CONSIDERAÇÕES À CRÍTICA DE KANT

Sob a aparência de crítica moderna, Kant faz crítica demolidora da religião. Tem-se a impressão de que está totalmente alheio à fé cristã. Reduziu a religião simplesmente à moral autônoma e racionalista. Mas a crítica kantiana da religião também é vulnerável sob alguns aspectos fundamentais. O que permite ao homem admitir a realidade do eu, da realidade humana e da existência de Deus? Se Kant destruiu a lógica das provas da existência de Deus, certamente não eliminou seu conteúdo religioso. Deus não pode ser conhecido como simples objeto. Não se pode demonstrar sua existência em simples silogismo lógico. Mas com isso não está dito que a existência de Deus seja ato irresponsável perante a razão, que esta só pode admitir o que é imediatamente verificável através da experiênia? Poder-se-á perguntar: tem sentido a existência de Deus? Até quem não crê, pode compreender  a prosição "Deus existe" como se  pode  compreender ”“uma montanha é de ouro. É Deus uma realidade? Desde que se admite que a realidade não se reduz ao mundo empírico e nele se admite uma dimensão de profundidade, não se pode negar simplesmente a existência de Deus. Podemos admitir uma confiança (fé) original no homem todo que, na atitude prática, mas racionalmente plausível, me permite admitir a realidade metafísica..

Concordo com Manfredo Araújo de Oliveira quando no seu excelente estudo sobre Filosofia transcendental e religião resume a contribuição de Kant para o problema de Deus:

“a) A reviravolta transcendental, que significou a tematização da mediação subjetiva no conhecimento humano. Kant libertou, apesar de sua parcialidade, o pensamento humano da ingenuidade objetivista de um pensamento puramente voltado para o objeto, esquecido de que o objeto só é objeto para um sujeito e, que, portanto, a subjetividade é um momento essencial no processo do conhecimento; b) o resultado de sua filosofia teórica, isto é, a impossibilidade de um conhecimento de Deus, o que vai abalar uma das convicções fundamentais de todo o pensamento ocidental até então e tornar possíveis posições novas posteriores a respeito do problema de Deus; c) o tratamento em filosofia da problemática de Deus a partir do problema da liberdade, que também já antecipa, de certo modo, a questão fundamental, que se vai pôr, posteriormente, com clareza cada vez maior, da relação do homem enquanto ser livre ( autônomo ) e Deus. De certa maneira, Kant antecipa o cerne da questão.” ( p. 16).

Em síntese, Kant priva a religião de todo o fundamento especulativo, instalando-a na esfera moral. Ele a reduz ao metro das normas éticas da razão prática. Fora disso, tudo é superstição e imposição eclesiástica (dogmas, ritos, hierarquias, etc.).
Resta, todavia, a pergunta: não é a própria posição kantiana uma nova posição dogmática sob a aparência de crítica? Apesar disso, o pensamento crítico de Kant foi uma oportunidade, infelizmente perdida, para o cristianismo entrar no mundo da modernidade.
LordHermilioWerther
Enviado por LordHermilioWerther em 16/02/2009
Reeditado em 16/02/2009
Código do texto: T1442155
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