O VATICANO, A SUÉCIA E HOLLYWOOD

Já faz bastante tempo que eu deixei de me juntar a milhares de outros telespectadores, para assistir à entrega do “Oscar”, que acontece ao início de cada ano. Porque, além dos filmes e da decoração, a festa é sempre a mesma coisa! E quem viu uma edição, viu todas. Que coisinha maçante! Aliás, só não assiste mesmo quem não quer, porque a tevê mostra ao vivo e, depois, torna a mostrar, em reprises, reportagens e programas condensados. Até que ninguém mais aguente aquilo.

Eu deixei de assistir, num período em que a Whoopy Goldberg ainda era a “queridinha de Hollywood” e, todo ano, lá estava ela como “mestre de cerimônias”, fazendo a apresentação do espetáculo, com a mesma feiura, os mesmos trejeitos e as mesmas piadas sem graça, enquanto a plateia da “grande encenação” fazia de conta que quase morria de tanto dar risada. Sinceramente, ainda estou por descobrir se aquilo era a simples vontade de agradar a apresentadora, o interesse de estar bem com os promotores do show ou, apenas, o insípido senso de humor norte-americano. Mas desconfio que fossem as três coisas ao mesmo tempo.

Há quem goste, com certeza. Mas, para o meu senso de humor, aquela mulherzinha não tem graça nenhuma! Mesmo que tenha tido a sorte ou a oportunidade de fazer alguns filmes, cujo roteiro era engraçado. E a pior coisa que existe é alguém que se considera engraçado, quando não é. O que julgo ser o caso dela. No entanto, isto é um problema de preferência pessoal.

Além disso, há o fato de que a dita cuja é “feia que nem ordem de prisão”! Um verdadeiro “amuleto contra a luxúria”, como gostava de dizer a minha mãe. Uma figurinha agreste de se ver. Tanto é, que até andou circulando uma piadinha por aí, em que se dizia que a semelhança existente entre praticar alpinismo ou receber um sexo oral da Whoopy Goldberg, é que, em ambos os casos, o melhor é não olhar para baixo. Porque o risco de “despencar” é grande...

Mas deixando a Goldberg de lado e tratando, apenas, dessa instituição hollywoodiana chamada de “Oscar”, considero que uma das melhores definições dessa “premiação” foi dada pelo Rubens Ewald Filho, certa vez, em seu programa na HBO: “É uma festa que fazem, para mostrar ao mundo como eles são maravilhosos”. De fato, a entrega do “Oscar” é uma incrível “jogada de marketing”, que a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas desenvolveu, para promover o que se produz em Hollywood mesmo. E na passagem desse cometa também sobra, às vezes, alguma “cintilação” para o cinema de outros países. Preferivelmente, o europeu.

Mas seria uma ingenuidade pensar que ali existem surpresas ou repentes. Tudo é profissional demais, para que se acredite que alguma coisa — inclusive os “cacos” dos apresentadores — não esteja previamente constando do “script” do espetáculo. Só que como todo mundo está à cata de projeção e a entrega do prêmio é um momento excepcional para isto, as pessoas de lá fingem que estão acreditando nos improvisos. E as de cá, às vezes, acreditam mesmo.

A esperança de alguns por uma eventual premiação de um filme brasileiro, como há alguns anos ocorreu com o “Central do Brasil”, por exemplo, é bem a prova dessa ingenuidade. Pensando seriamente, a Fernanda Montenegro e o Walter Salles Junior podem considerar-se prá lá de premiados só com a indicação, já que — e não adianta torcer o nariz — o simples fato de concorrer a um prêmio desses, gostemos ou não gostemos, influi (como, de fato, influiu) nos resultados comerciais do filme. Mas ganhar o “Oscar”, isto, eles não ganhariam jamais! Porque, sob a ótica da Academia de Cinema, não adianta valorizar uma obra que o grande mercado cinematográfico norte-americano não pretende comprar.

Ao final de tudo, o que devemos concluir é que, quanto a três antigos “sonhos”, que passeiam pelo imaginário coletivo do ufanismo nacional, esta “gente bronzeada” do Brasil pode ter muita esperança, mas nunca sentirá o gosto de ver acontecer: a “canonização” do Padre José de Anchieta, o “Prêmio Nobel da Paz” ser atribuído ao Chico Xavier — ainda que “post-mortem” — e o “Oscar” ser concedido a um filme brasileiro.

Porque, num certo sentido e mesmo que muita gente nem perceba, quando se trata desses espetáculos grandiloquentes, há algumas semelhanças entre o Vaticano, a Suécia e Hollywood.