Lógica, o freio da imaginação

O termo “imaginação” refere-se à potencialidade da mente humana para construir, criar, inventar e relacionar imagens, conscientes ou inconscientes, apegadas à realidade ou não.

Esse tipo de capacidade está na base, por exemplo, do exercício da saudável criatividade artística, produtora das obras de arte que tanto nos encanta. Assim, lançamos mão da fantasia para agirmos criativamente no mundo, posto que com ela representamos coisas, seres e situações não imediatamente presentes à concretude de nossa percepção sensorial, daquilo que não existe no mundo real em que habitamos.

No entanto, o uso da imaginação nem sempre é saudável. Pode ser patológico. Daí os termos “fantasma” e “fantástico” quando nossas representações brotam alheias à realidade.

Ora, a imaginação doentia pode ser alimentada pelo senso comum, tanto quanto pelo mito, filosofia, ciência, tecnologia, artes e teologia. Dada essa possibilidade, o ato imaginativo deve se submeter ao juízo criterioso da razão, tal como a lógica possibilita.

Tem lógica a afirmação de que seres sobrenaturais ordenam pais a sacrificarem os próprios filhos? Essas criaturas que, não tendo escolhido o nascimento, também não tem chance de escolha sobre a própria morte? Claro que não. Isso é absurdo. No entanto, se a fantasia da pessoa passível de crer nisso for alimentada seguidamente, de maneira fanática, a-crítica e dogmática, como nos processos de lavagem cerebral, a possibilidade de essa pessoa confundir o real com o irreal torna-se um perigo fático.

Um caminho possível para se evitar essa aberração simbólica é a lógica, o contrapeso e o freio do pensar imaginativo que desembesta rumo a irrealidades absurdas.

A quem se dirige à mente humana cabe, pois, o bom senso de apresentar raciocínios lógicos que possam possibilitar a condução dos processos por meio dos quais seres humanos se entregam à criação e mobilização de representações simbólicas.

Uma delas, por exemplo, é a fantasia da verdade. Ela pode conduzir o sujeito que a alimenta a se entregar totalmente ao que julga verdadeiro. Por isso, torna-se uma imaginação patológica, posto que se compreende como portadora de uma verdade que o resto do mundo não possui, o qual passa a merecer o alijamento total.

Uma vida sem imaginação talvez não mereça ser vivida. Mas imaginação, bem entendido, na dose certa. Assim como o remédio ministrado na dose errada se torna veneno, a imaginação fantástica, desprovida de bom senso lógico, crítico e realístico, também pode levar a pessoa humana a tragédias inomináveis.

Imaginação que robustece a criatividade humana para fazer da vida uma obra de arte, sim; imaginação que se entrega ao irreal alucinado, não.

“Fazedores de consciência” de todos os tipos, com destaque para os religiosos e políticos, são mestres em se aproveitarem de todas as fragilidades humanas, incluindo essa aí do uso inadequado da faculdade da imaginação, que poderia ser sempre sadia. Quando não visam a isso, incorrem em um tipo de manipulação abjeta, na qual a ética do respeito ao outro e à dignidade humana não tem lugar. Para esse tipo de coisa a sociedade não poderia se calar.