O MESMO QUE SEMPRE QUISERAM

Na década de 60, já dizia o Chacrinha, que, na televisão nada se cria, mas tudo se copia. Com efeito, o passar do tempo não desmentiu e nem modificou esta máxima do “velho guerreiro”. Basta alguma coisa dar certo, em termos de programa em um canal, que logo aparecerão alguns (senão algumas dezenas) de programas absolutamente idênticos, por pior que seja o nível e a qualidade do original.

A regra vale para tudo. Dos programas do tipo “plantão policial”, até aqueles, no esquema “mundo cão”, passando pelos de entrevistas, pelos do estilo “talk show”, aqueles em que a apresentadora se segura na culinária, os de animadora infantil e os de auditório, com cantores, conjuntos e as indefectíveis pegadinhas.

Antes, as emissoras até tinham algum pudor, quando aproveitavam uma boa idéia que a concorrente tivera, mas mudavam a forma de trabalhá-la. Antes, aliás, era geralmente uma das emissoras que puxava o pioneirismo nas coisas, gabando-se de fazer primeiro, mais e melhor. Era a tal do “padrão de qualidade”, que, por muito tempo, foi considerada imbatível.

Mas o passar dos anos mostrou que “qualidade no visual da telinha” não é tudo o que sensibiliza o público televisivo. E assim, como naquele “bolerão”, que fez muito sucesso na voz da Simone, a Globo teve de cantar, sobretudo, para o SBT e para a Record: “Contigo aprendi que existem novas e melhores emoções...”. Porque, efetivamente, acabou decidindo abrir mão do tal “padrão de qualidade”, do qual se gabava tanto, pelo menos um pouco, antes que a sua audiência, em certos horários, fosse para o brejo de uma vez por todas.

“E la nave vá”! Todo mundo copiando todo mundo, dependendo de qual delas tenha uma boa idéia primeiro. Bem entendido que, em matéria de televisão, ter uma boa idéia não signifique, necessariamente, ter uma idéia de boa qualidade. Não sei dizer, portanto, quem foi que teve primeiro a idéia desses programas em que, além das atrações de praxe, os convidados discutem e debatem sobre um tema que é o “mote”, o gancho, por assim dizer, de cada uma de suas edições.

Quase toda emissora tem o seu e, dependendo dos convidados e dos recursos da produção, o nível pode ser pior ou melhor. Mas a quase todos, parece ser essencial ter entre os debatedores um psicólogo, sexólogo ou psiquiatra, na composição do painel. Porque o sexo é uma garantia de audiência em quase tudo: da publicidade aos escândalos do Congresso Nacional.

Pois estava eu, num dia desses, pulando de canal em canal à cata de algo bom para assistir, quando ouvi, de passagem, num canal que nem me lembro, a chamada para um desses programas, onde a questão proposta era a seguinte: “Os homens estão com medo das mulheres ou as mulheres é que estão querendo mais dos homens, nos dias atuais?”

Nem por um momento, pensei em assistir ao programa. E isto, por dois motivos. Primeiro, por achar que a questão era muito pobre, para se ocupar, com ela, todo um programa de debates na tevê. E depois, porque, para mim, a resposta a uma provocação tão rasa, pode ser dada de maneira simples, rápida e igualmente rasteira.

As mulheres não estão querendo mais dos homens, nos dias atuais. Estão querendo o mesmo que sempre quiseram. E os homens, não estão propriamente com medo delas. Estão é entendendo melhor, finalmente e depois de milênios de obtusidade nessa relação, aquilo que elas querem...