O IMPERATIVO CATEGÓRICO DE KANT

Após a leitura de O conflito das Faculdades, do filósofo Kant, fiquei com duas coisas, aliás, algumas, martelando em meus neurônios.

Primeiro achei formidável a maneira como Kant respondeu ao Rei Frederico Guilherme. Puxou as orelhas de Sua Majestade e, de quebra, deu uma aula para nunca mais o monarca esquecer. Isto é, se este era mesmo inteligente e bom entendedor, o filósofo de Königsberg não deixou faltar pingo nem letra.

Kant deitou e rolou e ainda declarou que acreditava em Deus, mas de uma maneira lógica, racional, genial, nada bitolada ou legislada. Incluiu que Deus é o Juiz Maior, o que me parece querer ter dito Kant ao Rei algo como: Você é um fichinha. Não me peça explicações, pois estou preparado para dá-las até Àquele que tem um poder legítimo sobre todos nós.

Segundo, esse jeito maravilhoso e racional de procurar e achar Deus na essência do livre pensar proposto pela filosofia kantiana me deixou extasiada. Eu era kantiana e separatista e não sabia. Cuidado aí você, querido leitor, com o termo separatista. Vá ler o livro citado, pois estou preguiçosa para explicar o que Kant colocou em nota de rodapé sobre esse pessoal.

Fiquei muito curiosa e depois vou procurar saber qual foi a reação de Frederico quanto à resposta do filósofo livre e de suficiente coragem para revelar novos aspectos para uma exegese do texto bíblico e até questionar o prazo de validade do livro primeiro da Religião. Bote coragem nisto! Uma manipulada mental pela Igreja como eu que tenho medo até de pensar certas coisas, pois logo avisto a possibilidade de um raio cair sobre a minha cabeça programada pelo Estado.

Uma terceira coisa diz respeito ao que Kant denominou Imperativo Categórico, algo que equivale a “Faça ao outro apenas o que deseja que o outro faça a você”. Kant queria mais: que isto fosse lei universal e que todos fizessem sempre o que todos achassem bom e moralmente correto. Seria o céu na Terra.

Meu querido Kant, pensei muito sobre essa sua ilusão e vejo que jamais conseguiríamos realizar o seu sonho. Precisaríamos também filosofar sobre se o que é bom e não engorda para uns é também dietético para todos. Não é possível, por outro lado, que existam atitudes politicamente corretas para todos e que a todos satisfaçam, mesmo porque, como você constatou, o ser humano muda de idéia, é inconstante pela própria natureza. Talvez o filósofo baiano, Raul Seixas, tenha resolvido a questão com a metamorfose ambulante. Nesse caso, então, “Cada um cuide de si e Deus de nós todos”.