Três, oito e o que não se mede em números: sobre o poetrix e o indriso.

Há uns meses, numa dessas situações de que a gente nunca lembra exatamente como, conheci o poetrix. Trata-se de uma fôrma poética muito simples, e, por isso mesmo, dificultosa: são apenas três versos admitindo um máximo de trinta sílabas poéticas. Parece pouco – e é – para construir uma metáfora, empregar um ritmo e estabelecer um padrão de rimas, e ainda, modalizar a língua de modo a fazê-la dizer mais do que diz. Precisa braço para domar um poetrix, e paciência para domar a própria vontade de dizer: nesses três versos cabe uma gota, uma gotícula do Universo.

Ainda quando tentava enviesar-me pelas três colunas do poetrix, e duma forma que lembro ainda menos que no primeiro caso, tive contato com o indriso. É um filho, um derivado, um fruto do soneto. Como o soneto, são quatro estrofes: dois tercetos e, um mistério, duas estrofes de um único verso. Com essas quatro estrofes, é possível criar algumas variantes como 3-1-3-1 ou 1-3-3-1. Mais livre quanto ao que se chama linguagem poética (ritmo, rima...) que o seu ascendente, o indriso evidencia algo que muito me agrada em poesia: a dualidade, o conflito ou ainda a aproximação intrínseca entre coisas opostas.

Não que isso seja uma determinação acadêmica dos criadores das duas fôrmas (os poetas Goulart Gomes e Isidro Iturat, pais do poetrix e do indriso, respectiva-mente) mas assim que me enveredei a fazer poesia com alguma seriedade, se isso é possível, percebi no indriso uma forma de poetrix extendido. Diferente do duplix, que é um conceito criado pelos próprios poetrixtas (sim, o termo existe), que é um par de poemas escrito por um par de poetas, os dois tercetos do indriso funcionam muito bem como um poetrix diante do espelho; ou ainda, dois deles dialogando.

Mas e os versos solitários? Bem, essa é uma oportunidade mais que interessante de condensar as ide-ias, de explorar no poema, nesses dois tercetos, o que não foi dito, ou ainda, tornar o indefinido ainda mais difuso. Dizer, teoricamente, se são estrofes ou versos, não dimensiona a riqueza desse recurso.

Contudo, a poesia não se expressa pela quantidade de versos. Se há algum tipo de qualidade num poema, e se isso é mensurável, certamente não é pela quantidade de versos, de sílabas, de rigor ou constância no metro. Nem se a fôrma em que o poeta tenta se expressar tem nome.

Se há algo mensurável, porque visível, é o trabalho. Poesia é trabalho de criação. Antes de mais nada, Isidro Iturat e Goulart Gomes, mais que poetas, são trabalha-dores. E é gratificante saber que ainda há quem trabalhe para, pela e através da poesia, ainda agora.