DIRETO E OBJETIVO, COMO O JAPONÊS...

Se existe uma coisa que não se pode deixar de admirar, é a capacidade que o povo norte-americano tem de mobilizar-se e organizar-se, em associações de todo gênero e natureza. Por tudo e por nada aquela gente dos Estados Unidos funda logo uma associação de qualquer coisa e, a reboque disto, promove torneios, campeonatos, olimpíadas e convenções, envolvendo os associados, suas famílias e seus amigos.

Os gringos não têm medo do ridículo, nem mesmo quando fundam associações e realizam torneios como, por exemplo, o dos “Criadores de Rãs Saltadoras”, o dos “Quebradores de Pedra a Cabeçadas”, o dos “Gritadores” (é estranho, mas é verdade: um torneio para ver quem consegue dar o grito mais alto), o de “Equilíbrio sobre Troncos” (coisa lá dos madeireiros)... Para citar, apenas, alguns deles. Só não vi, ainda, nenhum de “Cuspe à Distância”, que era uma brincadeira muito comum, nos tempos de criança. Até agora, pelo menos, não vi.

Tenho assistido, de quando em quando, em canais diversos, um sem número de reportagens sobre essas patacoadas e sobre outras manifestações do “surrealismo”, que permeia o mencionado "american way of life".

Num outro artigo, cheguei até a comentar, certa vez, acerca de uma matéria que assisti num desses canais, sobre a convenção de uma Associação que reunia "gente miúda", que é como eles se referem, eufemisticamente, aos portadores da acondroplasia ou nanismo, como é mais conhecida.

Neste programa, tinha corrida de saco (de pipoca, naturalmente), futebol de grama (com bola de ping-pong), natação (na banheira) e corrida com ovo (pois é claro que nenhum anão iria tirar os ovos para correr). Uma gracinha, para os telespectadores brasileiros, que não perdem essa mania de achar que um portador de nanismo deve sempre ser tratado como criança. O que os deixa, aliás, muito irritados. E com toda razão!

Pois bem! Dentro dessa mesma linha de programação, fui surpreendido, certa vez, com uma reportagem do conhecido programa 60 Minutos, sobre as atividades de um grupo, nos Estados Unidos, chamado “Exodus”, cuja proposta é a de — pasmem! — recuperar os homossexuais.

A pergunta que eu me fiz naquele momento, foi: mas recuperar do que? Na verdade, para um grupo que se propõe a ajudar os gays, pareceu-me que o assunto era tratado de uma forma extremamente preconceituosa. Como se o homossexualismo fosse uma doença, um vício ou uma simples falta de vergonha. E não uma opção sexual como outra qualquer.

Não quero entrar na discussão de mérito, nunca fiz nenhuma leitura especial sobre o assunto, mas, até onde eu posso compreender, "recuperar" um gay, assemelha-se a recuperar alguém de ser preto, latino ou asiático. O que é absolutamente impossível! O que talvez seja possível é manter sob controle o impulso sexual do indivíduo. Mas isto, também é possível fazer com quem tende a outras opções sexuais. E daí?

O próprio programa só conseguiu entrevistar um dos “assistidos” pela associação Exodus que se dizia recuperado. E uns três ou quatro, que confessaram terem tido uma “recaída horrorosa”! Convenhamos que não seja uma estatística convincente, para quem pretende liderar uma emigração em massa (que é o próprio sentido da palavra êxodo).

Por outro lado, se há uma coisa que eu abomino é qualquer tipo de patrulhamento: do regime alimentar, da opção política ou sexual, das convicções religiosas e assim por diante. As opções de uma pessoa, a meu ver, só podem e só devem ser “patrulhadas”, por assim dizer, quando tangenciam a transgressão a certas normas de conduta social. Notadamente, quando colidem com o direito, a liberdade e a privacidade dos outros. Ou com a paz social, como um todo. Exemplifico: se um padre ou ministro de qualquer outra igreja é homossexual, o problema é dele e, no máximo, da sua congregação. Mas passa a ser de toda a sociedade e dos seus mecanismos de controle, se ele for pedófilo.

Refletindo sobre o assunto, concluí que, “homossexual recuperado” prá valer, só mesmo aquele japonês, que resolveu "mudar de ramo" e, para que todos tomassem conhecimento de sua decisão, evitando futuras situações embaraçosas, comprou um espaço no horário nobre da tevê, em sua cidade. E quando a câmera abriu o foco sobre ele, foi assim direto e objetivo:

— Negócio é o seguinte: quem “corocô, corocô”! Quem não “corocô”, não “coroca” mais!

Uma piadinha velha, mas sempre boa, para exemplificar o assunto...