ÀS MULHERES DO PLANETA

Queria falar da mulher, de sua beleza, de sua fineza, de sua magnitude de mãe e da graça e feminilidade, com que tocam a vida e amenizam as agruras deste mundo. Queria falar dos olhares de Capitu que nos dão e que tanto nos seduzem.

Queria falar dos amores que com que elas vivemos e por quem escrevemos versos ou desbravamos mundos. Mas o que vem a mente não são as alegrias, nem grandezas que deveriam saltar-nos aos olhos neste dia, que devíamos celebrar as parceiras, as filhas, as donas de casa, as moças sonhadoras, as belas, as frívolas, as sem sal ou com pimenta demais, as sábias, as arquitetas do cotidiano e do lar, as meninas que brincam de bonecas, neste mundo insano e cruel. Todas elas guerreiras das sutilezas, todas maravilhosamente importantes e doces, ou se me permite o veio poético, docemente importantes.

Mas o que vem à minha mente, todavia, são as mutiladas em seus sonhos pelo malogro da esperança, as que sofrem em silencio a violência entre quatro paredes, as que carregam doenças transmitidas por seus maridos infiéis, as que lutam com todas as forças (e são tão poucas) para manter a família unida, engolindo toda sorte de humilhações, mas que mesmo assim lutam por seus amores, por seus filhos, por seus sonhos.

Vem à mente as que fazem malabarismos para esticar a renda doméstica tão pouca, as que fazem rezas para a vida melhorar, que torcem por seus filhos, por seus pais, que humildemente pedem apenas saúde quando falam com Deus. Que tiram de sua própria boca para dar ao filho, o sustento que julga imprescindível, e o é, para seu crescimento e saúde.

Vem à mente, as que se afligem por seus filhos, desumanizados pela miséria que cometem violências, mas que continuam seus filhos e assim o serão para sempre. Vem a minha mente, as que hoje mesmo, visitam as penitenciarias e que anseiam pela liberdade e redenção dos mesmos. Temem e choram por seu futuro, porque o queria como ensinara, com progressos materiais, espirituais e cheios de fé no futuro. Penso nas que choram ao lado do filho doente, os velam e nunca desistem e dão-lhe força (nunca duvidem da força de uma mãe ) e sua fé os cura.

Vem à mente, as que vivem com tão pouco, que se alegram por tão pouco e a vezes ,quando não sempre, isto também lhes é negado. Penso nas suas lágrimas, tantas vezes disfarçadas e enxugadas nos panos de fogão. Penso nos seus medos. ( e são tantos os perigos e são tantos os seus medos).

Penso nas moças estupradas, pelos animais masculinos, que provocam danos físicos e psicológicos, muitas vezes irreversíveis. Penso na menina de nove anos estuprada pelo padrasto no que deveria ser, o aconchego do lar. Penso na covardia destes homens. No dia de hoje, revolta-me pertencer a sua espécie.

Penso em Isabella, aquele anjo morto, de forma tão abominável pelo, que tudo indica, pelo próprio pai.

Penso nos horrores que esta pequena e futura mulher sentiu. Penso nos seus sonhos, que certamente não eram poucos, que foram interrompidos pela violência que grassa no mundo. Quem devolverá os sonhos de Isabella?

Penso no dia de hoje, nas mulheres, vítimas da escuridão humana, que são mutiladas em seus desejos legítimos, pelos rigores e estreitezas das seitas obscuras que dominam muitos povos do planeta. Quando tudo que precisam é de liberdade e ar para que voem com seus sonhos, qualquer que vier a ser os seus destinos, deveriam ser o que procuram e não o que lhes é imposto.

Sinto amigos, amigas, mas hoje estou um pouco para baixo, depressivo, quando deveria estar contente.

Mesmo assim quero saudar as mulheres, com todo amor que carrego pelos seres vivos deste planeta, em especial a elas, a quem tenho cantado em verso e prosa, porém que por mais que tenha me esforçado, os mesmos nunca estiveram à altura do merecimento delas.

Um beijo a todas e que Deus apresse-se logo com o futuro que, sei, lhe és reservado neste planeta, por ora, sem sentido.

Celio Govedice
Enviado por Celio Govedice em 08/03/2009
Reeditado em 08/03/2009
Código do texto: T1475836
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