso, tanto é que, por mais distante que uma cultura seja da brasileira, mas próxima e palatável ela se torna. É como se a Índia ou o Marrocos fossem ali e todos falassem a mesma língua (para onde terá ido a Torre de Babel?), transformando sonhos distantes em realidade, romances impossíveis e/ou indigestos, verossímeis; culturas díspares em elementos da rotina diária. Por conseguir se expressar tão bem com temas nem sempre aprazíveis e coerentes, seu talento é saudado por onde passa. Para se ter uma dimensão de seu sucesso, O Clone fora vendido para mais de 100 países, versado para vários idiomas e, por onde passou, não havia quem não se emocionasse com o amor das protagonistas ou não chorasse o drama da drogada Mel (Débora Falabella). Conhecida como El Clon pela comunidade hispânica, a novela, que tratou de temas universais, elevou a Telemundo (rede americana dedicada aos latino-americanos) a um dos canais mais assistidos no horário de sua exibição, desbancando a então líder Televisa, do México, assim como Caminho das Índias também fará. Nem bem estreou, a trama das 21 horas já está com sua cota de exportação quase toda vendida. E para quais países? Todos os que arremataram O Clone! Coincidência? Não! Nestes tempos de crise e em meio a baixas audiências, todos querem adquirir um produto com fórmula de sucesso garantida, que dê resultados financeiros imediatos, para que novos investimentos sejam viabilizados, produtos testados e pontos no Ibope reconquistados.

Não são só os canais estrangeiros que precisam desta "ajudinha", mas a própria Globo, que hoje sofre com as pesadas investidas da Record - da Igreja Universal, por isso escalou a mais popular novelista brasileira para resgatar o seu principal horário de novelas, investindo, na empreitada, milhões de dólares. Ciente da responsabilidade, Glória não hesitará usar temas sociais e de apelo universais para prender à frente da tevê os telespectadores habituais. Mas, apesar de todas as críticas favoráveis, ainda é cedo para afirmar que o casal protagonista terá a mesma desenvoltura de Giovanna Antonelli e Murilo Benício, que, só para relembrar, levaram para a vida real o tórrido romance da telinha. O mesmo acontecerá com os já casados Juliana Paes e Márcio Garcia? Alguns dizem que sim! É esperar para ver, afinal, o clone não é a cópia semelhante do original?