FUTEBOL, SEMPRE O FUTEBOL II

A população manauara, durante esta semana, tomou conhecimento de um projeto megalomaníaco. A reconstrução do Estádio Vivaldo Lima e sua adaptação à copa de 2014. Quem apenas viu a manchete e a foto nos jornais deve ter visto apenas o estádio. Na verdade, só o projeto em si merece um longo estudo, sem o qual nem pode ser entendido. Abrange metrô de superfície e muitas outras coisas que vão mudar a rotina de toda a cidade.

Não vamos esmiuçá-lo aqui e sim ficar apenas num pequeno detalhe: O custo estimado deste mega-investimento de R$ 6.000.000.000,00 (seis bilhões de reais). Uma grana inimaginável para um reles mortal. Estamos falando apenas de estimativa, não dos ajustes e dos reajustes que são feitos com o andar da carruagem. Qualquer obra na história da cidade ficará parecendo um cofrinho de moedas perto desta montanha de dinheiro.

Futebol é o esporte das massas e um motivo para investimentos. Contudo, a copa do mundo é um evento turístico que movimenta muitos setores da economia, mesmo quando acontece na distante Alemanha. Com a perspectiva de que alguns jogos possam ser realizados em Manaus há uma crescente euforia e os empreendedores de plantão estão a postos. O Pólo Industrial está de olho, mas principalmente o trading do turismo porque, afinal, trata-se de um evento turístico.

Apenas para entendermos as cifras envolvidas façamos um exercício de matemática: Uma obra orçada em seis bilhões pode sofrer um reajuste de 30% entre a estimativa e a conclusão. Assim teríamos 7,8 bilhões de reais de custo final. É uma fábula capaz de despertar a cobiça de qualquer empreiteira em qualquer parte do mundo.

Como dissemos acima, não vamos entrar nos detalhes do projeto que vai alterar para sempre a rotina da cidade, uma vez que não mexe apenas com o estádio e seus arredores. Vamos apenas analisar a verba minúscula que o turismo sempre tem recebido por parte do governo do estado e o contra-censo que é este projeto megalomaníaco. Num único projeto, em menos de 5 anos, serão investidos o mesmo que o orçamento de 1.000 anos da Amazonastur que conta com um montante em torno de 7 milhões anuais.

Acreditamos que há necessidade de ousar. Quebrar barreiras tidas como intransponíveis é uma marca dos empreendedores. Mesmo quando, num primeiro momento, a ousadia não sair do papel, um dia poderá voltar à baila e, dependendo da necessidade e da oportunidade, transformar-se em realidade. Foi assim com a Vila Olímpica, foi assim com o Sambódromo, está sendo assim com a ponte sobre o Rio Negro.

A mente humana sonha, a mente humana viaja. A simples perspectiva da copa do mundo em Manaus despertou um projeto que ninguém teria a ousadia de apresentar em outra época. O número de defensores dele cresce a todo dia.

Claro que podemos torcer para que boas coisas sejam feitas. Mas, lembremo-nos que investimento público é mais que futebol. Quando nosso time ganha, nós festejamos e espezinhamos nossos adversários. Estes fazem o mesmo quando nosso time perde. Contudo, um investimento público dessa envergadura pode deixar conseqüências maiores do que a “cabeça inchada” de uma derrota do nosso time.

Luiz lauschner – Escritor e empresário

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Luiz Lauschner
Enviado por Luiz Lauschner em 25/01/2009
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