ENTÃO, ESTÁ EXPLICADO!

Não se pode duvidar da eficácia desses sistemas de vendas pela TV — os chamados telemarketings — e só assim se explica a proliferação dessas empulhações televisivas, que tentam convencer o espectador a consumir toda sorte de porcarias e inutilidades que alguns espertos resolveram produzir.

Oferece-se de tudo e de tudo é possível comprar. De relógios que podem acordar o feliz comprador com um “buenos dias” eletrônico, a uma pasta polidora, que faz o seu carro velho parecer novo e a lataria dele resistir a tudo (de chuva ácida a raios laser). De panelas arredondadas para fazer comida chinesa, a um conjunto de 52 facas, de todos os tipos e tamanhos, para tudo quanto for necessário: descascar uma fruta ou degolar a mãe de sua mulher. O sistema é tão lucrativo, que cada uma dessas propagandas — entre explicações, demonstrações e depoimentos de “adquirentes” satisfeitos e maravilhados — dura bem uma meia hora ou mais.

Contudo, é bom perguntar ao telespectador consumista, prestes a cair no conto do “se não ficar satisfeito, nós devolveremos o seu dinheiro”: você precisa mesmo de um novo relógio de pulso, ainda que vá receber três pelo preço de um? Você acredita em milagres, ou acha mais razoável, de vez em quando, levar o seu carro a um lanterneiro? Você conhece a culinária chinesa? Sabe, ao menos, cozinhar? Não concorda que um bom detergente é mais prático para lavar as panelas do que uma vassourinha de bambu? E, finalmente, precisa de 52 facas em casa? Não lhe bastariam somente duas, sendo uma para descascar a sua laranjinha e outra para livrar o seu sogro daquela jararaca?

Estou seguro, no entanto, que o maior sucesso em matéria de vendas pela TV, está naqueles produtos que se propõem a manter os telespectadores sempre jovens, bonitos e com a aparência que devem ter tido há dez, quinze ou vinte anos atrás. É no campo da restauração estética que o telemarketing encontra o alvo preferencial para a sua propaganda enganosa: homens de meia-idade acima e mulheres — principalmente as mulheres — de morro abaixo. E a lista de ofertas não acaba mais: de cadeiras e esteiras que transformam um gordinho num atleta em pouco tempo a dietas prontas, fazem a avó da sua mulher adquirir as formas de uma campeã do halterofilismo!

Eu me divirto porque, além da evidente trambicagem, as ideias e demonstrações são de uma comicidade só. Há propostas absolutamente inusitadas, como aquela de combater a calvície de forma instantânea. “Não é implante! Não é remédio!”. É, na verdade, a aplicação de um spray, tipo Colorjet, no couro não cabeludo do infeliz. Literalmente, o que o descabelado vai fazer é pintar a cabeça e sair por aí, servindo de chacota para os outros. Ou seja, além de careca, ele agora também será ridículo.

E quando o público-alvo é o feminino, a turma do telemarketing, como se diz na gíria, “bota mesmo prá quebrar”! Tem dietas mágicas, com as quais é possível perder até 5 quilos por mês, comendo e bebendo tudo. Tem acessórios para perder a barriga e combater a flacidez (na publicidade de um desses, aparece um louro, gordo que nem uma porca, explicando como é possível transformar banha em músculos). Tem brincos para perder peso (que, provavelmente, só conseguirão aumentar o peso das orelhas). Tem uma prótese, à base de gel de silicone, para aumentar o tamanho e dar firmeza ao busto (“Faça o teste do abraço! Desafia a lei da gravidade! E por aí vai...). E tem — o mais grotesco de todos — um “easy alguma coisa”, que se propõe a realizar uma plástica instantânea de rosto e pescoço, com dois pedaços de “band-aid” ligados por um elástico.

Fico só imaginando que, se determinadas mulheres usarem todos esses truques de uma vez só, elas até podem — saindo aí pela noite — acabar arranjando a companhia de algum jovem, que bebeu três ou quatro doses a mais do que deveria. O problema vai ser na manhã seguinte: ao abrir os olhos, o sujeito nunca vai conseguir entender como é que se deitou com a coleguinha da sua irmã e está acordando ao lado daquela contemporânea da vovó.

A pergunta que sempre me fiz, foi porque algumas mulheres se submetem a esses embustes, que apenas servem para acentuar o problema da sua decadência física? Nunca consegui responder, até que, tempos atrás, assisti no Discovery a publicidade de um documentário produzido pela emissora. E a chamada para o programa dizia o seguinte: Descubra e explore as maravilhas do Peru!

Ah, bom! Então, está explicado...