A dor da saudade nos faz poeta

Aos quarenta e sete anos de idade, quando eu menos esperava. Uma surpresa maravilhosa. Descobri que minha mãe também era poeta. De uma única poesia, mas poeta. Ou seria poetisa?

A extraordinária Cecília Meirelles disse: "Não sou alegre nem sou triste, sou poeta", em seu poema “Motivo”, gravado por Fagner.

Acho que tanto faz, porém eu prefiro poeta, soa melhor com o dom da sensibilidade. De voar nas fantasias para viver mais feliz.

Quem me informou sobre essa poesia de mamãe foi a minha irmã, Iris. Ela andava procurando, entre todos os papéis guardados, nas gavetas da “casa da nossa vida”, a Casa de Joca Galego, alguma coisa que dissesse respeito ao nosso passado, para que eu pudesse colocar no livro que estou escrevendo, "Retalhos de uma vida em verso e prosa".

Ela tinha lembrança de já ter visto uma poesia escrita pela minha mãe, e a encontrou. Ligou de imediato para mim e a leu. Foi uma emoção inexplicável. Principalmente porque falava da saudade do meu pai. Achei linda, maravilhosa, e pedi que ela me enviasse por email. Ela escaneou e me enviou.

Quando abri o email, era um manuscrito, com a bonita letra de minha mãe, e eu fiquei ainda mais emocionado.

E não poderia ser diferente, pois era a minha mãe, semi-analfabeta, aos sessenta e quatro anos de idade, escrevendo uma poesia pela dor de ter perdido o seu grande amor. O seu esposo.

Que linda despedida!

Tão bonita que ela o chamou de paizinho, para surpresa de todos os filhos, considerando que, era com ele, que ela se sentia protegida, como qualquer criança se sente perto do seu “herói”.

Eu a imaginei uma Cora Coralina, que só depois de bastante idosa começou a fazer poesias. E me admirei pela simplicidade que ela

usou para se expressar, para falar da dor que sentia, na hora da morte do seu ente tão querido.

A morte é um processo natural da vida, entretanto a gente jamais consegue aceitá-la sem sofrer. E escrever na hora da despedida, não é fácil. Não é pra todo mundo. É somente pra quem é forte. Muito forte! E isso a minha mãe sempre foi.

Eu te amo mamãe. Parabéns pela grande mulher que você é. Uma poesia tão bonita, tão sensível e verdadeira só poderia ter saído de você, como saíram seus dez filhos.

MEU ADORADO PAIZINHO

“Hoje partiu para espiritualidade,

o meu adorado paizinho.

Mais uma separação momentânea,

que me traz muita dor.

Foi um pai perfeito.

Esposo exemplar,

homem profundamente honesto,

humano,

amigo dos pobres”.

Maria José Gaião da Costa

Condado, 27 de setembro de 1998