A vida aos trancos e barrancos

A vida é alimentada por sonhos. O sonho de um dia comprar o próprio carro, o sonho de possuir a casa própria, o sonho de casar-se, ter filhos e ser feliz, o sonho da estabilidade no emprego, o sonho de viver bem. Enfim, passamos a maior parte de nossas vidas relembrando o passado e fazendo planos para o futuro. Acredita-se que o amanhã será um dia melhor. Pressionamos o tempo esperando que o dia chegue ao fim. Esperamos anciosamente o final do mês para recebermos, mais uma vez, aquele pequeno salário que nos deixa mais angustiado quando calculamos nossas contas. Este pequeno salário, simplesmente, perdura por uma semana e, novamente, esperamos o próximo mês.

Vivemos grande parte da nossa vida com este dilema. Ignoramos ou adiamos o presente e protelamos nossas conquistas para algum dia no futuro. E, este dia, nunca chega! Colocamos na cabeça que só seremos realmente felizes quando conseguirmos tudo aquilo que desejamos.

Queremos mudar nossa vida, mas nunca damos o primeiro passo. Nos acomodamos com um emprego que ganhamos pouco, nos calamos diante das injustiças com medo de perder um pequeno posto na empresa. Temos medo de enfrentar um desafio, ficamos sempre com um frio na barriga quando a empresa que trabalhamos está fazendo cortes de gastos. Jamais pensamos que esta poderia ser a oportunidade de inovar e crescer em um novo emprego. Jamais vemos nossas fraquezas como algo bom para aprendermos a viver melhor, ou para sair do berço esplêndido.

Simplesmente, acontece que o agora está ficando pra depois. Adiamos nossos sonhos diariamente. A vida passa por nós enquanto vivemos de passado e futuro. Temos medo de chegar pro nosso chefe e pedir um aumento de salário. Temos medo de inovar! Nunca temos tempo para fazer um curso de aperfeiçoamento, esperamos o momento que tivermos dinheiro de sobra, ou quando os filhos estiverem grandes, ou nunca mais. É verdade que sempre dizemos que estudar é coisa pra gente nova. Quando um amigo nos convida a ir à igreja dizemos que no momento estamos ocupados, mas que iremos no próximo final de semana.

Quando estamos com todo fôlego as empresas não nos contrata porque não temos experiência, se já estamos experiente as empresas não nos querem porque não temos mais a capacidade de inovar. Dessa forma, a vida voa por entre os dedos ou nos sonhos que são esquecidos ou adiados.

Não conseguimos mais acordar e observar a beleza do sol da manhã. O domingo se torna o pior dia da semana, pois, é aquele que antecede a segunda-feira. E, mais um dia vamos conviver com aquele chefe chato, com aquele emprego monótono, com aquela situação que só aguentamos porque precisamos sobreviver. O viver cedeu lugar ao sobreviver. Nossa auto-estima permanece alta só no nome. Cada amanhecer passa a ser uma tortura inevitável. Nossos finais de semana são recheados daqueles programas de TV sem graça, o dinheiro jamais sobra para irmos com a família almoçar num restaurante, pra fazer um programa diferente com o filho. Assim passamos pela vida, ou, sei lá, a vida passa por nós.

Quando teremos tempo para aquele churrasco que há muito tempo vamos adiando? Quando vai sobrar dinheiro para fazermos aquela viagem que sempre sonhamos? Quantos finais de semana vamos ficar reclamando dentro de casa por falta disso ou daquilo? É hora de mudarmos o rumo de nossas vidas. Devemos se tornar lideres autênticos, desafiadores da realidade. Cada dia é repleto de bondades, nós é que não conseguimos observá-las. Estamos tão vidrados nos problemas que esquecemos que eles são inevitáveis. Uma equipe em que não há conflitos não sabe aproveitar dos momentos para desenvolver potencialidades. Harmonia não é sinônimo de bem-estar. Às vezes calamos com medo de repressões. Às vezes vamos contra nossos próprios princípios em detrimento de coisas que jamais acreditamos. Acovardamos-nos diante de uma realidade que pensamos ser imutável. Esquecemos que ela é um simples produto de nossas ações. É assim que vamos sobrevivendo aos trancos e barrancos.