COISAS DO BRASIL

Tenho um conhecido que mora num Distrito de Santa Maria Madalena, no Estado do Rio de Janeiro e que, certa vez, foi mimoseado, por um tabaréu lá de suas bandas, com duas arapongas. Daquelas, que quando cantam, defloram os tímpanos de qualquer “desinfeliz”, que esteja a menos de meia légua do seu poleiro.

Pois bem! O presenteado não quis desfeitear o autor de tão singelo obséquio e cuidou de arranjar um cantinho no seu alpendre, para proporcionar moradia confortável e boa alimentação às ruidosas aves. Tratou-as com tal desvelo e espírito ecológico, que elas — certamente por gratidão ao seu afável hospedeiro — puseram-se a cantar, mais do que nunca, de puro contentamento.

O problema é que o entusiasmo das canoras aves deve ter exasperado algum mal humorado sitiante da vizinhança, que, sem nenhuma cerimônia, denunciou o meu conhecido ao IBAMA, por estar mantendo cativas em sua casa, aquelas barulhentas representantes da fauna silvestre brasileira.

Como resultado, viu-se o bem intencionado anfitrião dos pássaros ferreiros metido numa “camisa de onze varas” e às voltas com um processo na Justiça Federal, que lhe custou uma condenação — com direito a uma suspensão condicional da pena, mas com a perda de sua preciosa primariedade — pela prática de crime contra a natureza.

Não são poucos os que, neste país, respondem a processo e até puxam uma cela de delegacia, de vez em quando, por delitos equivalentes. É o que acontece, não raras vezes, a cortadores de palmito, passarinheiros e descascadores de árvores, que imaginam poder levar a vida apenas arrecadando aquilo que a natureza colocou ao seu alcance, quase sempre por pura ignorância ou falta de orientação. Enquanto isto, a PETROBRÁS e outras indústrias de grande porte, que produzem, processam ou utilizam poluentes de alguma forma, já foram responsável por vários acidentes ecológicos da maior gravidade! Sofrendo pequeníssima ou nenhuma sanção por este motivo.

Só para lembrar, não faz muito tempo que a PETROBRÁS foi responsável pelo derramamento de 1,29 milhão de litros de petróleo da Refinaria de Duque de Caxias, que poluíram a Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro. Meses depois, o rompimento da vedação de uma monoboia, espalhou 18 mil litros de óleo perto da praia de Tramandaí, no Rio Grande do Sul. E, na sequência, deu-se o vazamento de mais de 4 milhões de litros da Refinaria Getúlio Vargas, em Araucária, no Estado do Paraná, manchando em mais de 20Km os rios Barigui e Iguaçu e matando milhares de peixes e pássaros marinhos.

Os chamados crimes ambientais, de acordo com a sua classificação, são inafiançáveis. Mesmo assim, ninguém foi preso ou sofreu qualquer sanção mais grave por isto. Os membros da Diretoria e os executivos daquela empresa, assim como de tantas outras, estatais ou não, jamais dormiram numa cela, uma noite sequer, por conta desse tipo de acontecimento.

São as coisas do Brasil. São os exageros com que as nossas instituições lidam com os pequenos e o descaso com que tratam dos grandes problemas nacionais. O que talvez explique aquela história antiga, em que um cabo eleitoral foi pedir emprego, para o seu filho de 18 anos, a um Deputado, pelo qual trabalhara nas eleições.

Conta a anedota que o político mandou telefonar ao correligionário, no dia imediato, avisando-o que conseguira para o rapaz um excelente lugar, como contratado, numa empresa prestadora de serviços ao setor público. Com um excepcional salário e muitas mordomias, acrescentava o informe. Só precisaria comparecer um dia por mês, para assinar a folha de ponto e receber o pagamento.

Preocupado, o pai teria voltado a procurar o seu “padrinho”, dizendo que, daquele jeito, iria estragar o rapaz. Pois, certamente, o garoto acabaria perdendo o interesse pelos estudos, supondo que as oportunidades lhe cairiam do Ceu durante toda a vida. Intrigado, o político perguntou, então:

— Mas que nível de emprego você pretende para o seu filho?

— Sei lá! Respondeu o sujeito... Um em que ele ganhe uns dois salários mínimos, apenas para ter o seu próprio dinheiro.

Foi aí que o político retrucou:

— Ah... Então ele vai ter que estudar mesmo! Neste nível, só prestando concurso para ingressar no Serviço Público!

O que, em se tratando do Brasil, faz todo o sentido, não faz?