UMA PESSOA MUITO ESPECIAL

UMA PESSOA MUITO ESPECIAL

Era madrugada do verão de 1973. O velho Mercedes com sua pesada carga seguia firme pela Rodovia Parigot de Souza, ainda sem asfalto. Transportava suínos com destino ao Frigorífico Wilson de Ponta Grossa. Durante o dia o calor era muito intenso, por isso viajar à noite era a solução. O motorista, o jovem Bôrtolo, de 20 anos, sabia que assim não corria risco de ter baixa em sua preciosa carga. Dirigia feliz, ouvindo rádio e fazendo planos para o dia que se aproximava. Descarregaria logo de manhã e retornaria à sua cidade. Levou um susto quando, um estalo de aço se partindo interrompeu seus pensamentos e a viagem. A ponta de eixo se quebrara! "Quando amanhecer, terei que descarregar a porcada e conseguir um lugar seguro e fresco para alojá-la, caso contrário os animais morrerão", pensou o jovem, sem perder a calma. O que ele não sabia é que aquela não seria uma noite comum. Logo surgiram luzes. Um veículo se aproximava em sentido contrário. Fez sinal para parar, e viu-se diante de um caminhoneiro sorridente, perguntando o que acontecera e como poderia ajudar. Depois das explicações, Bôrtolo quis saber se ele aceitaria fazer um frete para levar a porcada ao destino. O estranho respondeu que faria o trabalho com prazer, mas que infelizmente seu caminhão, embora da mesma marca e modelo, tinha menor capacidade de carga por não ser trucado. E para sua surpresa, acrescentou: __ Vamos fazer o seguinte! Passamos a ponta de eixo do meu caminhão para o seu, e vou com você a Ponta Grossa. Na volta a gente traz uma nova peça, conserta o meu caminhão e, tudo ficará resolvido. O que você acha da minha idéia?...

... Antes do amanhecer o trucão roncava novamente, seguindo seu destino, deixando para trás o caminhão do novo amigo, trancado à espera de uma ponta de eixo. Quando o sol raiou, pararam no primeiro posto da rodovia, e tomando o café da manhã, tinham a impressão de serem velhos amigos. Era a magia de um tempo em que a vida não tinha pressa e os homens, em sua grande maioria, faziam da solidariedade um preceito de vida.

Lázaro Alves

Artigo publicado em Janeiro de 2001