Páginas diárias.

Páginas diárias.

Quando um ano termina, é como um livro que se deposita na estante. Essa coleção particular tem início no parto e só termina quando a urna é depositada em solo frio, ou cremada em fornos incandescentes, podendo somar-se dezenas deles por toda vida.

Como uma publicação, ele é provido de prefácio e epílogo. Nesta versão, são ambos apoteóticos. Natal e Ano Novo; poderia haver melhor maneira de sacramentar o desenlace dessa história?

Os humanos cultivam como festivos os acontecimentos realizados nessa época. Todos os melhores sentimentos são trilhados para esse período; ocasião que inicia mais uma edição que, embora seja uma obra aparentemente conhecida, sabe-se de concreto que é um anuário de 12 capítulos, variável de 28, 29, 30,31 páginas. Ao todo, são trezentos e sessenta e cinco folhas e, a cada quadriênio, trezentos e sessenta e seis.

A sua leitura é como um conta-gotas. Uma página por dia, vivenciada do nascer ao por do sol. Têm-se acontecimentos que findam em um capitulo. Outros que perduram por edições e nem sempre trazendo finais felizes. Essa biblioteca imaginária retrata a sociedade. Nela, veem-se grandes e pequenas edições providas de montagem ricamente acabadas ou tipos modestos como os jornais com sua duração incerta. Há laudas amplas, gigantes e saltério, pequeno, cujo texto e contexto cabe no bolso. Interpõem-se publicações que, mesmo de tamanho reduzido, descrevem os clássicos, científicos. Vivem-se temas dramáticos, românticos, sensuais, satíricos. È uma seqüência infinita que narra as conquistas e derrotas, a colheita de tudo o que é plantado no decorrer dos dias. Cada obra tem sua prévia. Sabe-se que todos os meses acarretam seus encargos. Os fatos sócio-econômicos e políticos têm as suas datas programadas; existem aqueles em que são cobrados os direitos fiscais, estudantis, além de cobrir as extravagâncias do final de cada ano. No clima, meses tradicionalmente de chuva, de inverno, de verão, mas as alterações climáticas vêm dando ao planeta nova configuração no conjunto mundial. Cite-se a região sul do Brasil, como exemplo. Páginas de tragédias sucedem-se naquele pagos. Fatos antes ignorados, hoje, fazem parte do cotidiano das áreas descampadas sulistas. O mesmo vem ocorrendo em todo o sistema. Terremotos, fortes estiagens causando prejuízos.

Outros acontecimentos fazem presente nas páginas desse volume. Guerras, perseguições, vandalismos; descasos políticos, econômicos; o aniversário, a formatura, o nascimento dos filhos, datas das conquistas sociais. Sabe-se de que tais períodos acontecerão, porém, toda euforia ou desdém pode alterar-se ao amanhecer devido aos imprevistos que moldarão a cada mês - ou capítulos - com suas atribulações. Eles se fazem aperiódicos por trazerem, na sua totalidade, a presença humana com seus interesses, nem sempre, claros...

Quando o despertador chama para a realidade, o cenário é o mesmo, entretanto, o que os espera pode ser algo totalmente inusitado.

A cada edição concluída, muitos entram para a história, outros ampliam suas conquistas ou são banidos para lado obscuro, mas nem por isso, esquecido do enredo.

Fisicamente é sempre mais um exemplar, páginas que a vida se encarrega de escrever e, que cada um, letrado ou não, personifica.

Ciro do Valle
Enviado por Ciro do Valle em 28/01/2009
Código do texto: T1409406
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