NÃO SERIA DISTINTO...

Desde o tempo em que a TV por assinatura ainda não era, no Brasil, mais do que mera notícia dos países de primeiro mundo, eu já perdia horas, procurando documentários em vídeolocadoras. Daquelas incríveis expedições patrocinadas pela “National Geographic Society”, até as várias edições de uma série muito conhecida, que era a “Odisséia de Cousteau”, composta por filmes e mais filmes das incursões submarinas do famoso oceanógrafo francês.

Sou fascinado pelos documentários, o que explica a minha aberta preferência pelos canais que exibem uma programação nesta linha. Sobretudo, os mais especializados, como o DISCOVERY e o HISTORY CHANNEL, o canal MUNDO e o NATGEO. Gosto da tevê de uma forma geral — o que já me levou a assinar, durante bastante tempo, uma coluna numa revista que cuidava exatamente disto: programação de TV — mas gosto desses canais de um modo particular.

Os telespectadores mais atentos da tevê por assinatura haverão de concordar comigo que a diferença básica entre eles é que, enquanto o DISCOVERY — que se dedica quase exclusivamente ao gênero — trata dos temas de forma mais rápida e superficial, o canal MUNDO, por exemplo, exibe documentários longuíssimos, explorando cada assunto em seus mínimos detalhes.

Particularmente, tenho a impressão de que os documentários do DISCOVERY CHANNEL são mais leves e interessantes, o que — como tenho dito e repetido, sem qualquer interesse publicitário — faz dele o canal da minha predileção.

Pois bem! Já faz algum tempo que assisti justamente no DISCOVERY, um programa sobre genética. O tema era a “acondroplasia” ou “nanismo”, como é mais conhecido este distúrbio evolutivo, que acarreta a deficiência de crescimento dos ossos longos. E o tal documentário prestava umas informações bem interessantes, sobre as razões pelas quais algumas pessoas nascem anãs.

Como sempre, sendo o programa produzido nos Estados Unidos, havia dados estatísticos em profusão, sociedades e associações que reúnem “gente pequena” e seus familiares, olimpíadas especiais e entrevistas, aos montes, com adultos e crianças. Foi, aliás, quando, pela primeira vez, eu vi um bebê anão e me dei conta do quanto nós, pessoas de estatura dita normal somos despreocupadas com as dificuldades que essa “gente pequena” enfrenta, para as coisas mais elementares da vida.

Obtive, pelo programa, algumas informações importantes sobre o assunto. Como aquela de que se dois anões se casam, eles têm 25% de chances de terem filhos com estatura normal. Têm 50% de chances de terem filhos anões. E 25% de chances de terem filhos com um duplo “gene” da “acondroplasia”. Neste último caso, fiquei surpreso em saber que a morte do recém-nascido é inevitável.

Mas o documentário também trouxe alento e esperança para alguns. Pois o “nanismo”, pelo que fiquei sabendo, pode ser uma herança dos pais ou de algum deles, mas também pode ser uma mutação genética espontânea. O que implica em dizer que um casal, absolutamente normal — em termos de estatura e desenvolvimento — pode, pela mesma razão, ter um ou mais filhos anões.

Meditando sobre o tema, concluí que seria fundamental divulgar todos estes dados para o maior número de pessoas. Pois se o distinto leitor, bem como a sua respeitável mulher, tem uma estatura acima de 1,65 m e acaba de lhe nascer um filho, com todas as características da “acondroplasia”, por favor, se acalme! Não vá logo partindo para esganar o pobre anão que é seu vizinho.

Porque ele pode estar inocente neste caso. E não seria distinto andar por aí, estapeando quem é menor do que você.