O CAMINHO DO CRIME.

É milenar e universal a expressão – o crime não compensa. O seu caminho é sem retorno, leva sempre à frente, isto é, a mais um, o primeiro puxando o segundo, este o seguinte, um atrás do outro numa sucessão que os encadeia e só termina quando, encontrado o primeiro fio do novelo, vai-se desenrolando até alcançar a ponta final do último fio. E aí o criminoso já estará investigado e descoberto, friturado. Em regra o agravamento da situação do criminoso envolve um parceiro, outros parceiros. Não me refiro ao banditismo comum, ao assalto e seqüestro, estupro, violência, que isso é outro departamento. Quero situar aqui, o crime do colarinho branco, o assalto ao dinheiro e aos bens públicos, o gozo indevido do poder para proveito pessoal ou de terceiros, parentes, amigos e apaniguados. Descoberto na mutreta, o seu autor comete o primeiro erro no sentido de a esconder. Somam-se as duas peças e logo a seguir aparecem juntas. Mais uma tentativa e lá se somam três, depois quatro... A rede se enrola criando o escândalo. E é, agora, o novelo a desfiar. Ao final da investigação o autor do crime primeiro está com uma camarilha a seu lado. Uma camarilha, quero dizer uma quadrilha. E agora. José? Todo mundo no processo e as pessoas, pasmas, gritam – cadeia neles, cadeia neles! O assunto, a partir daí é com a justiça e os assistentes se dispersam até que nova rede seja detectada. Ninguém se iluda, o crime não compensa. Cedo ou tarde descobre-se e aponta o criminoso.

Este papo para chegar ao Palocci, à casa da farra e do gozo do comando político de Bauru na capital da República, ao tempo em que esse era o prefeito daquele município. A casa existiu, a farra ocorreu, o crime se consumou, como está situado nos jornais com acertos e erros, com verdade transparente aqui e/ou exageros ali. Se é certo que onde há fumaça há fogo, o incêndio subiu aos céus de Brasília e andou alto no espaço político. O ex-ministro estava no ambiente em chamas. Usufruindo o gozo pessoal ou eventualmente de passagem? Pilhado no ação tida como imprópria, divulgado seu nome e chamado a uma CPI do Congresso Nacional – há porção delas atravancando e retardando a laboração das leis, enquanto criam fatos políticos, um atrás do outro - mentiu para defender-se, é o que se entende do enredo. Para defender-se mentiu. Descoberto na mentira, não refletiu, foi ao crime seguinte. Auxiliares seus e apaniguados suspeitaram de que o autor da denúncia, um humilde caseiro que por bastante tempo silenciara, teria sido pago para denuncia-lo. Bisbilhotaram sua pequena conta bancária, levaram o extrato ao ministro. O resto sabe a Nação. Foi o velho caminho do crime tentando esconder-se por via de outro. Admira é que tantos homens de tão alta posição na área pública, e assim, presumivelmente competentes, sem dúvida inteligentes, não refletissem que o novo crime apareceria. Mais que isso, não se advertiram de que o ministro teria saídas outras para safar-se ao processo porque mentira. Quem, em sã consciência, acusado não mente para salvar-se? É uma regra. E não raro a Justiça, chamada a decidir, reconhece, nestes casos, a mentira como crime menor e se não o absolve, ameniza. Em vez disso, parte para enredar-se em novo crime. E aí se desmoraliza e cai. Não consultaria um advogado? Este, por acaso aconselharia a ação criminosa ou a menosprezaria? Está aí o ex-ministro denunciado pela polícia por um crime que pode leva-lo a mofar quinze anos na cadeia ao lado dos comparsas. E a pagar multa. Bem feito. Pelo crime em si, pela burrice sobretudo.

Ora, ora! A política está fervendo, a oposição investigando e insuflando, os políticos misturando falsidade e verdade, emporcalhando tudo. A intenção, a intenção mesmo é atingir o presidente, sangrá-lo, mostra-lo ao povo como o vilão número um, que procede mal por via de seus auxiliares. E o ministro e seus funcionários placidamente caem no alçapão. Ineptos e burros, apavorados, só pensando em uma solução, fosse qual fosse, para esconder o primeiro erro, o da mentira, criam uma sucessão de erros. Enquanto isso, o tucano muda o bico em dentes e morde um pouco mais, para sangrar aquele cujo lugar consideram seu, pois não seu, de mais ninguém.

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