Você é um bom leitor?*

“Viva livros um momento, aprenda neles o que lhe parecer digno de ser aprendido, mas, antes de tudo, ame-os. Este amor ser-lhe-á retribuído milhares de vezes e, como quer que se torne sua vida, ele passará a fazer parte, estou certo, do tecido de seu ser, como uma das fibras mais importantes, no mais das suas experiências, desilusões e alegrias” (RILKE, R. M. Cartas a um jovem poeta. Trad. P. Rónai. 11. ed. Rio de Janeiro: Globo, 1983, p. 29).

Ninguém nega que ler de modo competente é decisivo ao sucesso na vida estudantil. Mas, não são poucos os que se perguntam: O que é ler? Como ler de modo proveitoso? Pensando nessas perguntas, meu objetivo neste artigo é tentar viabilizar o entendimento do significado da leitura, além de, observando o que dispõe a literatura specializada, arriscar-me na proposta de uma metodologia para o ato de ler.

Ler, necessidade de todas as pessoas, mas sobretudo de quem cursa o ensino superior, relaciona-se à capacidade de eleger, escolher, decifrar, conhecer e interpretar informações, conhecimentos e saberes registrados segundo as normas da cultura letrada.

Nessa perspectiva, o bom leitor é aquele que vai além da decifração de um termo para captar idéias, conceitos e teorias, visando à ampliação dos horizontes culturais próprios e do seu entorno humano.

Na academia, a leitura de textos científicos, filosóficos, literários, entre outros, além de aumentar o vocabulário do estudante e de lhe dar instrumentos conceituais apropriados ao entendimento dos conteúdos estudados, é um ato que potencializa a autoria de pensamento, o alcance da consciência crítica e a habilidade na elaboração de projetos de pesquisa, ensino e extensão, propósitos de vida e programas de ação em meio à realidade vivida.

Ao ler, inicialmente, o leitor é desafiado a identificar o sentido das letras e palavras, dos parágrafos e capítulos, os chamados “símbolos gráficos textuais” que se apresentam repletos de noções, idéias, conceitos, opiniões, teses, leis e teorias relativas ao objeto a

que se refere e investiga. É nessa etapa que os dicionários e assemelhados são imprescindíveis.

Para que isso aconteça, no entanto, a leitura proveitosa, que leva o leitor a alcançar os objetivos propostos com essa atividade, requer três momentos subseqüentes, a saber:

a) o da leitura pela “síncrese”, que consiste em passar os olhos na totalidade do texto para que o leitor compreenda o contexto do texto, mesmo que de maneira superficial;

b) o da leitura pela “análise” é o momento em que a semântica do texto é esmiuçada de modo a evidenciar a intencionalidade do autor, a mostrar o que o autor objetivou ao escrever, razão pela qual o entendimento das partes deve levar ao entendimento do todo textual, em sua introdução, desenvolvimento e conclusão;

c) o da leitura de “síntese” é o que conduz o leitor a recompor o texto, utilizando, para tanto, da compreensão profunda que adquiriu nos momentos precedentes e que lhe possibilitam dizer qual a tese, a idéia, a teoria, os conceitos apresentados, estudados e defendidos, ou

não, pelo autor.

Se essa atividade de leitura for enriquecida por uma postura que prime pela concentração, atenção, espírito crítico e vontade de saber, então a leitura passa a ser significativa.

Assim realizada, a leitura passa a ser uma importante ferramenta ao

desenvolvimento pessoal, humano e profissional, o qual determinará a qualidade de vida e a condição cidadã de quem a executa.

Quando, em uma cultura letrada como a brasileira, as pesquisas indicam que estamos lendo pouco, então constatamos a desvalorização de uma forma importante de aprendizado e crescimento. Com essa desvalorização surge o embotamento da

imaginação pessoal e coletiva, o empobrecimento do pensar, a fragilização da consciência, o pauperismo do querer e o raquitismo do saber.

Esses desastres culturais não podem estar acontecendo impunemente. É preciso dizer que negar o direito à leitura é obstruir um caminho decisivo à inserção no mundo da cultura, é abortar um importante processo de humanização e fortalecimento da

consciência política.

Por que lemos pouco? Lemos pouco porque não formamos o hábito da leitura, porque no cotidiano familiar e da escola não nos mostram o poder da leitura. Lemos pouco porque os livros são caros, porque não aprendemos o prazer de ler, aprender e ensinar, porque não compreendemos bem a função social do ato de ler.

Causam estarrecimento as notícias que mostram que o fracasso na atividade de leitura tem motivos improváveis para o senso corrente: os estudantes não lêem porque seus pais e professores simplesmente não lêem. Como não lêem, eles não sabem transmitir apego aos variados tipos de texto, não fruem o sabor de saber. E é evidente: só

podemos ensinar o que sabemos, aquilo de que gostamos e é importante para nós. Por isso, precisamos aprender essas coisas para que possamos ensiná-las aos outros.

E, evidentemente, precisamos ler. Por meio da leitura, enriquecemos nosso universo vocabular, potencializamos nossa capacidade para a escrita e ampliamos nossa visão de mundo, de sociedade e da nossa vida pessoal e coletiva. A leitura nos enriquece.

Contribui para que tenhamos instrumentos para construirmos sentido, direção e significado à existência.

Ler é ser mais. Por isso, ler é uma daquelas poucas coisas nas quais vale a pena investir tempo e energia. De certo modo, como disse Jorge Luís Borges, ler é, sim, um outro modo de viver e ser feliz.

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*Artigo publicado no sítio Philoterapia, em 15/06/2007.