A moda agora é ler na tela do computador, escrever com o teclado e virar a página com o mouse.

O quadro negro, a caneta e os livros da tradicional sala de aula estão no rumo da aposentadoria. A moda agora é ler na tela do computador, escrever com o teclado e virar a página com o mouse. Criado no Brasil há apenas uma década, o ensino a distância caminha para ultrapassar, ainda este ano, a marca histórica de 1 milhão de alunos matriculados em universidades públicas e particulares. E a conquista não é só estatística, mas também de qualidade. O último Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade), o antigo Provão, feito pelo Ministério da Educação (MEC), mostrou que os alunos da modalidade virtual tiveram melhores resultados que os da presencial em 53% dos cursos analisados.

A explosão digital atingiu em cheio Minas Gerais. O estado, que alcançou a marca de 45,5 mil alunos de ensino a distância em 2007, ocupa o terceiro lugar no ranking brasileiro em número de instituições com oferta dessa modalidade de cursos superiores e de pós-graduação. Com 22 universidades reconhecidas pelo MEC, os mineiros estão atrás apenas de São Paulo e Rio Grande do Sul. Os dados são da Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed), que traçou uma radiografia da nova tendência do ensino no país. Com base em registros do MEC e do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), a Abed comparou a metodologia, a estrutura pedagógica e o perfil de professores e alunos das 257 entidades credenciadas pelo ministério para oferecer essa modalidade de estudo.

De acordo com o secretário de Educação a Distância do MEC, Carlos Eduardo Bielschowsky, três fatores explicam o salto do conhecimento virtual. "Essa é uma tendência mundial por dar mais flexibilidade de horário ao aluno, que pode conciliar melhor estudo, trabalho e outras atividades. Além disso, o método respeita mais a autonomia do estudante, que monta sua própria rotina e constrói seu aprendizado com mais liberdade. Por último, uma das razões do sucesso do ensino a distância tem sido a qualidade, que pode ser comprovada em testes recentes, como o Enade", diz.

Mas o secretário alerta para alguns cuidados a serem tomados pelos interessados. O primeiro é o credenciamento da universidade pelo MEC, que exige a realização de provas presenciais que tenham maior peso na nota final do que qualquer tipo de avaliação a distância e ainda a manutenção de um pólo da instituição, com toda a infra-estrutura física, para servir de apoio ao estudante matriculado. "Assim como há cursos de má qualidade na educação tradicional, infelizmente também há exemplos ruins no ensino a distância. O principal critério a ser observado é a qualidade do corpo docente, pois bons professores costumam garantir a excelência da universidade", acrescenta Bielschowsky. A lista de instituições credenciadas pode ser consultada no site www.mec.gov.br

Rotina

Para conseguir conciliar os estudos com uma rotina de 10 horas de trabalho por dia, somadas em dois estágios pela manhã e à tarde, o aluno do 6º período de Ciências Contábeis da PUC Minas, Zorahg Tavares Farias, de 24 anos, pediu transferência para o curso virtual há um ano. "A maior vantagem é que agora posso fazer o meu horário. Aproveito os intervalos do serviço e as horas em casa à noite para adiantar os trabalhos e ler a matéria. Mas confesso que achei o curso a distância mais difícil que o presencial, pois exige mais dedicação, estudo freqüente, disciplina e vontade de aprender porque não há um professor sempre por perto", conta Zorahg.

Além da liberdade de horários, a opção da estudante de administração Deisiane Franco, de 20, pelo ensino virtual mexeu no bolso. "Sempre sonhei em fazer faculdade, mas não tinha condições de pagar R$ 700 de mensalidade. Foi então que procurei um curso a distância e descobri que posso ter o diploma pagando menos da metade desse valor. A ressalva que eu faço é quanto à cobrança, pois as provas são muito difíceis. Acredito que a exigência é maior porque as avaliações são a única forma de o professor medir nosso conhecimento e interesse, já que não temos aquele contato diário", diz Deisiane, aluna da Faculdade de Estudos Administrativos de Minas Gerais (Fead).

O curso escolhido por ela é um dos que apresentaram melhor rendimento no último Enade, em comparação com as disciplinas presenciais. Além de administração, foram bem-sucedidos no exame os cursos a distância de biologia, ciências sociais, física, matemática, pedagogia e turismo. Segundo a Secretaria de Educação a Distância do MEC, diante dos bons resultados, uma das tendências para os próximos anos nessa área é a ampliação de disciplinas virtuais dentro dos cursos presenciais. Para esses casos, o MEC fiscaliza a obrigatoriedade de manter todas as disciplinas de laboratórios na modalidade tradicional e ainda exige que as atividades a distância não ultrapassem o limite máximo de 20% da carga horária.

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