Na "internet", ninguém é de ninguém e tudo é de todos

Romeu Prisco

Escrevo porque gosto e por necessidade. Necessidade de expor as minhas idéias, manifestar meu pensamento e demonstrar o meu talento, este, claro é, se algum tiver. Destarte, nada mais justo, legal e natural, que os textos por mim produzidos, quando publicados, tanto os considerados de boa qualidade, quanto os considerados de má qualidade, sejam acompanhados da minha assinatura, ou, mais precisamente, tenham seus direitos autorais sempre respeitados.

Todavia, não é assim que funciona na "internet", principalmente quando um texto nela divulgado apresenta boa qualidade. As chances de ser plagiado, apropriado de forma indevida, clonado, surrupiado ou, mesmo, de ter o nome do seu autor simplesmente omitido, são enormes.

Pequena parcela repassa textos omitindo o nome do autor, mas, fazendo a ressalva de que o desconhece. Desta parcela pode-se dizer que age bem intencionada. Contudo, mais bem intencionado age quem não repassa textos dos chamados "autores desconhecidos".

Grande parcela repassa textos omitindo o nome do autor, sem fazer qualquer ressalva. Esta parcela, se questionada, alega assim agir por ignorância, o que não serve de desculpa.

A outra grande parcela, que repassa textos omitindo o nome do autor, sem fazer qualquer ressalva, não age por ignorância, mas, sim, para dar a entender que o texto repassado é de sua autoria. Esta parcela, se questionada, não responde, ou, quando responde, se desmancha em desculpas esfarrapadas.

Entretanto, uma derradeira parcela, de todas a maior, repassa textos praticando plágio, ou apropriação indébita, ou clonagem, ou furto, assim agindo, obviamente, de má fé e ciente da impunidade. Esta parcela, se questionada, não responde, ou, quando responde, ainda tem a cara-de-pau de se considerar ofendida e magoada, como se fosse a vítima !

Todas as situações acima expostas, mormente a última, já ocorreram com textos de minha autoria, desde artigos, crônicas, poemas, paródias e até contos. A situação de maior repercussão e duração se deu com o meu texto intitulado "De mãe para mãe", que, inclusive, foi parar em emissoras de rádio, como a Band e a Jovem Pan. Na primeira emissora, quando anunciada a sua leitura, o meu nome só veio à tona graças à rápida intervenção de um querido amigo, que se apressou em informar àquela rádio a verdadeira autoria da obra. No mais, participaram da pirataria desse texto pessoas de todas as classes sociais e profissionais, entre elas até advogados de renome.

Esse drama de candidatos a escritores, como eu, chega a ser de somenos importância na "internet", se comparados a outros mais graves, cometidos por "hackers", pedófilos, traficantes de drogas, atraidores de jovens moças ingênuas e assemelhados. É o preço do "progresso" e da "globalização". Se antigamente, para os escritores, era bem mais difícil a publicação dos seus textos, a pirataria era bem mais rara, independentemente de se tratar de obra registrada, que, no frigir dos ovos, só serve para provar anterioridade e reclamar indenização de direitos, em casos de litígio judicial. Nos casos de litígio ético e moral, não tem nenhuma utilidade.

Finalmente, ainda caberia a colocação do mesmo drama perante outras situações, como aquela do físico britânico Tim Barners-Lee, idealizador da "world wide web" (www), que, segundo notícia publicada na imprensa virtual (UOL-BBCBRASIL.COM), se disse vítima de fraude na "internet", ao adquirir um presente de Natal em loja "online" falsa, que não lhe entregou a mercadoria pelo correio, conforme prometera !

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N.A.: Motivou-me a redação deste texto a pirataria de outra obra minha, publicada em 24.03. 2005, que chegou ao meu conhecimento recentemente e cujo título se relaciona com "declaração de dependentes no IRPF".

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